As chanchadas foram um gênero de filme brasileiro que teve seu auge entre as décadas de 1930 e 1950. Elas eram comédias musicais, misturadas com elementos de filmes policiais e de ficção científica. Esse tipo de humor, porém, não pode ser considerado uma invenção brasileira, pois fitas assim também eram comuns em países como Itália, Portugal, México, Cuba e Argentina. Quando o gênero chegou por aqui, a crítica nacional o considerava um espetáculo vulgar, por isso ele foi apelidado de chanchada – palavra de origem controversa, mas que pode ter surgido na língua espanhola, significando “porcaria”. A aversão dos críticos, no entanto, não prejudicou o sucesso de bilheteria desses filmes.
“Com seu humor quase sempre ingênuo, às vezes malicioso e até picante, a chanchada se impôs como um entretenimento de massa”, diz o jornalista Sérgio Augusto, autor do livro Este Mundo é um Pandeiro – a Chanchada de Getúlio a JK. Para conquistar o público, as primeiras produções apresentavam grandes astros do rádio, como Carmen Miranda e Francisco Alves. Mais tarde, a dupla de comediantes Oscarito e Grande Otelo iria se tornar a sensação dessas fitas. Apesar da influência do cinema americano, que volta e meia tinha filmes sendo parodiados, as chanchadas costumavam ser essencialmente brasileiras, tratando de problemas do cotidiano e fazendo humor com uma linguagem de fácil compreensão.
Segundo o diretor Carlos Manga, um dos mais importantes do gênero, a estrutura das histórias era dividida em quatro partes: mocinho e mocinha se metem em apuros; cômico tenta protegê-los; vilão leva vantagem; vilão é vencido. Mesmo com essa fórmula bastante simplista, o público lotou os cinemas brasileiros para assistir a chanchadas até meados da década de 50. O desenvolvimento da TV no país, o surgimento do cinema novo – um outro estilo de filme, mais politizado – e o desgaste natural do gênero fizeram com que as chanchadas fossem perdendo espaço. Mas elas entraram para história ao marcar um dos períodos mais produtivos do cinema nacional.
Oscarito e Grande Otelo foram as grandes estrelas do gênero
Dez filmes marcantes
1933
A Voz do Carnaval, De Adhemar Gonzaga e Humberto Mauro
Filme semidocumental, que mistura cenas reais com cenas gravadas. Estréia de Carmen Miranda no cinema
1935
Alô, Alô, CarnavalL!, De Adhemar Gonzaga
Considerado um dos mais importantes musicais brasileiros. O filme traz grandes cantores da época, como Francisco Alves, Carmen Miranda e Mário Reis, soltando a voz
1949
Carnaval no Fogo, De Watson Macedo
Um bandido (José Lewgoy) pretende dar um golpe em foliões durante o Carnaval. Com Oscarito e Grande Otelo, mistura ação, intriga policial, humor e música
1950
Aviso aos Navegantes, De Watson Macedo
Oscarito embarca como clandestino num transatlântico. Durante a viagem, o comandante do navio recebe a notícia de que um espião internacional está a bordo
1952
Carnaval Atlântida, De José Carlos Burle
História sobre as filmagens de um épico da Guerra de Tróia. Além das presenças de Grande Otelo e José Lewgoy, há um impagável Oscarito, travestido de Helena de Tróia
1954
Nem Sansão nem Dalila, De Carlos Manga
Oscarito vive um barbeiro que, após um acidente de carro, vai parar no ano 1153 a.C., onde conhece Sansão e adquire os superpoderes desse personagem bíblico
Matar ou Correr, De Carlos Manga
Sátira ao clássico faroeste americano Matar ou Morrer (1952). Oscarito interpreta o pistoleiro Kid Bolha, que enfrenta Jesse Gordon (José Lewgoy)
1957
De Vento em Popa, De Carlos Manga
Um rapaz (Cyll Farney) vai estudar física nuclear nos Estados Unidos para agradar seu pai, que sonha ver o filho construindo a primeira bomba atômica brasileira
Absolutamente Certo, De Anselmo Duarte
Anselmo Duarte trabalha na impressão de listas telefônicas e sabe todos os números de São Paulo. Ele testa sua memória num programa de auditório
1959
O Homem o Sputnik, De Carlos Manga
Os camponeses Oscarito e Zezé Macedo encontram um objeto estranho, semelhante ao satélite russo Sputnik. Uma das primeiras comédias sobre a Guerra Fria
Faça um comentário