A obra de Safia ao olhar de todos

 

A artista Safia de Pirenópolis ganha site dedicado à sua obra. Ele é reconhecida por nomes consagrados, como o bibliófilo José Mindlin.

Em tempos de guerra como nunca dantes vivemos sequer em pesadelos, é quase terapêutico sonhar de um dia poder ver a Arte e a Cultura não mais relegadas aos “segundos cadernos”, mas tomando todas as manchetes do noticiário da mídia… e a Política, por intrínseca responsabilidade, ocupando pacífica e serenamente as páginas de sua devida editoria. Sem querer melindrar os do ramo, que cansaço – nosso e suponho que dela também – por esse seu diário, ininterrupto, escandaloso cartaz em todas as primeiras páginas de todos os veículos!

Como certamente essa troca de valores nunca ocorrerá, vale ao menos relaxar das tensões e angústias do nosso momento crucial e desfrutar dos registros contidos no site recém-lançado sobre obra e vida de uma das maiores artistas populares brasileiras: Safia de Pirenópolis.

 

Dessas personagens da área rural, de talento genuíno e extraordinário que o Brasil é rico em produzir, Safia nasceu na região dos morros Pireneus, que rodeiam a goiana e colonial cidade de Pirenópolis, vizinha a Brasília, e cresceu arteira e artista, sem ter cursado estudos tradicionais e mesmo de artes. No entanto, além de estatuárias e pinturas, ao longo de seus 92 anos, hoje retirada em sua modesta casa na cidade, ela criou poemas, roteiros para cinema, peças teatrais e também canções em que narra a história de algumas de suas esculturas.

Exposição comemorativa aos 80 anos da artista

site, que levou alguns anos para ser efetivado, é na verdade uma  oportuna e feliz homenagem do advogado Eduardo Nogueira da Gama, o maior colecionador de sua obra e das memórias registradas em fotos, textos, críticas e vídeos, reunidos e organizados no portal. Eduardo acompanha o trabalho de Safia como uma espécie de seu mecenas, protetor, promotor, curador, há quase quatro décadas – e não sem despertar ciúmes noutros grandes admiradores da artista.

 

Safia vendia suas esculturas nas ruas da turística “Piri”, quando foi descoberta pelo casal de professores Elisa e Vicente Martinez, do Instituto de Artes da UnB, num seu passeio à cidade, em 1983. “Ela era, então, praticamente desconhecida como escultora”, conta Eduardo Gama, que depois foi a Pirenópolis com o casal e com o também acadêmico, historiador e diretor de museus de Arte, João Evangelista de Andrade, para conhecerem a artista e suas peças.

Disse João Evangelista: “Safia é um gênio da arte. Eu colocaria sua obra no capítulo do classicismo, mas teria certa dificuldade nisso, porque a arte de Safia é complexa”. Mais tarde, o bibliófilo José Mindlin, ao percorrer uma de suas exposições em Brasília, parou diante de uma escultura, dizendo: “Esta peça é a Vênus de Milo brasileira”. Já Eduardo Nogueira da Gama refere-se à artista como o complemento que faltava para fechar a trindade goiana das Artes, ao lado de Cora Coralina e Antonio Poteiro.

Uma das escultoras da artista. As peças tem aproximadamente 40cm x 14 cm

​De fama ainda restrita a estudiosos, colecionadores e especiais admiradores de suas peças, Safia e sua genialidade mereceriam um museu, ou uma casa, uma galeria, permanentemente abertas à visitação pública, em sua terra natal. Quem sabe isso possa ocorrer num futuro inteligente, sensível, generoso, do país, que ardentemente esperamos estar próximo.

 

Por enquanto, tendo armazenado muitas informações sobre a artista, seu mecenas as deixa ao alcance de quem queira conhecer mais sobre ela, sobretudo o acervo de imagens de suas esculturas e quadros, suas madonas, a sensualidade de suas mulheres, dos casais, dos meninos, dos anjos, as festas na roça e na cidade, pertencentes a diversos colecionadores – entre eles, o multiartista Ziraldo, antológico amante de arte popular.

Visite então o domínio artesafia.com.br, percorra especialmente o campo Área de Pesquisa, organizado por temas inspiradores da artista, e entenda porque Ziraldo, ao conhecer pessoalmente o acervo particular de Eduardo Gama, exclamou: “É a maior escultora de arte popular que já conheci!”

por Angélica Torres

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