Do MP3 ao streaming: a revolução que popularizou o acesso à música

Se você tem ao menos 30 e poucos anos e já tinha contato com a internet na transição do século 20 para o 21, certamente há de se lembrar do que significou o surgimento do MP3, do Napster e dos tocadores digitais de música. Por outro lado, se você é mais jovem e faz uso frequente de meios como o YouTube ou Spotify, talvez já tenha se perguntado como as pessoas mais velhas poderiam viver sem acesso ao conteúdo musical infinito oferecido por essas ferramentas.

 

Por Fernando Damasceno

Até meados dos anos 1990, o cidadão comum que quisesse ter contato com o disco de determinado artista ou banda precisava recorrer a algum tipo de mídia física (no formato de CD, LP ou K7). Numa era predominantemente analógica, a produção desse material era de responsabilidade das gravadoras, ramo mais lucrativo de uma cadeia produtiva bilionária que se convencionou chamar de indústria fonográfica. Hoje, como se sabe, tudo se digitalizou.

 

O processo de transição para o atual modelo de negócios da indústria fonográfica mundial é o que move o jornalista norte-americano Stephen Witt, autor de Como a Música se Tornou Grátis, publicado no Brasil pela Editora Intrínseca. Por meio de uma rigorosa investigação e de dezenas de entrevistas com personagens-chave dessa verdadeira revolução tecnológica e cultural, o autor faz um relato fundamental para a compreensão da contemporaneidade.

 

Entre esses personagens-chave, três merecem especial destaque: Doug Morris, principal executivo global da Universal Music (companhia que chegou a comercializar cerca de 50% dos discos de todo o Planeta); Dell Glover, trabalhador braçal de uma fábrica de CDs, responsável por piratear cerca de 2 mil obras inéditas e disponibilizá-las na internet; e Karlheinz Brandenburg, considerado o pai do MP3. Todos, em maior ou menor grau de importância, contribuíram para revolucionar a relação entre artistas, produtores musicais, empresários e consumidores.

 

Hoje, ao contrário do que se lê no título do livro, sabe-se que a música não se tornou exatamente grátis. CDs ainda são vendidos, ensaia-se um retorno nostálgico ao velho LP, a Apple Store movimenta mais de US$ 10 bilhões por ano, Spotify e YouTube oferecem versões gratuitas e pagas para disponibilizar seu acervo infinito e é possível até mesmo recorrer a bancos de MP3 para garimpar alguma relíquia a custo zero. A revolução se deu, sobretudo, na massificação de formatos digitais e na disponibilidade de obras disponíveis para download ou via streaming. Entender como chegamos até aqui em tão pouco tempo é ao mesmo tempo assustador e fascinante.

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