BNDigital: dez anos. Mais de 1,5 milhão de obras

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Enquanto os navegadores portugueses faziam suas primeiras expedições ao Brasil, o pintor e gravurista alemão Albrecht Dürer (1471-1528) produzia quadros e xilogravuras que iriam fazer dele o mais famoso artista do Renascimento nórdico, retratando de guerreiros a personagens como Adão e Eva, com estudo apurado de perspectivas, sombra e luz só visto até então com maestria em artistas italianos do calibre de Leonardo Da Vinci e Michelangelo.

Quatrocentos anos depois da morte dele, uma exposição com obras de Dürer foi realizada, no Rio de Janeiro, então capital do País, na Biblioteca Nacional (BN). As obras vieram da Real Coleção de Lisboa – propriedade da coroa portuguesa, que deu base inicial ao acervo da BN. O fato foi noticiado à época na primeira edição da revista semanal ilustrada O Cruzeiro, dos Diários Associados, em 1928. O texto tenta recriar o percurso das obras de Dürer até o Rio de Janeiro, a partir de informações que estariam em um diário de artista, que descreve quais contatos fez com portugueses e com quem comercializou suas obras.

Esta e outras histórias podem ser consultadas, hoje, por qualquer pessoa que tenha acesso à internet, pela Biblioteca Digital da Fundação Biblioteca Nacional (BNDigital). A coleção de O Cruzeiro, desde que passou a integrar a BNDigital, em meados de 2015, tem sido o arquivo mais acessado do acervo.
O lançamento da revista O Cruzeiro sacudiu a forma de se fazer jornalismo no Brasil. De 1928 até 1975, quando parou de circular, imprimiu em suas páginas uma forma muito própria de noticiar: abria grandes espaços para material fotográfico, textos literários, artigos, sátiras e reportagens sobre locais exóticos. Por meio das suas duplas (repórter e fotógrafo) abrigava reportagens especiais, além de ter espaços para notícias de cinema, esportes, fofocas, gastronomia, moda, política internacional e saúde.

Se não é possível colocar no colo e folhear com as próprias mãos as páginas de uma revista com mais de 90 anos ou uma bíblia de mais de 400 anos, é possível fazê-lo virtualmente na tela de um computador, tablet ou celular e de graça. Criada para atender de forma mais efetiva as duas missões institucionais da FBN – preservação e acesso – a BNDigital, uma das maiores bibliotecas digitais do Brasil, completa neste mês de abril seus 10 anos de existência.

“Antes de sua criação, o acesso ficava restrito ao público que podia vir ao prédio-sede (que fica no Rio de Janeiro). Com a criação da BNDigital, as coleções digitalizadas podem ser acessadas por qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo, com a qualidade dos arquivos digitais gerados. O acesso do público aos originais é minimizado e, com isso, preservamos os documentos do manuseio excessivo”, observou o coordenador da Rede da Memória Virtual Brasileira da FBN, Vinicius Pontes Martins.

A prioridade do acervo digitalizado foi dada às coleções mais raras e às mais consultadas pelo público, majoritariamente composta por obras em domínio público ou que tenham autorização para disponibilização por parte dos titulares do direito autoral, num total de mais de 1,5 milhão de documentos entre arquivos sonoros, atlas, desenhos, fotografias, gravuras, jornais, livros, manuscritos, mapas, partituras, plantas e revistas.

O núcleo original do acervo da FBN, que completou 205 anos em 2015, veio da Real Biblioteca de Portugal. Por isso, a maior parte do acervo é em português, mas há ainda obras em latim, italiano, francês, grego, árabe e chinês.
“Temos nossos acervos digitais presentes em iniciativas importantes como a World Digital Library, onde somos membros fundadores, a Biblioteca Digital do Patrimônio Ibero Americano, a Gallica, biblioteca digital da França que disponibiliza em sua plataforma nossos documentos”, conta Vinicius Martins.
Peças raras e curiosidades
Dois exemplares de um dos primeiros livros impressos no Ocidente – a Bíblia – impressa por Johann Gutenberg, em latim, estão entre as obras raras do acervo. Veja aqui e aqui.
Entre as obras raras, está a Carta Régia da abertura dos portos brasileiros às nações amigas – o primeiro decreto promulgado por D. João VI no Brasil, quatro dias após a sua chegada ao País, em 1808, autorizando comércio exterior com as nações amigas de Portugal.
Outro exemplo de preciosidade é a coleção intitulada Thereza Christina Maria – em homenagem à esposa de D. Pedro II. Com 23 mil fotografias do Brasil e do mundo no século XIX, o acervo está inscrito no programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que foi criado em 1992 e reúne documentos, arquivos e bibliotecas de valor internacional, regional e nacional.
Compõe ainda o acervo da BNDigital a Hemeroteca Digital Brasileira, portal de periódicos nacionais que proporciona ampla consulta de jornais, revistas, anuários, boletins etc. – e de publicações seriadas.  Nela estão disponíveis títulos que incluem desde os primeiros jornais criados no país – como o Correio Braziliense e a Gazeta do Rio de Janeiro, ambos fundados em 1808 – a jornais extintos no século passado, como o Diário Carioca e Correio da Manhã. Há ainda jornais que não circulam mais na forma impressa como o Jornal do Brasil.
Fotos mostram servidores da FBN digitalizando acervo, disponibilizado pela BNDigital (Fotos: FBN)

De acordo com a BN, o total de pesquisas efetuadas nos acervos e de suas páginas acessadas ultrapassa os 3 milhões por mês.

“Em disparado, o item mais pesquisado é a revista O Cruzeiro. Ela foi importante na questão da linguagem jornalística. Antes dela, as publicações tinham ou um caráter de costumes ou mais satírico como O Malho ou Careta.  A partir dela, a linguagem das revistas foi mudada. O segundo mais visitado é o Almanaque Laemmert – uma espécie de Diário Oficial do Império, que circulou até 1930. Ele tinha relatórios dos presidentes de províncias e serve como material de estudo para pesquisadores do Brasil Império”, relata Vinicius Martins.
Pelo site, o leitor pode navegar nas editorias – artigos, dossiês, exposições, acervo digital e hemeroteca digital – para conhecer mais detalhes sobre as obras do acervo. Ele, contudo, cresce de forma constante. Por meio do endereço eletrônico bndigital@bn.br, a BNDigital estabeleceu um canal de contato para aqueles que dispõem de documentos de interesse para a memória documental brasileira e que desejam disponibilizá-los na biblioteca digital.
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