Documentário investiga ecletismo cultural do músico Jorge Mautner

Um dos principais gurus underground do núcleo tropicalista, o poeta, escritor, músico e compositor carioca Jorge Mautner ganha, finalmente, um filme todo para ele em “Jorge Mautner – O Filho do Holocausto”, já premiado em vários festivais em todo o país.

Tomando emprestado no subtítulo o nome da biografia do próprio Mautner (“O Filho do Holocausto”), o filme de Pedro Bial e Heitor d’Alincourt celebra a mistura cultural que deu origem a uma figura rara na cena cultural brasileira.

Filho de pai judeu e mãe iugoslava católica, fugitivos do nazismo, ele nasceu no Rio de Janeiro em 1941, cidade onde sua primeira babá, Lúcia, ainda na infância o apresentou ao candomblé.

A música que tanta importância teria em sua biografia lhe foi apresentada um pouco mais tarde, quando sua mãe se separou do pai e casou novamente, agora com o violinista Henri Muller, mudando-se com o filho para São Paulo. Foi Muller, aliás, quem ensinou a Mautner a tocar violino.

Fazendo justiça a um personagem tão heterodoxo, percorre-se momentos selecionados de sua vida movimentada, como sua expulsão do tradicional colégio Dante Alighieri, a escrita do primeiro livro aos 21 anos (“O Deus da Chuva e da Morte”, premiado com o Jabuti), o convite para integrar o Partido Comunista Brasileiro, a prisão pela ditadura, a saída do país e a aproximação de Gilberto Gil e Caetano Veloso durante o exílio dos músicos baianos em Londres.

Além de entremear estes episódios fundamentais na formação de Mautner, o documentário utiliza-se com bastante propriedade de imagens de arquivo raras, referentes à Segunda Guerra Mundial e também um filme feito pelo diretor Frank Capra sobre o nazismo.

A menção ao nazismo, que não é gratuita, pensando-se na trajetória dos pais de Mautner, é bastante coerente também com a crença profunda do artista de que a intensa mistura racial e cultural do Brasil é uma espécie de antinazismo por excelência, da qual ele mesmo é uma prova viva.

Não poderia, é claro, faltar a execução de diversas músicas, caso de “Maracatu Atômico”, “Lágrimas Negras”, “Eu Não Peço Desculpas”, “Morre-se Assim”, “Outros Viram” e muitas outras.

Em termos de participações, entre as quais se incluem Gil, Caetano, parceiros como Nelson Jacobina (falecido em maio de 2012), amigos de infância como o artista plástico Aguilar e o professor Ottaviano de Fiore, a mais expressiva é mesmo a da única filha, Amora, que, amorosamente, confronta o pai sobre hábitos inusuais dele com que ela conviveu sua infância, como o de vê-lo andar nu pela casa.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

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