Uma das principais atrações da Bahia volta a abrir as portas no Pelourinho, para o encanto de turistas do Brasil e do mundo. Depois de quase quatro anos de restauração e acesso fechado ao público, a Catedral Basílica de Salvador volta a ser o destino de um dos mais belos passeios no Centro Histórico da capital baiana. A reabertura da catedral, nesta sexta-feira (14), inclui acesso a um bem especialmente valioso: seu altar-mor, igualmente recuperado após longos anos fora do alcance dos visitantes.
“É impossível não se emocionar ao entrar nesta catedral, que foi recuperada em sua plenitude. É muito importante preservar um monumento como este. Temos todos que nos irmanar nesta missão. Um país que não se referencia em seu passado está fadado a repetir erros”, destacou o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, que visitou a igreja nesta sexta-feira. “Além disso, o investimento na restauração da catedral e de outros patrimônios históricos de Salvador é essencial para atrair turistas e movimentar a economia”, completou.
A presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, observou que “a catedral é uma aula de arquitetura”. “Este monumento mostra a força do gênero humano. O povo deve ser o principal guardião do patrimônio cultural brasileiro.”
Construída entre 1652 e 1672 e tombada pelo Iphan, instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), em 25 de maio de 1938, a catedral é um dos primeiros templos do país e o último remanescente do desaparecido Convento e Escola dos Jesuítas, que foi o maior e mais importante do Brasil Colonial. Os trabalhos de restauração de seu conjunto, que inclui 13 capelas, bens integrados e imagens sacras, duraram três anos e oito meses.
Nesse período, itens do acervo da catedral, considerado um dos mais valiosos do país, também foram recuperados. Telas de autores seiscentistas, móveis em jacarandá e diversos objetos sacros em ouro e prata podem, agora, ser revistos junto a 30 bustos, relicários de virgens e santos mártires que retornam à igreja depois de mais de 15 anos sob a guarda do Museu de Arte Sacra, que os devolveu igualmente restaurados.
Em meio às inúmeras renovações, um espaço que pode ser considerado o coração da Catedral volta a pulsar aos olhos do visitante. Fechado por anos ainda mais longos devido a uma obra anterior inacabada, o altar-mor da basílica foi reaberto depois de ser completamente restaurado.
Profissionais
A atenção recebida pela catedral nesses três anos e meio de restauro sob o comando do Iphan esteve à altura da importância de uma das principais construções sacras do Brasil Colonial. Seus elementos dourados, vistos em diferentes partes da igreja, foram recuperados com folhas de ouro importadas de Florença, na Itália. Esta e as demais atividades foram realizadas por uma equipe multidisciplinar, formada por mais de 120 profissionais, que mesclou a utilização de técnicas e materiais tradicionais e contemporâneos.
O supervisor dos trabalhos foi um dos mais conceituados profissionais do país, o restaurador e professor mineiro Antonio Fernando dos Santos, responsável pela recuperação dos profetas esculpidos por Aleijadinho no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas (MG), e dos painéis de Portinari na Igreja São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte.
Segurança
As obras na catedral incluíram pinturas nas fachadas e a restauração da fachada principal em cantaria e das torres de azulejos. Os trabalhos, no entanto, não se limitaram à estética e elementos sacros. Houve foco também na segurança de usuários e visitantes. Além da revisão completa da cobertura da basílica, foram promovidos reparos nas instalações elétricas e a recuperação dos forros, dos pisos e das esquadrias.
No decorrer da obra, foram identificadas novas demandas para a conservação do monumento. Em resposta, foram revistos itens de segurança, da iluminação e da sonorização interna e modernizado o sistema de prevenção e combate a incêndio. “Foi feito um investimento significativo em termos de segurança. O sistema de combate à incêndio é o mais avançado em termos de bens tombados no país, com muita tecnologia”, observou Sá Leitão.
Catacumba
Algumas descobertas também surpreenderam os profissionais envolvidos. Debaixo do altar-mor e sob uma lápide de mármore, foi encontrada uma escadaria de acesso a uma antiga catacumba. No interior de uma das capelas, por sua vez, foram descobertas ossadas, incluindo 13 crânios humanos. Pinturas originais nas paredes e peças sacras, que revelaram quadros com imagens de santos jesuítas escurecidos pelo tempo e até purpurina nas áreas revestidas de ouro, foram igualmente encontradas. Na capela do Santíssimo, foram recuperados diversos elementos com folhas de prata, que estavam encobertas por camadas de repintura.
Formalmente denominada Catedral Basílica Primacial de São Salvador, o templo localizado no Largo Terreiro de Jesus, no Pelourinho, é propriedade da Arquidiocese de Salvador. Com a saída dos jesuítas do país, a igreja foi abandonada e chegou a ser utilizada como hospital militar. Em 1833, também abrigou a primeira Escola de Medicina do Brasil.
Faça um comentário