Arquivo Nacional apresenta cultura e história luso-brasileiras

A memória da cultura luso-brasileira a partir do século 15 é o foco da exposição O Mundo Luso-Brasileiro inaugurada no Arquivo Nacional (AN), no centro do Rio. Para a historiadora Cláudia Heyneman, que com a colega Vivien Ishaq, fez a curadoria, a exposição é a possibilidade de se contar a história do império ultramarino que, na avaliação dela, talvez seja o maior da época moderna.

“Esse império tem histórias contidas que vão desde a ocupação dos holandeses, o tráfico de escravos, os viajantes, as ideias perigosas, quando se pretende romper com Portugal até os princípios da ciência”, explicou.

A exposição apresenta documentos originais e reproduções do período da Colônia à Independência do Brasil, produzidos entre o fim do século 16 e o início do século 19. Além de percorrer a expansão de Portugal pelo mundo, com a colonização de Macau, na China, e de Diu, na Índia, mostra também a determinação portuguesa no período de propagar a religião católica.

Raramente exposta ao público, o original da Constituição brasileira de 1824, outorgada por Dom Pedro I, é o destaque em um dos salões da exposição. Para que o visitante veja os detalhes da capa da primeira constituição do país, feita em veludo verde com o brasão e ornamentação
banhados a ouro, os organizadores puseram um espelho em baixo do exemplar para que ela possa ser melhor observada.

No juramento o imperador começa com a defesa da fé católica, enquanto a atual constituição determina o estado laico. “Não se concebia o Estado sem a Igreja Católica era uma relação orgânica e indissolúvel”, disse a historiadora.

Ainda entre os documentos originais, o público vai poder ver o tratado de paz entre Portugal e França, assinado em 1801 por Napoleão Bonaparte e que provocou o fechamento dos portos portugueses aos navios ingleses. A curadora disse que, quando se fala na vinda da corte portuguesa ao Brasil, é costume pensar na aliança entre Portugal e Inglaterra e da invasão
francesa em terras portuguesas, mas, antes disso, Portugal viveu um momento difícil causado pela pressão da Espanha, França e Inglaterra na disputa do continente europeu.

“Encontrar um documento com a própria assinatura de Napoleão em que Portugal,
naquele momento, fecha os seus portos à Inglaterra, é politicamente muito
interessante em ver quanto um pequeno reino fez política para salvaguardar o seu
império”, explicou.

A vida brasileira da época são retratadas nas obras  do pintor francês Jean Baptiste Debret, além das cenas pintadas por J. B. Spix e  Von Martius, integrantes da missão científica austríaca que esteve no Brasil  entre 1817 e 1820. A historiadora informou que a exposição tem uma prancha da  Viagem Pitoresca, nome do livro de Debret, em que ele mostra os vendedores de
arruda nas ruas do Rio de Janeiro. “Debret foi talvez o maior artista desse  período, porque ele pegou essas cenas de cotidiano e prestou particular atenção  aos escravos mostrando a condição em que eles estavam naquela sociedade”,  disse.

A presença holandesa no chamado Novo Mundo também é marcante na exposição. O
vídeo Nordeste: o País dos Holandeses tem imagens extraídas de livros raros dos
séculos 17 e 18. “ Com mais liberdade religiosa e outras liberdades. Embora os
holandeses mantenham toda a questão da escravidão, não se pode negar que é um
período também de maior liberdade de pesquisa científica. Eles constroem um
observatório astronômico”, disse.

Na avaliação de Cláudia Heyneman, o  auge da exposição, após as transformações que acontecem em Portugal, é a chegada  da corte portuguesa no início do século 15, quando começa um novo tempo para o  Brasil, transformado em império por Dom Pedro I.

Com entrada franca, a  exposição, que começou hoje, vai até o fim de outubro. Ela pode ser vista de  segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, no Arquivo Nacional, na Praça da  República, 173 no Rio de Janeiro.

Fonte: Agência Brasil

 

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