Nelson Werneck Sodré, em “História da imprensa no Brasil”, usa uma fala de Evaristo da Veiga para expor a atuação de Davi da Fonseca Pinto na imprensa política da corte, no período. Notadamente pró-Dom Pedro I, apesar de sua inclinação antidiscriminatória entre brancos e negros, Pinto é retratado negativamente ao lado de João Batista de Queiroz, outra figura responsável pela proliferação de pasquins de crítica “virulenta” pelo lado restaurador. Nas palavras de Veiga:
Tiradas poucas exceções, o jornalismo caramuruano do Rio de Janeiro (…) divide-se em jornais “Queiroz” e em jornais “Davi”; são os srs. João Batista de Queiroz, ex-redator da Matraca e do Jurujuba dos Farroupilhas, e Davi da Fonseca Pinto, ex-redator do Poraquê e do Verdadeiro Patriota, os quais inundam a cidade com periódicos, que de ordinário não passam do quarto número. Estes dois paladinos da retrogradação, ambos empregados por Dom Pedro I e detidos da revolução, ambos igualmente notáveis pela imoralidade de sua conduta, pelas ações vergonhosas com que se têm feito conhecidos na sociedade (…); pesam sobre os ombros do sr. Davi: o Adotivo, o Papeleta, o Brasileiro Pardo, o Andradista, o Lafuente e parte do Bentivi, da Loja do Belchior e do Esbarra. (…) (Davi) tem fumos de literato, pilha Filinto Elísio e mais alguns quinhentistas para ter o ar de purista em linguagem e é sempre declamador e pedante. (…) contenta-se com o que acha à superfície, para enfeitar os seus inúmeros escritos. (…) aspira a ser popular e adular a multidão e não pode disfarçar a aversão, o antigo ódio que vota aos brasileiros e a sua simpatia exclusiva por tudo que é do outro mundo. (…) olha a anarquia como o caminho que vai ter à restauração e à tirania imperial. (…) conta enviar à forca e às galés os amigos da liberdade brasileira, gozando o favor do príncipe, em cujo serviço se tem arrastado tanto. (p. 125/126)
Tais palavras devem ser lidas com reservas, mas não eram para menos. Forte figura de oposição a Dom Pedro I, Evaristo da Veiga era frontalmente atacado no texto inicial do Brasileiro Pardo, que lamentava a abdicação do monarca em tons de desilusão: “Os larangeiras bem depressa mostrárão o que erão; D. Pedro foi-se, e os seus ministros e Conselheiros ahi ficárão nos seus logares, e, o que mais é, são esses mesmos homens hoje os conselheiros, amigos, defensores e sustentáculos dos Evaristos!”
Fontes:
– Acervo: edição nº 1, de 21 de outubro de 1833.
– PINTO, Ana Flávia Magalhães. Imprensa negra no Brasil do século XIX. São Paulo: Selo Negro, 2010.
– SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.
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