Vivemos em uma sociedade em acentuado processo de transformação e que vem questionando, de modo salutar, os padrões rígidos de comportamento vigentes durante longo tempo – que se mostram incompatíveis com a multiplicidade do mundo contemporâneo. Hoje, homens e mulheres, que até pouco tempo tinham papéis muito definidos na sociedade, gozam de mais liberdade para escolher os rumos da vida de acordo com os próprios anseios. Dessa maneira, vemos cada vez mais mulheres ocupando espaço no mercado de trabalho, enquanto os homens assumem tarefas que antes eram essencialmente femininas, tais como cuidar dos filhos ou da rotina doméstica. Além disso, o número crescente de filhos de pais divorciados alterou o paradigma da família tradicional e, em muitos casos, forçou os homens a abrir mão da condição exclusiva de provedor, levando-os a ter participação mais ativa na educação dos filhos. Há casos, inclusive, em que pais e filhos passaram a conviver sem a presença das mães.
Em um país como o Brasil, ainda carente de cultura e conhecimento, esse novo homem pode desempenhar um papel fundamental no fomento à leitura entre filhos, netos ou sobrinhos. Explicando melhor… meninos necessitam de um referencial adulto masculino no qual se espelhar. É o pai – ou um avô, um irmão bem mais velho ou um tio próximo – quem cumpre essa função, sobretudo na adolescência, quando todos entramos em um período turbulento de inseguranças e questionamentos. Em muitos artigos, debates ou teses, fala-se muito do papel da mãe na educação dos filhos, mas raramente vejo alguma menção à importância do pai. Isso talvez explique, em parte, o fato de o número de leitoras ser muito superior ao de leitores. Meninos, infelizmente, ainda são criados de acordo com uma noção falsa e arcaica de masculinidade.
Parece incrível, mas é comum vermos pais preocupados com filhos que passam as tardes em casa lendo, em vez de estarem jogando futebol com os amigos “como toda criança normal”. Muitos chegam a recorrer a psicólogos para diagnosticar e, se possível, reverter o suposto distúrbio. É interessante notar que esses pais são os mesmos que, curiosamente, cobram notas altas nos boletins dos filhos, ignorando que é justamente a leitura regular o principal agente de um bom desempenho escolar. O jovem que lê com regularidade tem maior capacidade de concentração e de compreensão da língua escrita; automaticamente, possui condições mais favoráveis de tirar proveito das aulas e dos estudos.
Historicamente fomos educados a encarar o ambiente doméstico como um território feminino; logo, todas as atividades de algum modo ligadas a ele, também o seriam. A partir de certa idade, os meninos são instados a sair; divertir-se fora de casa e ganhar o mundo, enquanto das meninas continua a se esperar que permaneçam resguardadas no lar. Malgrado todos os avanços, essa mentalidade ainda persiste. Os homens que optaram pela paternidade precisam repensar os próprios conceitos –recebidos durante sua criação, lá atrás, quando o mundo era bem diferente –, e saber como preparar adequadamente seus filhos para enfrentar a selvageria da vida adulta.
Incentivar a leitura em um jovem – que ainda está dando seus primeiros passos na vida – é, portanto, mais que um gesto paternal de carinho; é uma postura inteligente diante das demandas de uma sociedade freneticamente competitiva, em que o conhecimento se firma, cada vez mais, como o capital mais importante das nações.
*Luis Eduardo Matta
Considerado uma das vozes mais criativas e originais da nova literatura nacional, Luis Eduardo Matta iniciou a carreira literária em 1993, aos 18 anos, com a publicação do livro Conexão Beirute-Teeran (Editora Chamaeleon). A decisão de assumir por ofício a escrita pelo viés ficcional resultou na publicação das obras “Ira implacável: indícios de uma conspiração” (Razão Cultural Editora); “120 horas” (Editora Planeta); “Morte no colégio” (Editora Ática); “Roubo no Paço Imperial” (Editora Ática); “O rubi do Planalto Central” (Editora Ática) e O véu (Primavera Editorial).
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Betânia Lins | Vanessa Giacometti de Godoy
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