O viaduto de Santa Tereza, na região central de Belo Horizonte, transformou-se em palco de expressões políticas. Artistas do teatro, circo, da dança e da música apresentaram diversas performances como forma de manifestação contra o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. A Cena pela Democracia reuniu na noite de ontem (28) cerca de 500 pessoas.
Marcelo Bonis, diretor de teatro e um dos organizadores, entende que toda arte é engajada e política. “Foi praticamente uma reação espontânea. A gente sentiu, em conversas de bares, que era importante que os artistas saíssem às ruas para dizer o que pensam deste momento. E a partir daí começamos a acionar redes.”
A situação do país, segundo Bonis, é preocupante. “Temos hoje um Congresso com muito pouca credibilidade, conduzido por um acusado de corrupção, que instaurou um processo de impeachment contra uma presidenta legitimamente eleita. Isso é claramente uma ruptura com a normalidade política e um desrespeito à Constituição.”
Após ficar sabendo do evento pelas redes sociais, a historiadora Regina Magalhães decidiu participar. Ela defende mais iniciativas semelhantes. “A arte é fundamental num movimento como esse para trazer beleza e delicadeza. Ela propicia encontros, permite que nos confrontemos com os atos de ódio que temos visto. Tem gente que diz apenas eu sou contra e nós estamos mostrando pela arte que queremos construir alguma coisa.”
O músico Santoni Lobato, do grupo Tambolelê, acredita que a mobilização pela arte pode surtir efeitos. “A arte sempre foi a salvação. Imagina as mobilizações nas décadas de 60 e 70 sem o Pasquim, sem as charges do Ziraldo, então é fundamental. Em vez de armas, nós temos pincéis, tambores, violões, poesias. Precisamos nos mobilizar. Eu estou com medo de dormir e amanhã acordar em um outro Brasil.”
Lobato destacou também a escolha do local da mostra. “Precisamos ocupar os redutos da cidade, como a Praça da Estação, o Viaduto de Santa Tereza. Este espaço é nosso. Aqui estão todos: gays, negros, favelados, intelectuais. Muita gente também que não compactua com as opções deste governo, mas ao mesmo tempo não aceita um golpe.”
Léo Rodrigues – Correspondente da Agência Brasil
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