A primeira sala fixa de cinema no Brasil foi inaugurada no dia 31 de julho de 1897

cinematografo1CINEMA DO BRASIL – A PRIMEIRA SALA FIXA

A primeira sala fixa de cinema no Brasil foi inaugurada no dia 31 de julho de 1897 na Rua do Ouvidor, centro da cidade do Rio de Janeiro. Os proprietários dessa sala eram Pascoal Segreto e José Roberto Cunha Salles. O Dr. Cunha Salles era famoso como grande explorador do jogo do bicho e outros jogos de azar, bonecos automáticos, caça níqueis e outros aparelhos de nomes estranhos como eletrógrafo e grafofonos. No Salão de Novidades Paris, no Rio de Janeiro, de sua propriedade, existia também o cinematógrafo Lumiêre.

A imprensa noticiou o fato da inauguração da seguinte forma: “O animatógrafo Lumiêre passou a ser a mais sublime maravilha de todos os séculos. Ver as pinturas moverem-se, andarem, trabalharem, sorrirem, chorarem com tamanha perfeição e nitidez como se fossem naturais é assombroso! Salve Lumiêre!” ?.

O sucesso do salão foi tão grande que emissários foram enviados à Europa e Estados Unidos para adquirirem novas fitas cinematográficas. As viagens passaram a se constantes, e os jornais anunciavam as novas aquisições diariamente.

No final de 1897, o Dr. Cunha desligou-se dos Segreto, comprou um dos projetores à venda e passou a fazer exibições em Petrópolis.

PRIMEIRAS FILMAGENS NO BRASIL

No dia 19 de junho de 1898, Afonso Segreto regressou de uma de suas viagens comerciais e trouxe uma càmara de filmar. Ainda a bordo do navio francês Brêsil, ele filmou a baia de Guanabara. Os jornais noticiaram que grandes surpresas apareceriam em breve.

No dia 5 de julho, os irmãos Segreto filmaram a visita que o presidente da Republica Prudente de Morais fez ao cruzador Benjamin Constant. A partir daí, todos os acontecimentos políticos e populares do Rio passaram a ser filmados, assim como as cenas recreativas que aconteciam pela cidade.

O público queria a cada dia mais novidades. A fama de Pascoal Segreto espalhou-se pelo Brasil afora, e ele passou a ser chamado de “Ministro das Diversões do Rio de Janeiro”. Pascoal montou um laboratório próprio e logo os acontecimentos importantes passaram a ser reproduzidos e exibidos 48 horas depois no cinematógrafo do Salão Paris, no Rio de Janeiro.

A ELETRICIDADE E O CINEMA BRASILEIRO

A Usina de Ribeirão das Lajes já estava sendo construída no início do século pelo The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Company Limited (Cia. De Carris, Luz e Força do Rio de Janeiro Ltda.). Era uma unidade provisória de 3.400 HP e começou a funcionar em meados de 1907.

O fornecimento de energia elétrica foi fundamental para o estabelecimento das salas fixas de projeção em todo o Brasil. No Rio de Janeiro, no segundo semestre de 1907, mais de 20 salas foram instaladas, tendo o maior número de assentos a recém inaugurada Avenida Central. O cronista João do Rio dizia que o cinematógrafo era o delírio da época.

OS PRIMEIROS CINEGRAFISTAS

Os cinemas que mais chamavam a atenção eram O Grande Cinematógrafo Rio Branco, o Cinematógrafo Pathé e o Cinema Palace. Dedicaram-se às filmagens: Cristóvão Guilherme Auler, dono do Rio Branco e o fotógrafo Julio Ferrez, que cinegrafava para o Pathé, que era de propriedade de seu pai Marc Ferrez e de Arnaldo Gomes de Souza. Os donos do Palace eram José Labanca, com o fotógrafo da revista O Malho, Antonio Leal. Havia ainda os irmãos Botelho, que filmavam no Rio de Janeiro e São Paulo. Com tantos cinegrafistas, Pascoal, o primeiro de todos, quase desapareceu. Mudou o nome do Paris para Pavilhão Internacional e passou a exibir somente fitas “alegres”. Gilberto Amado, em suas memórias, relatou que na sala em frente à Galeria Cruzeiro eram realizadas “exibições de filmes obscenos, iguais aos que se mostravam em certos bordéis de Paris, de um realismo torpe. A sala enchia-se de deputados, senadores, comerciantes, dos homens mais sérios e de mulheres da vida”. O gênero foi bem aceito e Pascoal passou a exibi-lo em suas outras casas. Uma delas chegou até a receber a visita do escritor francês France quando ele esteve no Brasil, no início do século XX.

A PRIMEIRA COMÉDIA BRASILEIRA

A primeira comédia cinematográfica feita no Brasil chamava-se “Nhò Anastácio chegou de viagem”, dos irmãos Ferrez, interpretada por José Gonçalves Leonardo, e narrava as aventuras de um roceiro no Rio de Janeiro, o desembarque na Central do Brasil, o Palácio Monroe, O Passeio Público, o namoro com uma cantora e o final, quando chega a esposa.

A MAIOR PRODUTORA CARIOCA

A maior produtora carioca de fotocinematografia era a Labanca, Leal & Cia., do Palace. Essa Empresa mantinha um grande armazém-depósito de aparelhos e fitas, considerado um dos melhores existentes no mundo à época. Era de uma enorme variedade que ia desde fitas de costumes e científicas, até filmes agrícolas, industriais e comerciais. Em 1908, essa atividade de Leal era imensa, com todas as atualidades, chegando até mesmo a ter em seu acervo a primeira fita esportiva, “Match Internacional de futebol”, entre brasileiros e argentinos e a primeira fita sobre corrida de automóveis – “O Circuito de Itapecerica”, disputado em São Paulo; havia ainda pequenas comédias e um drama: “Os estranguladores”.

OS DRAMAS

Antònio Leal também fez a primeira filmagem de adaptação de um romance brasileiro com càmara imóvel, filmado no Circo Spinelli. “Os Guarups”, pantomima inspirada em José de Alencar, foi adaptada pelo palhaço negro Benjamim de Oliveira, que fazia o papel de Peri.

Em 1908, outro sucesso inspirado num crime em São Paulo. O comerciante Elias Faharat é assassinado por um caixeiro que o esquarteja, coloca dentro de uma mala e remete para Santos. Os produtores descobriram que o gênero policial atraia grande público. Três produtores reconstituíram o crime e filmaram. Francisco Serrador, São Paulo, produziu o filme, que ganhou o nome de “O crime da mala”, e foi fotografado por Aberto Botelho; Os Ferrez, Rio de Janeiro, produziram “A mala sinistra”, mas Leal leva a melhor. O seu “A mala sinistra”, é o mais longo dos três, com mais de 20 quadros e apoteose colorida.

Em 1909, Fiqueiredo Pimentel já comentava: “o futuro desses divertimentos é absolutamente imprevisto…”.

OS FILMES CANTADOS

Também em 1909, começam a se firmar os filmes cantados. Os artistas ficavam atrás das telas e iam falando ou cantando, conforme a cena. O gênero começou em São Paulo, com Francisco Serrador. Muitos eram rodados na ponte grande e os atores ficavam num barquinho, representando cenas romànticas, cantando velhas canções espanholas ou italianas, ou árias de óperas conhecidas.

No Rio de Janeiro, Auler, do Cinematógrafo Rio Branco, contrata cantores líricos e produz vários filmes, fotografados por Julio Ferrez e orquestrados pelo maestro Costa Junior. No início eram filmes curtos, como “Barcarola” , filme natural feito em Copacabana e Arpoador, com Antònio Cataldi. Com o sucesso, as fitas se alongaram e em 1911, “O Guarani” foi filmado quase integralmente, cantado por artistas vindos especialmente de Buenos Aires.

Labanca e Leal são os primeiros e em julho de 1909, o Palace exibe em 3 atos a opereta “A viúva alegre”, dirigido por Eduardo Leite e Américo Colombo.

Antònio Leal monta sua própria firma e o Palace apresenta fitas fotografadas por Emílio Silva, e é feito o primeiro drama histórico: “Inês de Castro”.

A briga entre Labanca e Leal favorece Auler, e o Rio Branco passa a ser o favorito do público. “A viúva alegre”, de Auler, com fotografia de Aberto Moreira atinge até o final do ano 300 exibições.

“A Tosca” e “Sonho de Valsa”, com direção de José Gonçalves Leonardo entram em cartaz no mesmo ano, além de “A Gueisha”, que foi mandado colorir em Paris, na casa Pathé. “Paz e amor”, foi o primeiro filme brasileiro de maior sucesso na primeira e Segunda décadas do século XX.

O sucesso das operetas em filmes é tanto que modelos de sapatos são lançados (“Chaleira” e “Viúva alegre”), e as lojas comerciais fazem reclame copiando as fitas de sucesso. “Paz e Amor” vira nome de uma revista cinematográfica, aproveitando o momento. O nome foi tirado do discurso de posse do Presidente Nilo Peçanha, que teria declarado aos jornalistas que “Farei um governo de Paz e amor…”

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