O escritor, cantor e compositor brasileiro Chico Buarque lançou nesta segunda-feira seu romance “Budapeste”, na Espanha.
O livro conta a história de um “ghost-writer”, como é conhecido no mercado editorial o profissional que escreve em nome de outro, e que chega a Budapeste, onde tem o primeiro contato com o húngaro, língua que desconhece, mas cuja sonoridade o cativa.
A partir de então, o autor passa a viver uma série de acontecimentos que fazem com que sua vida seja cheia de desdobramentos, como em um sonho.
Chico Buarque explicou a escolha de Budapeste porque a Hungria é “dentro da Europa, um país estranho por sua língua”, uma cidade que ele não conheceu antes de escrever o livro “porque queria que se mantivesse como um sonho para os leitores, assim como foi durante muito tempo para mim”.
“Escrevi auxiliado por um dicionário e um mapa de Budapeste. Poderia ter citado ruas e recantos da cidade, mas queria manter esse mistério. Não quis conhecer a cidade de propósito, ao contrário do Rio, que parece mais real porque conheço. Em nenhum momento quis ofender a língua húngara, mas prestar uma homenagem”, acrescentou.
O compositor, que afirmou ter deixado de lado a música enquanto escrevia, disse ter recriado em sua obra os nomes de jogadores de futebol húngaros que lhe eram familiares.
O resultado dos sonhos de Chico é um romance ágil, escrito em um ritmo que rapidamente conduz o leitor ao final e curiosamente “musical” pela forma como as palavras e pronúncias húngaras são apresentadas.
É também uma reflexão sobre o ato de escrever, sobre o amor, sobre a vida dupla de uma pessoa que vive entre o Rio e Budapeste –com uma mulher em cada cidade– e também sobre a imigração e o papel do “ghost-writer”.
“Para um imigrante, o sotaque pode ser uma vingança, uma forma de maltratar a língua que o coage. Da língua de que não se gosta, ele mastigará as palavras que bastarem para o seu ofício e vida diária, sempre as mesmas palavras, nem uma a mais. E inclusive chegará a esquecê-las ao fim de sua vida para voltar ao vocabulário de sua infância”, escreveu em um trecho do romance.
Chico Buarque “ousou muito, escreve cruzando um abismo sobre a corda bamba e chega ao outro lado, onde estão os trabalhos feitos com maestria (…) Não acho que me engano em dizer que algo de novo aconteceu no Brasil com este livro”, disse o escritor português José Saramago, Prêmio Nobel de literatura, sobre o livro do brasileiro.
“‘Budapeste’ é uma sala dos espelhos, que afinal se resolve, não na trama, mas nas palavras, como nos poemas”, afirmou, por sua vez, o cantor e compositor brasileiro Caetano Veloso.
Terceiro romance de Chico Buarque, depois de “Estorvo” e “Benjamim”, “Budapeste” teve grande sucesso de público e crítica no Brasil, e faturou o Jabuti, um dos prêmios literários mais respeitados do país.
MARCELO APARÍCIO
da France Presse, em Barcelona