É Dezembro. E vem chegando o Natal…

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Com o Advento damo-nos conta de que vem chegando o Natal. Acostumados aos ciclos que, na velocidade ascendente das mudanças, parecem menores, vem-nos também o risco de não prepará-lo convenientemente, considerando-o uma cópia do Natal que se viveu no ano passado. É preciso colocar os meios para que este não seja mais um Natal, mas que seja original.

 

Ao longo dos anos, de forma cada vez mais intensa, o fator econômico se insere nas festas religiosas. Esta influência faz com que o Natal vá perdendo o seu real sentido e se transforme em coisa que não diz muito respeito ao seu sentido básico. Essas mudanças podem ser consideradas interessantes e benéficas ao convívio social, mas o fato é que passam longe do real significado do Natal cristão.

 

Contemplando os Natais à nossa volta é possível identificar alguns padrões. Reflito sobre três entre eles me parecem principais. São modelos da celebração da celebração natalina baseados na Emoção, no Banquete e no Consumo. Desses temas iniciais a economia, a cultura e o jeito brasileiro de celebrar acabam por criar inúmeras variações e combinações.

 

O Natal emoção. O Natal que se configura como o mais adequado para se deixar aflorar os melhores sentimentos. Transforma-se no tempo do coração. O dia no qual a emoção que ficou guardada durante o ano todo, devido ao modo de viver tão corrido e exigente, pode acontecer de maneira livre e sem censuras. Faz-se essa festa como ocasião propícia para se buscar apenas estar junto da família e dos amigos, tocados pelas apresentações de histórias de superação e caridosas, frases de efeito e poemas tristes. O momento especial para se buscar “fazer algo pelo outro”. Não como aquilo que se busque pelo chamado da justiça, mas como esmola para se aplacar a consciência. Isto tudo é muito bom e sem dúvida faz muito bem, desde que não se configure numa prática efêmera que não seja deixada de lado uma semana depois do dia 25, na ressaca da festa de Ano Novo.

 

O Natal banquete. Este se constitui de muita comida e bebida. É a hora de tratar bem o corpo dando a ele tudo que lhe foi negado pelas dietas dos meses anteriores. É o Natal que foi feito para que todos possam se refestelar de inúmeras comidas e bebidas. Reúne-se principalmente para a refeição especial e vai-se embora frustrados quando o cardápio não superou as expectativas. Quando se celebra algo importante se come e se bebe e a Eucaristia é o melhor exemplo disto. A desordem está no excesso e na perda do sentido da festa. Não são poucas as vezes, em que este sentido equivocado da celebração natalina acaba por provocar alienação e o esquecimento dos que nada têm, ou mesmo daqueles que só ganham o acesso a estas comidas e bebidas por ocasião do Natal, fazendo com que eles venham a ter uma visão errada de quem e do que é que se está celebrando naquela Noite.

 

O Natal consumo. É o Natal do Shopping Center enfeitado e com gente seguindo em procissão pelos seus corredores checando listas de presente intermináveis. Listagens essas que acabam sendo geradoras de frustrações, quando se é impossível atendê-las, ou de arrependimentos, quando se contraem dívidas muitas vezes impagáveis. É a festa de Natal que pode se tornar, em muitos casos, simples escambo. Mera transação afetiva embrulhada em papel de presente de loja a mostrar sua conotação comercial. Nela o que importa é “não ficar no prejuízo”. É receber de volta, no mínimo, aquilo que se pagou e se entregou de presente. Natal de se comparar o valor do que se ofereceu com o pacote que se leva para casa. Uso o verbo entregar, porque dar não é ação que costuma acontecer nesse tipo de Natal bem comum em ambientes organizacionais, grupos de amigos de escolas e outros afins. O Natal consumo é aquele que, seguindo a ordem econômica impregnada em nossos modos de ver o mundo, transforma-se aos poucos em investimento que se faz. Feliz daquele que investiu 100 e recebeu 120. Pobre do outro que jogou na ‘bolsa do natal’ a mesma quantia e leva para casa 80. Repare como em muitos desses natais já se chega a estipular o valor mínimo do “presente”. O problema com esse tipo de Natal seria amenizado, caso houvesse, além da exigência de se dar coisas, também o convite para, junto do que é levado para o outro, também o “se dar” como presença ao outro.

 

Falar da originalidade do Natal não quer dizer que ele acontecerá ainda com mais abraços e lágrimas, pirotecnias e novidades de mil luzes coloridas a piscar, ou mesmo com novas receitas de deliciosas comidas. O Natal verdadeiro une, reúne e nos faz mais fraternos. Natal original é aquele no qual se celebra simplesmente o nascimento de Jesus. A festa do Menino Deus que vem até nós para que nos transfiguremos e criemos, pelo menos à volta, um mundo melhor com mais alimento, carinho, cuidado e vida digna para todos os homens de boa vontade.

 

Fernando Cyrino

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