Em todos os tempos e para todas as raças, os brinquedos representam o desenvolvimento etário. O brincar com as coisas do mundo adulto, o treino para as tarefas normais da maturidade, a imitação – o que é usado pelos adultos é fantasia das crianças.
No Brasil Colônia não seria diferente, apesar da grande escassez de todo tipo de material ( o fer blanc e a porcelaine de chine só seriam introduzidos na segunda metade do oitocentos, nas manufaturas Européias de brinquedos). Foram os artesãos e os próprios familiares os grandes responsáveis pelo feitio dos brinquedos nesta época. Os registros em forma de imagens deste período praticamente inexistem, quando falamos de Brasil..
As preferências e gostos variavam obviamente conforme o status, mas na pratica as crianças no Brasil Colônia, fossem elas negras, índias, brancas ou mestiças, brincavam praticamente da mesma maneira e com as mesmas coisas – a mãe índia confeccionava uma boneca em palha de milho para a menina, ao mesmo tempo que o pai branco arranjava um trenzinho de madeira para o menino. Vem desta época a moda das tão famosas bruxinhas de pano, panelinhas de barro e os manés-gostoso em madeira. Existe um tênue registro desta época, da existência de uma senhora artesã habitante da cidade de São Luís do Maranhão, que ficou conhecida por sua habilidade com linha e agulha, fazendo peças maravilhosas, hoje muito bem cotadas e disputadas não só entre colecionadores brasilianistas e de bonecas, como também pelos apreciadores de arte erótica . Até hoje não há quem me convença que estas peças foram de fato dirigidas às crianças( a época e o estilo coincidem com a tais “poupées sexuales ” tão famosas no século 18 na França ).
Também no Brasil havia relação entre bonecas, amuletos e objetos de uso ou rituais. Temos aí como exemplo a matraca, máscaras e chocalhos. Também vêm desta época brinquedos como o balão, o pião, o ioiô e os cata-ventos. Eu pessoalmente nunca tive a sorte de encontrar nenhum desses brinquedos, não que pudesse de fato atestar sua autenticidade ( com exceção das bonecas maranhenses)por se tratarem de peças artesanais, seria leviano qualquer tipo de afirmação neste sentido.
Já as crianças que habitaram no Brasil do primeiro e segundo reinados tiveram mais sorte, digamos assim. Se pensarmos nos progressos registrados nos oitocentos, quando estiveram em moda os tão famosos gabinetes de física, veremos que as primeiras manufaturas (sempre da Europa) pouco a pouco colocaram no mercado brinquedos mais elaborados além daqueles de madeira, argila ou
Tecido. Era a vez do papier maché, do metal (fer blanc), porcelaine de chine e posteriormente, isto já na segunda metade do dezenove, o bisquit. A característica desta época não foi só a produção a maquina com mão de obra barata, mais igualmente o fato de que as grandes manufaturas exportaram para o mundo inteiro. Temos ai grandes nomes como Markilin, Lehmann, Bing, dentre outros.
Foi, sem dúvida, a época mais bela e criativa da história do brinquedo, existem grandes colecionadores que podem facilmente comprovar o que digo. No Brasil, nesta época, este tipo de material só era visível nas famílias de posses, já que tudo era importado ou trazido por viajantes, restando para as classes menos privilegiadas o consolo dos ainda brinquedos artesanais que por sorte, e talvez até por isso, perdurem até os nossos dias.
Ana Maria de Aguiar
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