O ano de 2010, que inaugura a segunda década do Século XXI, mostra-se muito promissor para o mercado editorial e ampliação do hábito de leitura em nosso país. A começar pela estimativa de crescimento econômico de 5%, consolidando a recuperação econômica do Brasil, a primeira nação a emergir da grave crise mundial. Ademais, teremos a realização das eleições para a Presidência da República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais, que sempre suscitam maior interesse em pesquisas e estudos sobre política e história. Haverá, ainda, a Copa do Mundo, na África do Sul, evento tradicionalmente estimulante para a indústria da cultura e do entretenimento como um todo.
Também será realizada a 21ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, de 12 e 22 de agosto, no Anhembi. O evento — o momento do livro no Brasil ! — atrai grande volume de público, constituindo-se, tradicionalmente, em elemento formador de novos leitores. Trata-se de um verdadeiro convertedor de visitantes de feiras em frequentadores de livrarias. Há que se considerar, ainda, o crescimento anual dos programas governamentais de distribuição de livros às escolas públicas, agora não mais restritos às obras didáticas.
Assim, há vários fatores que permitem vislumbrar com otimismo a performance do mercado editorial. Não temos os números fechados de 2009, mas os dados e estatísticas dos estudos mais recentes corroboram a percepção de que o livro e a leitura encontram-se numa curva ascendente no País. No período de 2006 e 2008, foram lançados aproximadamente 57 mil novos títulos e impressos mais de um bilhão de exemplares, conforme se pode verificar na pesquisa “Produção e Vendas do Mercado Editorial Brasileiro”, realizada pela Fipe/USP para a CBL (Câmara Brasileira do Livro) e SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros). O estudo também aponta significativa redução de preços. Se considerarmos os valores reais, ou seja, já descontada a inflação de 2004 a 2008, a queda do preço médio efetivo do período foi de 22,4% no segmento de obras gerais, por exemplo.
Em 2008, o mercado editorial faturou R$ 3,3 bilhões. Foram publicados 51.129 títulos (mais 19,52% em relação a 2007) e produzidos 340.274.195 exemplares (menos 3,17% na comparação com o ano anterior). Os números mostram maior investimento em novos títulos. É uma estratégia inteligente do mercado, estimulando o surgimento de autores e a produção intelectual. O maior número de títulos permite gerenciamento estratégico das tiragens, que vão respondendo ao comportamento da demanda. Outra importante pesquisa — Retratos da Leitura no Brasil — também indica um cenário de crescimento para o consumo de livros. Em sua última edição, identificou a existência de 95 milhões de leitores no País e um índice de leitura de 4,7 títulos por habitante/ano.
Fica muito claro que a década terminada em 2009 apresentou um grande avanço do livro no Brasil. Entretanto, ainda estamos num patamar aquém do compatível com a realidade do país detentor da 10ª economia mundial, no qual se tem verificado um dos índices mais acentuados de redução da miséria no Planeta e que se posiciona como nação prestes a ingressar no rol das desenvolvidas. Assim, é preciso, no novo ano, um imenso esforço para mitigar os obstáculos à expansão substantiva do hábito de leitura.
Um dos passos importantes é suprir a falta de bibliotecas, inclusive na rede pública de ensino. O Censo Escolar 2008 indica essa carência em 113 mil escolas, ou 68,81% da rede pública! O problema não se limita à falta de livros. Em 2009, o orçamento federal para o envio de obras gerais à rede pública foi de R$ 76,6 milhões. É um montante apreciável para as aquisições. Em 2008, as escolas receberam, em média, 39,6 livros cada uma, média muito razoável. E isto não inclui o PNLD (Programa Nacional do Livro Didático). O que mais falta é infraestrutura física, ou seja, espaços adequados à montagem das bibliotecas. Somam-se a esse problema os grilhões do analfabetismo, triste realidade de um a cada dez brasileiros. Em números absolutos, segundo estudo do Ministério da Educação, cerca de 15 milhões de brasileiros maiores de 15 anos não sabem ler e escrever. Mais grave ainda é que 21,6% dos habitantes com mais de 15 anos são analfabetos funcionais.
São prioritários, ainda, programas capazes de facilitar o acesso ao livro pelas crianças e jovens matriculados na rede pública de ensino. Nesse sentido, além da ampliação das ações federais, como o PNLD e Programa Nacional Biblioteca da Escola, são necessárias mais iniciativas conjuntas entre União, estados e municípios e a iniciativa privada. Exemplo bem-sucedido da viabilidade desse objetivo é o projeto Minha Biblioteca, realizado na cidade de São Paulo, com forte apoio e participação da CBL. É essencial a mobilização do setor público e da iniciativa privada, como vêm fazendo as entidades do mercado editorial, para que 2010 seja o primeiro ano de um década em que o livro esteja ao alcance de todos os brasileiros e a leitura, conduzindo nossa população à sociedade do conhecimento, referende nossa condição de país desenvolvido!
*Rosely Boschini, empresária do setor editorial, é a presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).
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