“Quando ouço falar em cultura, penso logo em sacar o revólver” – esta frase, atribuída a um dos líderes nazistas, Herman Göring ou Joseph Goebbels, exprime a costumeira posição direitista face a esta decisiva manifestação humana, o pensamento e suas criações.
A frase, que na verdade faz parte de uma peça antinazista escrita em 1933 por Hanns Jost, serve como uma luva para descrever a atitude do governo golpista de Michel Temer e sua pretensão de destruir o ministério da Cultura.
Acabar com a autonomia da cultura ante o estado e o governo, e subordiná-la a qualquer organismo tem apenas um significado: manietar a expressão, colocar limites à liberdade artística e cultural e fazer dela instrumento de governo para domar o pensamento e a resistência contra um mandato ilegítimo como é o de Michel Temer.
A tentativa de destruir o ministério da Cultura despertou grande oposição, de democratas, artistas, produtores culturais e gente do pensamento, em todo o Brasil.
Desde o anúncio dessa decisão espúria, no dia 12 de maio, a resistência a ela se traduziu em manifestações políticas e ocupações de prédios públicos, em todos os estados.
O valor simbólico destas manifestações é decisivo. Não se trata de reação corporativa de agentes da cultura, mas da defesa de um projeto de nação que se exprimiu em tudo aquilo que foi apoiado e promovido pelo ministério da Cultura nestes treze anos de governos populares e democráticos. Tempo em que a cultura saiu dos salões “bem pensantes” da elite, e do eixo Rio-São Paulo, e abarcou todo o país no esforço de construção de identidade nacional que envolve todo o povo e seus produtores culturais. Um esforço de construção em cujo resultado os brasileiros se reconhecem.
A elite reacionária rejeita isso e busca colocar sob seu tacão as condições de produção cultural, como sempre ocorreu anteriormente.
As manifestações contra a ilegitimidade dessa pretensão de submeter a Cultura a tais ditames juntou a frente mais ampla de trabalhadores da arte e do pensamento em todo o país. No Rio de Janeiro, os shows realizados na ocupação do Palácio Gustavo Capanema, reuniram – por exemplo – artistas como Caetano Veloso, Erasmo Carlos, Seu Jorge, Teresa Cristina, Mareta Severo, Otto, Arnaldo Antunes, entre outros. Mesmo a virada cultural, que ocorre em São Paulo, neste final de semana, poderá trazer novas manifestações de protesto contra Temer e pela autonomia da Cultura.
Este movimento da cultura brasileira é semelhante ao que ocorreu em 1964, contra o golpe de estado de 1º de abril – os artistas e os profissionais do pensamento não deram sossego desde o primeiro momento aos golpistas que instalaram a ditadura militar.
Com a diferença de que, em 2016, a resistência contra o desmonte da Cultura, impôs logo de saída uma derrota ao governo ilegítimo de Michel Temer e ele, neste sábado (21), viu-se forçado a anunciar a recriação do ministério da Cultura, como divulgou o próprio ocupante do ministério da Educação e Cultura, o deputado direitista pernambucano Mendonça Filho (DEM).
Foi uma derrota imposta ao golpista Michel Temer pelas ruas, pelo movimento, pelos artistas e intelectuais mobilizados contra sua tentativa de destruir o ministério da Cultura.
Derrota que se junta a outras vacilações deste governo ilegítimo nesta primeira semana de seu mandato contestado. Vacilações e recuos vistos também em áreas importantes do governo, como Saúde, Justiça, Educação, Fazenda, etc. e que revelam a visível insustentabilidade de um governo que não teve o apoio das urnas em 2014 e não tem o apoio das ruas agora. Governo ilegítimo e golpista que, no futuro, talvez tenha venha também a ser descrito como aquele que foi derrotado nas ruas, pela opinião democrática brasileira. Fora Temer!
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