A Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Santa Isabel despertou com um trovão. Um grave forte e cheio de vibratos clamando por Conceição, a mulher que nos anos 50 vivia no morro a sonhar com coisas que o morro não tem. Alguns pacientes acordaram, enfermeiros sorriram e os médicos entraram logo depois, aplaudindo o cantor com a boa notícia. A força de Conceição, evocada na UTI de um hospital, era sinal de que Cauby Peixoto, o homem que a canta há quase 60 anos, estava pronto para voltar à luta.
Cauby, 84 anos, passava por uma internação para se recuperar dos descontroles de sua diabete. Mesmo em condições delicadas, cantou no quarto e durante os dias mais tensos de UTI Conceição e Arrastão. Em uma tarde de visitas, virou-se para seu produtor, Thiago Marques, desafiando a natureza dos homens de sua idade e cutucando o destino com vara curta: “Agora, eu quero gravar um disco de bossa nova”. Às 18h de quarta-feira, 20, ele esperava o repórter do jornal O Estado de S.Paulo devidamente paramentado na recepção do Estúdio Sambatá, na Vila Madalena. Havia acabado de colocar as primeiras vozes no disco A Bossa Moderna de Cauby.
A agenda de Cauby Peixoto atropela a de seus produtores. Seus discos se sobrepõem uns aos outros como se o mundo tivesse as horas contadas e seus shows só são suspensos por ordens médicas. Nos últimos dez anos foram oito CDs e três DVDs lançados. E uma temporada no Bar Brahma, prevista para durar um mês, ficou na casa por espetaculares 12 anos.
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