Adoniran Barbosa
Adoniran Barbosa nasceu em Valinhos, em 1912. Uma infância pobre obrigou-o a trabalhar cedo, aos 10 anos. Como a lei da época dizia que a criança só poderia trabalhar após os 12 anos, a solução foi falsificar uma certidão de nascimento na qual Adoniran “voltasse no tempo e nascesse” em 1910.
Morou em Jundiaí e Santo André aonde trabalhou em diferentes áreas. Foi pintor de paredes, entregador de marmitas, encanador, mascate, trabalhou em fábrica de tecidos, entre outros. Adoniran costumava dizer que não parava em emprego nenhum, pois vivia batucando e compondo sambas, o que irritava seus chefes.
Em 1934, teve sua primeira oportunidade no rádio num programa de calouros. Infelizmente, não foi aprovado. Mas, persistente, voltou á então Rádio Cruzeiro do Sul, no Largo da Misericórdia e com o samba Filosofia, de Noel Rosa, ganhou primeiro lugar. Achando que já havia achado seu lugar ao sol, nosso poeta participou de outro programa de calouros sob a batuta de Jorge Amaral.
A rádio da ocasião era a Rádio São Paulo situada à rua Sete de Abril. Foi um fiasco! Após sua apresentação, Jorge Amaral chamou Adoniran á um canto e falou : “Sua voz é boa para acompanhar defunto!”. Adoniran, muito bem humorado, mais tarde comentaria: “Coitado, Jorge estava enganando a si mesmo…”
A partir daí, começou a cantar em um programa semanal de 15 minutos, com acompanhamento de regional. Trabalhou na Rádio Cruzeiro do Sul transferindo-se, depois, para a Rádio Record, onde fez rádio-teatro.
Os Demônios da Garoa foram seus fiéis intérpretes. Com a gravação de Saudosa Maloca e O Samba do Arnestro, em maio de 1955, Adoniran Barbosa firmou um estilo peculiar que o fez famoso como o mais fiel repórter das camadas populares paulistanas, ao retratar o linguajar resultante do encontro dos diferentes grupos de imigrantes.
Adoniran Barbosa foi um colecionador nato de apelidos. Seu verdadeiro nome era João Rubinato, mas cada situação por ele vivida o transformava num novo personagem, numa nova história. Ele nos conta a vida de um típico paulistano, filho de imigrantes italianos, a sobrevivência do paulistano comum numa metrópole que corre, range e solta fumaça por suas ventas. Tirou de seu dia a dia a idéia e os personagens de suas músicas. Iracema nasceu de uma notícia de jornal – quando uma mulher havia sido atropelada na avenida São João.
Foi um grande colecionador de amigos, com seu jeito simples de fala rouca, contador nato de histórias, conquistava o pessoal do bairro, dos freqüentadores dos botecos onde se sentava para compor o que os cariocas reverenciaram como o único verdadeiro samba de São Paulo. Mais do que sambista, Adoniran foi o cantor da integração Rio-SP.
Duas estrofes exemplificam bem as obras primas do humor de Adoniran. A primeira, extraída de Pafúncia (os nomes das musas de Adoniran são um capítulo a parte):
O teu coração sem amor
se esfriou, se desligou,
até parece, Pafúncia,
aqueles elevador,
que está escrito “num funúncia”
e a gente sobe a pé!
e pra me judiar, Pafúncia,
nem meu nome tu pronúncia.
A outra vem da minimalista Tocar na Banda, uma verdadeira aula sobre relatividade:
Num relógio é quatro e vinte
no outro é quatro e meia
é que de um relógio pra outro,
as hora vareia.