Canecão será reaberto em 2015

Considerado pela classe artística o palco mais importante da música popular brasileira do fim da década de 1960 à de 2010, o antigo Canecão, fechado há três anos, só deve ser reaberto em meados de 2015 – ou mesmo em 2016. É esta a expectativa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, proprietária do terreno, que recuperou o imóvel depois de quatro décadas sem receber pagamento de aluguel do antigo responsável, Mário Priolli.

Segundo o professor Carlos Vainer, coordenador do Fórum de Ciência e Cultura, à frente do projeto de renovação do espaço, a ideia é montar uma programação que misture shows comerciais, mediante locação, e o uso público do imóvel, com espetáculos de teatro, dança e música gratuitos. “Queremos preservar o carisma do lugar. Já soube que vários artistas querem voltar a fazer shows lá. Os espetáculos que fizeram a glória do Canecão serão acolhidos, o que nos permite vislumbrar que será possível manter o funcionamento sem ônus para o orçamento da universidade”, disse Vainer, para quem reabrir na metade de 2015 “é um horizonte razoável”.

 

Há quatro meses, as mesas e cadeiras onde o público se acomodava foram retiradas do salão; as falhas no telhado, por onde vinha passando água da chuva, foram consertadas. Mas a imagem ainda é de abandono aos olhos de quem passa por ali. “A marquise serve a moradores de rua e a calçada tem muita ratazana”, conta, melancólico, o vizinho jornaleiro Reinaldo Alves, que viu seu faturamento cair 70% desde o fim dos shows. Parte do mobiliário retirado foi direto para o lixo – o mofo tomou conta em decorrência dos vazamentos de água da chuva, que formavam poças convidativas a mosquitos da dengue; as peças que se salvaram agora equipam salas da UFRJ. Logo depois da desocupação, a eletricidade teve de ser desligada, pois era alto o risco de incêndio. O revestimento acústico do teto foi caindo aos poucos. A área foi higienizada e dedetizada contra ratos e insetos.

 

O salão onde foram realizados shows históricos de Tom Jobim, Elis Regina, Chico Buarque e dezenas de outros grandes nomes será modificado para se transformar num espaço multiuso, que sirva inclusive a exposições de arte ou como centro de convenções. Um concurso do Instituto de Arquitetos do Brasil deve ser lançado até o fim do ano, e se espera que as obras, que vão mudar também a fachada, comecem no ano que vem. A sociedade civil será chamada a opinar.

 

Em breve, o imóvel vai ganhar novo letreiro, sinalizando que se trata de “patrimônio público da cidade”. Para os primeiros meses de 2014, o espaço onde antes funcionava um bingo deverá estar pronto para servir à editora e livraria da universidade. Meses depois, deve abrir as portas o antigo Canequinho, anexo que vai virar o Café Universitário, com pocket shows e saraus.

 

O destino do antigo Canecão só será selado depois de reuniões do Conselho Universitário. No momento, estudam-se modelos de outras universidades que mantêm equipamentos culturais, como as federais de Pernambuco e do Rio Grande do Sul.Os alunos, que em julho do ano passado ocuparam o espaço para reivindicar que sua função seja estritamente pública, rechaçam a volta dos espetáculos comerciais.

 

“A gente não quer que volte a ser um lugar em que se cobre valores absurdos por um show, que vise à geração de lucro. Isso não serve para nós. Se a universidade é pública, o espaço tem que ser público”, disse o diretor de cultura do Diretório Central dos Estudantes, Pedro Paiva.

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