ALMANAQUE ANOS 80
Você já deve ter ouvido por aí: os anos 60 foram da Bossa Nova e do início da luta armada contra a ditadura, os 70 trouxeram a Tropicália e a liberação feminina e os 80 foram a década perdida. Mas peraí. Perdida para os outros e para os mal-humorados que não a aproveitaram como deveriam. Ok, você venceu, os anos 80 não foram de contestação política, nem de uma revolução artística pseudo-intelectual e mal sentiram o gosto amargo da Censura, que já estava em seus últimos suspiros. Mas justamente por isso foram muito mais divertidos. Lançaram o rock nacional, os primeiros jogos eletrônicos (do Telejogo ao Atari, passando pelos game-boys) e teve a melhor seleção brasileira até hoje desde o tri em 70, aquela da Copa da Espanha de 82. De quebra ainda botou no mundo o cubo mágico, o relógio Champion que trocava pulseira e aqueles picolés diferentões da Gelatto.
Na porta de entrada de 2005, quando se completam bodas de prata do início da década (sim, 1980 já é anos 80, por mais que oficialmente o período vá de 1981 a 1990), a Ediouro lança “Almanaque anos 80”, dos jornalistas Luiz André Alzer e Mariana Claudino. O livro, longe de ter a pretensão de ser uma enciclopédia da década, é um apanhado de tudo o que marcou a infância, a adolescência e a juventude de uma geração.
“Almanaque anos 80” é dividido em oito capítulos: Televisão; Revistas, figurinhas & livros; Música; Cinema; Esporte; Guloseimas; Diversão; e Modismos. Cada um deles é recheado de curiosidades, listas, muitas fotos e, inclusive, informações quase inéditas. “Reunir um punhado de lembranças já seria muito bacana, mas queríamos ir além do saudosismo. Um dos trunfos do livro é revelar detalhes que quase ninguém sabe, como a quantidade exata de chicletinhos que vinha naquele saquinho rosa e vermelho dos Minichicletes Adams: eram 155. Ou que foi o Roupa Nova, uma banda considerada brega, que gravou o hino oficial do Rock in Rio em 1985”, explica Luiz André Alzer.
Para reunir esta enxurrada de curiosidades e lembranças, Alzer e Mariana se dividiram em algumas frentes. Os dois se enfurnaram na Biblioteca Nacional e vasculharam edição por edição das principais revistas de informação dos anos 80 e das publicações jovens, além de fazer um levantamento detalhado em jornais.
Paralelamente, entrevistaram dezenas de personagens que marcaram a década – alguns que sumiram depois de um sucesso efêmero. Várias empresas que lançaram brinquedos, chocolates, balas, refrigerantes, roupas e outros ícones da década se empolgaram com a proposta do livro e se empenharam em conseguir embalagens antigas e informações preciosas. Mas nem sempre o garimpo foi fácil. “Às vezes, para conseguirmos um único número ou data levávamos dias ou até semanas. Naquela época não havia uma preocupação de se fazer um arquivo. Além disso, ninguém imaginava que um iogurte ou um tipo de caneta estava fazendo história”, diz Mariana: “A própria lembrança das pessoas falhava e tínhamos que checar qualquer informação duvidosa”.
Com tantas curiosidades e lembranças reunidas, entrou em cena o designer gráfico Marcelo Martinez, de 33 anos e outro fã da cultura pop dos anos 80. Ele tratou de deixar o livro com um visual que remetesse à década, tanto na diagramação quanto na escolha das fontes de texto. E para isso Martinez, Alzer e Mariana levantaram mais de 500 imagens marcantes e procuraram equilibrar algumas óbvias, com outras surpreendentes. “Se em cada página conseguirmos arrancar uma exclamação de surpresa nas pessoas, seja por uma informação ou uma foto, já vamos ficar satisfeitos”, diz Alzer.
Abílio Friedman