Escritor, poeta e humorista brasileiro nascido no interior de uma diligência, no Estado do Rio Grande do Sul, em um local próximo à fronteira com o Uruguai, de largo prestígio e de vida atribulada, especialmente pela seu idealismo político, e um dos personagens mais criativos e interessantes do século passado, no Brasil. Matriculou-se (1906) como interno no Colégio Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo-RS, onde faz o seu primeiro jornal manuscrito, intitulado Capim Seco, com tiragem de um exemplar (1909). Deixou o colégio após cursar o 5º. ano ginasial (1911) e, três anos depois, matriculou-se na Faculdade de Medicina de Porto Alegre-RS. Após sofrer um derrame (1918), abandonou a Faculdade no 4º. ano e passa a publicar sonetos e artigos em jornais e revistas, e dedicou-se exclusivamente ao jornalismo e ao jornalismo humorístico. Casou-se com Alzira Alves, com quem tem três filhos: Ady, Ary e Arly. Com o casamento desfeito, mudou-se para o Rio de Janeiro (1925) e passou a trabalhar no jornal “O Globo” como articulista. Com a morte do padrinho Irineu Marinho, Diretor-proprietário do diário, desliga-se do jornal e passa a a escrever uma coluna na primeira página do Correio da Manhã, assinando sob o pseudônimo de Apporelly. Com o sucesso resolve fundar seu próprio jornal, A Manha (1926), um tablóide de circulação nacional, que também tornou-se um sucesso completo, superando todos os concorrentes em vendas. Irreverente, com a revolução (1930), proclamou-se Duque de Itararé, um herói da batalha que não houve. Pelas constantes estocadas contra o governo instalado pela revolução foi preso (1932). Preso, novamente (1935) por ser militante e um dos fundadores da Aliança Nacional Libertadora, só seria solto em dezembro do ano seguinte, permanece preso primeiro a bordo do navio presídio D. Pedro I, depois na Casa de Detenção do Rio de Janeiro, juntamente com Hermes Lima, Eneida de Morais, Nise da Silveira e Graciliano Ramos. Dona Zoraide, sua segunda mulher, faleceu nesse ano. Casou-se (1937), pela terceira vez, com D. Juracy, que lhe dá mais um filho, Amy Torelly. e, no ano seguinte voltou a ser colunista do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro. Viúvo novamente (1940) também perdeu a filha Ady (1943). Apoiado por amigos e jornalistas, ressuscitou o A Manha, com enorme sucesso e participou ativamente da campanha de Yedo Fiuza, candidato oficial do Partido Comunista Brasileiro (PCB) à presidência da República, e elegeu-se para Câmara do Distrito Federal pelo PCB e passou a colaborar com a Folha do Povo, de Luiz Carlos Prestes, fazendo parte de uma equipe com nomes como Carlos Drummond de Andrade, Di Cavalcanti, Jorge Amado e Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta. Com o final registro do PCB (1946) todos os seus representantes eleitos perderam seus mandatos. Em virtude de problemas financeiros, A Manha deixou de circular (1948), mas no ano seguinte lança novo grande sucesso, em São Paulo: Almanaque d’A Manha (1949). Com o sucesso do lançamento, animou-se e voltou a editar (1950) A Manha, em São Paulo, onde o humorista viveu até setembro (1952), quando o humorístico deixou de circular, definitivamente. Lançou (1955) dois Almanhaques, no 1º. e 2º. semestres, e passou a colaborar com o jornal Última Hora. Casando-se pela quarta e última vez, com Aida Costa, voltou a morar novamente no Rio de JAneiro. Viajou pela China (1963), a convite do governo de Pequim, passando por Praga e Moscou. Nos anos seguintes (1964/1970), dedicou-se a seus horóscopos biônicos e quadrados mágicos. Morando em um pequeno apartamento no bairro das Laranjeiras, Rio de Janeiro, faleceu aos 76 anos de idade.
Frases do Barão de Itararé. Muitas delas tiradas da sabedoria popular, das saudáveis conversas de boteco, outras, de sua própria criatividade. E algumas que foram apenas atribuídas a ele, pois se não disse, pensou.
* De onde menos se espera, daí é que não sai nada.
* Mais vale um galo no terreiro do que dois natesta.
* Quem empresta, adeus…
* Dizes-me com quem andas e eu te direi se vou contigo.
* Pobre, quando mete a mão no bolso, só tira os cinco dedos.
* Quando pobre come frango, um dos dois está doente.
* Genro é um homem casado com uma mulher cuja mãe se mete em tudo.
* Cleptomaníaco: ladrão rico. Gatuno: cleptomaníaco pobre.
* Quem só fala dos grandes, pequeno fica.
* Viúva rica, com um olho chora e com o outro se explica.
* Depois do governo ge-gê, o Brasil terá um governo ga-gá. ( Ge-gê: apelido de Getulio Vargas. Ga-gá: referia-se às duas primeiras letras no sobrenome do novo presidente, Eurico Gaspar Dutra).
* Um bom jornalista é um sujeito que esvazia totalmente a cabeça para o dono do jornal encher nababescamente a barriga.
* Neurastenia é doença de gente rica. Pobre neurastênico é malcriado.
* Voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim , afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato.
* Os juros são o perfume do capital.
* Urçamento é uma conta que se faz para saveire como debemos aplicaire o dinheiro que já gastamos.
* Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados.
* Banco é uma instituição que empresta dinheiro à gente se a gente apresentar provas suficientes de que não precisa de dinheiro.
* Mulher moderna calça as botas e bota as calças.
* A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana.
* Este mundo é redondo, mas está ficando muito chato.
* Pão, quanto mais quente, mais fresco.
* A promissória é uma questão “de…vida”. O pagamento é de morte.
* A forca é o mais desagradável dos instrumentos de corda.
* A gramática é o inspetor de veículos dos pronomes.
* Cobra é um animal careca com ondulação permanente.
* Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades.
* Sábio é o homem que chega a ter consciência da sua ignorância.
* Há seguramente um prazer em ser louco que só os loucos conhecem.
* É mais fácil sustentar dez filhos que um vício.
* A esperança é o pão sem manteiga dos desgraçados.
* Adolescência é a idade em que o garoto se recusa a acreditar que um dia ficará chato como o pai.
* Advogado, segundo Brougham, é um cavalheiro que põe os nossos bens a salvo dos nossos inimigos e os guarda para si.
* Senso de humor é o sentimento que faz você rir daquilo que o deixaria louco de raiva se acontecesse com você.
Cronologia
1895, 29 de janeiro – Nasce Aparício Fernando de Brinkerhoff
Torelly, em localidade incerta, próximo á fronteira com o Uruguai.
1906, 15 de abril – Ingressa como interno no Colégio Nossa Senhora
da Conceição, em São Leopoldo – RS.
1909 – No colégio faz seu primeiro jornal manuscrito intitulado “Capim
Seco”, com tiragem de um exemplar.
1911 – Deixa o colégio após completar o 5º; ano ginasial. Mais tarde,
por influência da família, matricula-se na Faculdade de Medicina de
Porto Alegre.
1916 – Publica seu primeiro e único livro: “Ponta de Cigarros”, “versos
diversos”, e programas bem humorados.
1918 – Nas féria sofre um derrame andando a cavalo na fazenda de
um tio. Logo depois abandona a faculdade no 4º; ano.
Inicia andanças pelo interior do estado, fazendo conferência sobre
diversos assuntos.
Publica sonetos e artigos em jornais e revistas: “Kodak”, Ä Máscara”,
“Maneca”.
Dedica-se exclusivamente ao jornalismo. Funda “Ä Noite e a Reação”,
“A Tradição” e “O Chico”, seu primeiro jornal de humor.
Casa-se com Alzira Alves, com quem tem 03 filhos: Ady, Ary e Arly.
1925 – Já separado, muda-se para o Rio. É admitido em “O Globo”
como articulista, sob proteção de Irineu Marinho. Neste mesmo ano
falece o diretor-proprietário do jornal O Globo, e Aparício Torelly
desliga-se do jornal. No mesmo dia recebe convite de Mário Rodrigues
( pai de Nelson Rodrigues ), ex – secretário do Correio da Manhã”,
para escrever uma coluna na primeira página da futura “A Manha”.
Para lá leva Andres Guevara, que conhecera há pouco.
1926, 02 de janeiro – Estréia do jornal A Manha com a coluna “A
manhã tem mais …”, assinada por Aporelly. A seção agrada e o
humorista é levado a criar outra, também na primeira página.
1926, 13 de maio – Abandona o emprego e funda seu próprio jornal
de humorismo, “A Manha”, tablóide de circulação Nacional. o jornal é
um sucesso completo superando as fórmulas cansadas de “O Malho”,
“Fon-fon” e “Careta”.Com charges arrojadas para a época e fotografias
retocadas, a formulação gráfica de “A Manha” acompanha o tom
irreverente dos textos – ilustradores como Martiniano, Mendes e Hilde
se sucedem na equipe técnica contando com colaboração esparsa de
Nássara, que principiava sua carreira. Nessa época contrata o amigo
Andres Guevara, diagramador e chargista paraguaio, com quem
manteria colaboração até os anos 50.
1929 – “A Manha” circula por quatro meses como encarte semanal do
“Diário da Noite” de Assis Chateoubriand. Na primeira semana o jornal
dobra a tiragem, vendendo 15000 exemplares, até atingir 125.000
exemplares na data da publicação do programa aliança Liberal.
1930 com a revolução, autoproclama-se Duque de Itararé, herói da
batalha que não houve. Semanas depois, rebaixa-se a Barão como
prova de modéstia.
1932, 2 de setembro – É preso pela 4º; delegacia auxiliar ( responsável
pela ordem política e social), após “delirante atividade revolucionária”
mantida nas páginas de “A Manha” e constantes estocadas contra o
governo instalado pela revolução.
1934, outubro – Abre o “Jornal do Povo” em companhia de Aníbal
Machado, Osvaldo Costa e Pedro Mota Lima. em sua curta vida de
dez dias, o jornal publica em fascículos a história de João Cândido, um
dos marinheiros da revolta de 1910. O Barão é seqüestrado e
espancado por oficiais da marinha nunca identificados. Depois do
atentado retorna á redação e afixa uma placa na porta: “Entre sem
bater”.
1935, 9 de dezembro – É preso novamente por ser militante e um dos
fundadores da Aliança Nacional Libertadora ( ALN ).
Falece sua Segunda esposa, Dona Zoraide.
1936 – Permanece preso durante todo o ano, primeiro a bordo do
navio presídio Pedro I, depois, na casa de detenção do rio de Janeiro;
juntamente com Hermes Lima, Eneida de Morais, Nise da Silveira e
Graciliano Ramos.
1936, 21 de dezembro – É libertado com outros cem presos. em
seguida reabre “A Manha” que só consegue funcionar um ano, sob
séria censura do DIP. Casa-se com Dona Juracy, seu terceiro
casamento, com quem tem mais um filho, Amy Torelly.
1938, janeiro – Relança a coluna “A Manhã tem mais …” no Diário de
Notícias do Rio de Janeiro, onde colabora por quase seis anos.
1939, 27 de janeiro – É preso novamente por três dias. o episódio se
repetirá diversas vezes até o fim do Estado Novo.
1940 – Morre Dona Juracy ao dar a luz. Seria o segundo filho, a
criança também falece. Aporelly retira-se para uma chácara em Bangu,
cedida por Guilherme da Silveira Filho. ali é instalado um laboratório
bastante completo, onde o Barão desenvolve pesquisas sobre a vacina
contra a febre aftosa, baseado nas teorias de Pasteur.
1943 – Morre sua filha, Ady, devido a complicações provocadas por
uma cirurgia de apendicite.
1944 – amigos e jornalistas homenageiam Aparício Torelly pelos 25
anos de jornalismo com um banquete na ABI.
1945 Início do ano – Aporelly encabeça a lista dos escritores e
jornalistas num abaixo assinado por liberdades democráticas.
Reaparece “A Manha” com sucesso igual ou superior ao das décadas
de 20 e 30. Desta vez conta com a colaboração de José Lins do Rego,
Sérgio Milliet, Rubens Braga, Raimundo Magalhães Jr., Álvaro Lins e
outros. Arnon de Melo assume os assuntos comerciais da “A Manha” e
incentiva o aparecimento da figura do Barão como garoto-propaganda
na publicidade criada pelo jornal.
Participa ativamente da campanha de Yedo Fuiza, candidato oficial do
PCB á presidência.
1947 – Candidata-se a câmara do Distrito Federal pelo PCB, sendo o
oitavo mais votado de sua bancada, a qual obtêm a maioria na câmara
dos vereadores. O slogan da campanha fio: “Mais leite, mais água,
menos água no leite – vote no Barão de Itararé, Aparício Torelly”. A
convite de Luís Carlos Prestes, passa a colaborar com a Folha do
Povo. Na equipe estavam Carlos Drumond de Andrade, Di
Cavalcante, Jorge Amado e o jovem Sérgio Porto.
No final do ano o registro do PCB é cassado e seus representantes
eleitos perdem seus mandatos.
1948 – com dificuldades financeiras “A Manha” para de circular.
1949 – O Barão se associa a Guevara e lança o primeiro “Almanhaque”
ou “Almanhaque d’ A Manha”, em São Paulo.
1950- “A Manha” volta a Circulação, sendo editada em São Paulo,
onde o Barão passa a viver por algum tempo.
1952, setembro – “A Manha” deixa de circular, dessa vez, para
sempre.
1955 Lança dois “Almanaques”, 1º e 2º semestre.
Colabora por algum tempo com a “Última Hora”. Velho e cansado,
fixa-se definitivamente no rio de Janeiro.
Casa-se com Ainda Costa ( quarto casamento ), a qual tem um fim
trágico alguns anos depois.
1963 Viaja pela China a convite do governo de Pequim, com
passagens por Praga e Moscou.
1964 / 1970 – dedica a vida a seus Horóscopos biônicos e Quadrados
Mágicos” Passa a Maior Parte do tempo estudando e vive só em um
pequeno apartamento em Laranjeiras.
1971, 27 de novembro – Morre Aparício Torelly, isolado de todos,
aos 76 anos de idade.
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