O Senado realizou na última segunda-feira (10) a primeira edição de entrega da Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo.
Foram premiados o cordelista Antônio Francisco Teixeira, o músico Nelson da Rabeca, o produtor cultural Nilson Rodrigues, o ator Pedro Baião, o Museu da Gente Sergipana, e a Câmara Brasileira do Livro (CBL). Também foram homenageados in memoriam o capoeirista Moa do Katendê e os folcloristas Deífilo Gurgel e João Carlos Paixão Cortes.
A comenda foi criada a partir de sugestão da senadora Fátima Bezerra (PT-RN), e objetiva premiar todos os anos artistas e instituições que realizem trabalhos e ações voltadas para a valorização da cultura, folclore e saberes tradicionais do povo brasileiro.
Cultura popular
Também foi homenageada a psicóloga Daliana Cascudo, neta do folclorista Luís da Câmara Cascudo e diretora do Instituto Ludovicus, que preserva e divulga o imenso legado fruto do trabalho de décadas do pesquisador potiguar. Câmara Cascudo publicou mais de 150 obras sobre a cultura popular de nosso país, entre elas Antologia do Folclore Brasileiro, Geografia dos Mitos Brasileiros, Vaqueiros e Cantadores, Lendas Brasileiras e História da Alimentação no Brasil.
— Meu avô detectou que a cultura popular é a base de uma sabedoria ilimitada, porque vem de uma sedimentação de conhecimentos. É uma mistura sempre única de constatações das sociedades no tempo e no espaço, sempre com uma pitada do momento. Todas as outras culturas são acessórias dessa base — explicou Daliana.
Para Fátima, a primeira edição da Comenda também serve como um reconhecimento da “obra monumental de Cascudo”.
— Para mim é uma emoção única, e agradeço o presidente do Senado, Eunício Oliveira, por ter atuado na efetivação desse incentivo a quem batalha pela valorização cultural. Câmara Cascudo tornou-se imortal, porque os pesquisadores de hoje analisam seu legado como o mais vasto trabalho de documentação de micro-realidades de nossa população — detalhou.
O senador José Agripino (DEM-RN) também homenageou seu conterrâneo, a quem chamou de “o mais brilhante homem de letras da história do Rio Grande do Norte”.
— Quando fui prefeito de Natal, entre 1979 e 1982, o visitava todos os anos no dia do aniversário dele, 30 de dezembro. A contribuição de Câmara Cascudo para a cultura potiguar é inestimável, mas seu impacto nacional e internacional também é único, por isso o reconhecimento a ele só aumenta com o passar do tempo — afirmou.
Ministério da Cultura
Durante a sessão, homenageados e senadores ressaltaram a relevância que possui a cultura para que uma nação seja forte, educada, soberana e justa. Nilson Rodrigues, ao receber a comenda, pediu a união da classe artística contra o fechamento do Ministério da Cultura anunciado pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro.
— A pluralidade e diversidade da nossa cultura, com dezenas de milhares de produtores em todas as regiões, é algo que nos distingue e valoriza. Extinguir o ministério do setor é algo preocupante e grave. Não existe nação desenvolvida que não adote uma política cultural consistente. Espero que o Senado se junte à mobilização artística contra o fechamento da pasta, porque cultura civiliza. Quando se ataca a cultura, busca-se no fundo atacar o avanço civilizatório de uma sociedade. Além disso, somos um setor que já alcançou uma dimensão sócio-econômica que não pode ser desprezada — disse.
O senador Paulo Paim (PT-RS) também pediu que Bolsonaro reconsidere sua posição sobre a extinção do Ministério da Cultura e ressaltando a relevância da cultura na inserção sócio-educacional. A relevância do saber e da divulgação cultural foi destacada pelo ator de TV Pedro Baião, que tem Síndrome de Down.
Tradições
A cultura gaúcha foi homenageada pela entrega da Comenda a Carlos Paixão Côrtes, filho do criador do primeiro Centro de Tradições Gaúchas (CTG) em Porto Alegre em 1948, o folclorista João Carlos Paixão Côrtes. O tradicionalista faleceu em agosto, e os senadores Ana Amélia (PP-RS) e Lasier Martins (PSD-RS) lembraram que ele é sinônimo de gauchismo no estado, tendo inclusive servido de modelo para a estátua do gaúcho-símbolo que fica na entrada de Porto Alegre.
— Era meu amigo, uma personalidade marcante. A estátua do laçador, como é mais conhecida, perpetua para a eternidade nossa cultura, nossas tradições e a relevância de Paixão Côrtes na divulgação de nossas raízes — disse Lasier.
Cultura nordestina
A sessão também contou com apresentações do músico Nelson da Rabeca e do cordelista Antônio Francisco Teixeira.
A homenagem ao Museu da Gente Sergipana foi entregue ao arquiteto Ezio Deda, diretor do museu.
— Já recebemos mais de 600 mil visitantes desde a abertura, em 2011. Um acesso gratuito e democrático. Todos os dias, por exemplo, recebemos alunos de escolas públicas. Celebramos tudo que nosso estado tem de mais genuíno: as culturas popular, quilombola, indígena e dos europeus que vieram ao Sergipe; a culinária, os modos de falar, o repente e o cordel. Estamos arraigados na cultura nordestina e a sergipana. A Comenda Câmara Cascudo ficará exposta na entrada do museu — disse o gestor.
Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)
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