Exposição no Memorial da Resistência de São Paulo traz mais de um século de história da luta da por direitos humanos e resistência da população negra
Um panorama histórico de mais de um século de lutas por direitos da população negra no estado de São Paulo: é a proposta da exposição “Memórias do Futuro: Cidadania Negra, Antirracismo e Resistência”, no Memorial da Resistência da capital paulista. Inaugurada em junho, a exibição gratuita segue em cartaz até maio de 2023.
São mais de 450 itens em exposição, entre fotos, cartazes e documentos. A exposição conta com a presença de obras dos fotógrafos Jesus Carlos, Mariana Ser, Monica Cardim e Tiago Alexandre e com a participação dos artistas Bruno Baptistelli, Geraldo Filme, João Pinheiro, Moisés Patrício, No Martins, Renata Felinto, Sidney Amaral, Soberana Ziza e Wagner Celestino.
A curadoria feita pelo oociólogo e escritor Mário Augusto Medeiros da Silva, com apoio da pesquisa documental feita pela historiadora, Pâmela de Almeida Resende, e pela pesquisadora do Memorial da Resistência, Carolina Junqueira Faustini, é baseada nos trabalhos realizados por ele sobre às lutas lideradas pela população negra brasileira, que constitui, desde suas origens, uma das principais forças contestadoras da repressão e da violação de direitos humanos cometidas na história do nosso país.
Estrutura da exposição
As experiências coletivas no estado são abordadas em oito eixos: Territórios negros e memórias em disputa: a persistência no espaço; Associativismo, clubes, entidades e irmandades: A Força do Coletivo; Imprensa Negra Paulista e Circulação das ideias: A Comunicação como Meio de Luta; Literatura Negra: O Direito à Imaginação; Espaços de sociabilidade e resistência: as ruas, os salões e os palcos como lugares de direitos; Repressão, Vigilância e Resistência, 1930-1980; Redemocratização e Nova República: A Democracia é uma luta negra e Enfrentando a tripla opressão – O século XXI é negro, feminino e nosso.
Ainda na área externa, o público é recebido por um painel com mais de 20 metros de largura e quase 5 de largura, feito pela multiartista e grafiteira Soberana Ziza. Batizado de “Fio da Memória” foi um trabalho inspirado na força das palavras das mulheres negras.
Dentro do espaço de mais de 600 metros quadrados, os eixos estabelecidos vão desde o período colonial, passando pelos grêmios recreativos e clubes de lazer; pela imprensa negra que já existia antes mesmo da Abolição; assim como a literatura com destaque para Carolina Maria de Jesus, Lino Guedes e Oswaldo de Camargo; as expressões artísticas retratadas nos grupos e escolas de samba; teatro folclórico, bailes Black e Hip Hop.
A repressão tem papel de destaque, reunindo documentos de vigilância do Departamento de Ordem Política e Social (Deops) – que funcionava no mesmo prédio onde hoje fica o Memorial – e mostra as perseguições às práticas religiosas de matrizes africanas e afro-brasileiras por meio da Delegacia de Costumes e testemunhos do Acervo do Memorial.
Manifestações mais recentes, o Movimento Negro Unificado e a Coalizão Negra por Direitos, também são retratados, bem como o feminismo negro e a presença de intelectuais negras nacionais e internacionais em debates e publicações.
“Não basta não ser racista: é necessário ser antirracista. Conheçamos um pouco da história da vida negra de São Paulo e suas lutas, vitórias, alegrias e dores. O presente e o futuro exigem muito dessa coragem de todas e todos nós”, afirmou o curador Mário Medeiros.
“Entendemos que é urgente nos indagarmos enquanto cidadãos sobre a nossa responsabilidade na perpetuação do racismo e como podemos nos engajar na luta antirracista para construir uma sociedade verdadeiramente democrática. Esta exposição é um convite para seguirmos os fios tecidos por mulheres e homens negros em torno de suas memórias e fabulações por um futuro”, complementou coordenadora do Memorial, Ana Pato.
A mostra foi criada em colaboração com organizações e coletivos convidados, como a Coalização Negra por Direitos, a revista O Menelick 2º Ato, as Capulanas Cia de Arte Negra e o Ilú Obá de Min, em parceria com os arquivos e acervos de cultura negra no AEL – Unicamp, no Arquivo Público do Estado de São Paulo, no Museu da Imagem e do Som, na Pinacoteca do Estado, no Memorial da Resistência e no Condephaat.
Esta exposição é um convite para seguirmos os fios tecidos por mulheres e homens negros em torno de suas memórias e fabulações por um futuro.
SERVIÇO
Exposição: Memórias do Futuro: Cidadania Negra, Antirracismo e Resistência
Quando: em cartaz até 08 de maio de 2023
Onde: Memorial da Resistência de São Paulo – Largo General Osório, 66 – Santa Ifigênia
Horário: quarta a segunda, das 10h às 18h (fecha às terças)
Faixa etária: Livre
Entrada: Gratuita
Os ingressos do Memorial estão disponíveisaqui e na bilheteria do prédio.
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