A mulher na vanguarda artística

o  ABAPORU -1928A cor rosa-bebê das paredes da mostra “Mulheres, Artistas e Brasileiras”, em cartaz no Palácio do Planalto (Brasília), não faz justiça à radical produção feminina na história da arte do país.

A mostra, que tem concepção da presidente Dilma Rousseff, como está assinado no folheto de divulgação distribuído no local, poderia cair em um mero ajuntamento de trabalhos de temática feminista, o que não é o caso.

A exposição deixa patente a tese de que as grandes transformações na arte brasileira aconteceram em associação ou com a liderança feminina. Na primeira sala da exposição, estão obras de Anita Malfatti (1889-1964) e Tarsila do Amaral (1886-1973), duas figuras fundamentais do modernismo brasileiro.

 

Anita, por ter sido duramente criticada por Monteiro Lobato (1882-1948), em 1917, aglutinou intelectuais como Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954), que acabaram criando a Semana de 22.

 

Tarsila por ser a criadora, junto a Oswald, do movimento antropofágico, o mais original do país na primeira metade de século 20. “Abaporu”, de 1928, a tela que originou o antológico Manifesto Antropófago, do mesmo ano, é o carro-chefe da mostra. Foi a própria presidente que pediu a obra emprestada a seu proprietário, o colecionador Eduardo Costantini.

 

Também estão na mostra Maria Martins (1894-1973), primeira artista brasileira a integrar de fato a cena internacional, e Mary Vieira (1927-2001), que no movimento construtivo tornou-se precursora do cinético. Entre os destaques da produção neoconcreta há obras de Lygia Pape (1927-2004) e Mira Schendel (1919-1988).

 

Entre os conceituais, Regina Silveira. Da produção dos anos 1980 há artistas como Leda Catunda, Beatriz Milhazes e Ana Tavares. Esse amplo panorama, em sua maioria de acervos públicos, se completa por outra intervenção da presidente: a inserção de artistas populares, como as bonequeiras do Vale do Jequitinhonha, num diálogo que tem sido comum em mostras de arte contemporânea.

 

Assim, se por um lado a presidente gera um debate até então praticamente inédito no circuito institucional das artes, a cenografia, que está a cargo do curador da mostra, José Luis Hernández Alfonso, da Faap, escorrega num clichê.

Por Fábio Cypriano, na Folha de S.Paulo

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