A princípio, a criação de uma escola de cultura homossexual, com cursos como o de formação de drag queen, acaba se tornando motivo de chacota. Mas o argumento de militantes LGBTs para a criação da primeira instituição do gênero no Brasil é que, através da disseminação de informações sobre o universo dos gays, lésbicas e transgêneros, é possível romper não só com o preconceito, mas com a marginalização cultural que eles sofrem.
A instituição em questão é a Escola Jovem LGBT, que será inaugurada em março de 2010, em Campinas, no interior paulista. A iniciativa é do Grupo E-Jovem, que desde 2001 luta pelos direitos de jovens LGBT e que vai receber um verba de R$ 180 mil, ao longo de três anos, através do projeto Pontos de Cultura – uma parceria entre o Governo de São Paulo e o Ministério da Cultura.
“Não existe nenhum trabalho consistente de valorização das expressões gays, no Brasil. A cultura LGBT fica restrita a boates, e jovens com menos de 18 anos não têm acesso a esses espaços”, afirma Deco Ribeiro. diretor da Escola Jovem LGBT.
A instituição será destinadas a pessoas entre 12 e 29 anos e terá três linhas de ensino: expressão artística (com cursos de drag queen, dança e música), expressão cênica (webTV, teatro e cinema) e expressão gráfica (publicações impressas).
Além de oferecer ferramentas para que os alunos expressem sua sexualiade, todo o material produzido por eles – livros, revistas CDs e DVDs – serão distribuídos gratuitamente para difundir a cultura LGBT.
“Queremos mostrar para sociedade como a gente se expressa. No colégio, por exemplo, quando a professora pede uma redação sobre como foi o fim de semana dos alunos, o adolescente gay não pode falar que passou com o namorado”.
Os cursos da Escola Jovem LGBT terão três anos de duração e ao final os alunos receberão um certificado. Mais informações podem ser obtidas pelo e-mail escola@e-jovem.com .
A Escola Jovem LGBT surge com o propósito não só de dar ferramentas para jovens homossexuais se expressarem, mas também como meio de divulgar a cultura LGBT através do material produzido pelos alunos. Segundo estudiosos, ações como essa são fundamentais para reduzir o preconceito.
Um dos principais pesquisadores da cultura LGBT no Brasil, o antropólogo Luiz Mott, afirma que a cultura LGBT foi renegada ao longo dos anos pelos historiadores.
Segundo ele, antes da chegada dos colonizadores europeus e da moral cristã, a homossexualidade era tratada de forma natural por diversas tribos sul-americanas. Em seus estudos, Mott aponta diversas evidências arqueológicas e documentais da prática homoerótica na América Pré-Colombiana, como esculturas representando cenas homoeróticas e textos dos cronistas que relatavam à Metrópole os costumes dos nativos.
Um desses relatos faz referência aos Tupinambá. Nessas tribos, os índios “gays” eram chamados de tibira e as “lésbicas” de çacoaimbeguira. Em um texto enviado a Portugal, o cronista Pero de Magalhães Gândavo cita a conduta de algumas índias “lésbicas”: “Algumas índias deixam todo o exercício de mulheres e imitam os homens e seguem seus ofícios como se não fossem fêmeas. E cada uma tem mulher que a serve, com quem diz que é casada. E assim se comunicam e conservam como marido e mulher” – relato presente no “Tratado da Terra do Brasil” de 1576. (EA)
Faça um comentário