Exposição no IMS reúne esculturas de carrancas, documentos diversos e fotos de Marcel Gautherot, que percorreu o rio São Francisco registrando a vida das populações ribeirinhas
Figuras esculpidas em madeira com forma humana ou animal, as carrancas fazem parte do imaginário popular e hoje são muito utilizadas como peças de comércio de artesanato. Mas não foi sempre assim, como pretende deixar claro a exposição A Viagem das Carrancas, que, depois de passar pela Pinacoteca do Estado de São Paulo, aporta no Instituto Moreira Salles (IMS), onde permanece aberta à visitação do público até 20/03. Ao todo, estarão expostas 40 carrancas de coleções públicas e privadas e 42 fotografias do francês Marcel Gautherot pertencentes ao acervo do IMS, além de pequenas esculturas, um modelo de barco e documentos diversos.
Os primeiros registros das carrancas em solo brasileiro datam da segunda metade do século XIX, nas águas do rio São Francisco, onde eram utilizadas na proa das embarcações para torná-las facilmente reconhecíveis, além de protegê-las de perigos imaginados, como espíritos e monstros marinhos. Foi por ali que os fotógrafos franceses Gautherot e Pierre Verger navegaram em meados da década de 1940 para documentar a vida das populações ribeirinhas, além de registrar imagens de carrancas que ainda existiam nas grandes embarcações da região.
As fotos de Gautherot, publicadas nas revistas O Cruzeiro (1947),Sombra (1951) e Módulo (1955) e no livro Brésil (1950), chamaram a atenção na época do público e de pesquisadores, pela qualidade estética das peças e por não haver nada parecido em outros lugares do mundo. A publicação dessas imagens e a consequente descoberta das carrancas inaugurou uma nova fase na avaliação e até na criação de arte popular no Brasil.
“Desde o início, as carrancas eram conhecidas pelos traços grotescos, que se tornaram uma característica recorrente do gênero. No entanto, muitas das mais antigas são bastante realistas. É o caso de uma série de cabeças de leão, de contornos quase clássicos, e da maioria dos cavalinhos, usados geralmente em embarcações menores”, explica Lorenzo Mammì, curador da exposição.
Entre os destaques da mostra está a figura de proa da embarcação Minas Gerais, a maior que já navegou o São Francisco, esculpida pelo primeiro escultor de carrancas conhecido, Afrânio, ainda no fim do século XIX. Também faz parte da exposição a figura esculpida por Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany (1882-1985) – o mais conhecido escultor de carrancas do país – para a barca Americana. Guarany começou a entalhar carrancas em 1905 e essa foi a terceira produzida por ele, em 1907. Outras obras suas compõem a exposição, incluindo seis feitas sob encomenda de colecionadores, entre as décadas de 1950 e 1960. Para Mammì, “abordar hoje esse assunto nos cobra o desenvolvimento de novos instrumentos críticos para a avaliação desse tipo de produção”.
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Colaboração de Danielle Veras
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