O cartunista Miguel Paiva afirma que a cultura brasileira segue ameaçada. Ele diz: “um país como o Brasil não pode ser entregue a iniciativa privada como querem os neoliberais. Somos um país pobre, muito pobre, violento e abandonado, sem autoestima, sem orgulho, sem possibilidades reais de crescimento nessas condições”
Cartonista relata a “atrofia cultural” que o Brasil vive neste momento.
Assim mesmo, fomos capazes de produzir e muito. É impossível parar pela força a criação, a inquietação, a manifestação artística. Fica mais difícil criar mas não impossível. O complicado agora é encarar, disfarçado de democracia, o clima de penúria cultural depois de anos de efervescência, produção e reconhecimento, não só aqui mas em todo mundo, da nossa arte. Eles não querem. Querem um país debaixo de um controle rígido que só produza riqueza para quem já é rico. As tentativas desatinadas da nova CPMF, a reforma da previdência que não visa os grandes devedores, a anunciada reforma tributária e outros projetos existem para poder saldar a dívida assumida para a eleição do presidente. Nenhum projeto deste governo, cultural ou social, visa o bem estar do povo, a melhoria da informação ou o desenvolvimento humano. Esse é o projeto da direita internacional e a cultura bate de frente nisso. O que está se produzindo a favor do Donald Trump ou do Projeto Brexit, por exemplo? O que se produziu de bom na Europa de direita? Nada. A cultura não fecha com essas ideias, muito menos a História ou a Ciência. O mundo anda pra frente levando no bojo a cultura. Quando começa-se a andar pra trás é sinal de que a ela foi colocada de lado. Depois, lá na frente, quando a História mudar os rumos desta prosa vamos encontrar novamente o que foi produzido mesmo sem condições, mesmo escondido e sob censura nesse período de trevas.
Um país como o Brasil não pode ser entregue a iniciativa privada como querem os neoliberais. Somos um país pobre, muito pobre, violento e abandonado, sem autoestima, sem orgulho, sem possibilidades reais de crescimento nessas condições. Precisamos de um estado, que junto com a iniciativa privada como parceira, possa criar condições de crescimento social, de sobrevivência mesmo e de efervescência cultural que também alimenta, ou na pior das hipóteses, enquanto efervescente, ajuda na digestão dos problemas. Achar que a meritocracia é justa , que a iniciativa privada vai fazer de tudo para o desenvolvimento social é cair em outro conto da carochinha que vem sendo a especialidade deste governo. Quero ver até quando o povo que votou nele vai continuar esperando que alguma coisa aconteça em seu benefício. Só destruir, desmontar, não leva a nada, só a uma sensação ilusória de que aquilo que se combatia, mesmo que inventado, foi destruído.
E agora? fazemos o quê? Acreditamos nas histórias ou começamos a refletir sobre a merda que se estabeleceu no nosso país? Deprimimos com a situação atual ou começamos a perceber onde alguma coisa acontece para podermos reagir? Aceitamos essa tirania cultural ou começamos a articular alguma reação autônoma, alguma saída para esta penúria cultural que se anuncia? Sentamos na frente da TV para ouvir as mentiras ou trocamos informações com nossos pares onde se apresentar a possibilidade. Ficamos atrelados à grande imprensa ou buscamos a informação na imprensa alternativa? O caminho está aí. Não dá pra ficar parado.
*Cartunista, ilustrador, diretor de arte, roteirista e criador da Radical Chic e Gatão de Meia Idade.
Especial para os Jornalistas Pela Democracia
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