A leitura do livro Biografia da Nação merece entrar para aquela lista de obras preferenciais para toda pessoa que queira compreender de modo mais profundo o que é o Brasil, como foi possível ao povo e às principais forças políticas e econômicas construir uma das maiores nações do mundo, considerando o período histórico iniciado a partir da invasão e ocupação dos portugueses, na esteira do processo de expansão da Europa, singelamente conhecido como “As Grandes Navegações”.
Por Altair Freitas
José Carlos Ruy, autor da obra “Biografia da nação – história e luta de classes” José Carlos Ruy, autor da obra “Biografia da nação – história e luta de classes”
Biografia da nação, história e luta de classes, tem a marca registrada do seu autor, o jornalista e pesquisador marxista José Carlos Ruy: o manejo de conceitos e instrumentos fundamentais do marxismo como a Luta de Classes e o Materialismo Histórico e Dialético, não apenas como referenciais teóricos, mas como verdadeiros equipamentos da ciência histórica e social para analisar o desenvolvimento do Brasil à luz do estudo de uma vasta bibliografia que remonta à fantástica carta descritiva de Pero Vaz de Caminha sobre a chegada da esquadra Cabralina em 1500. O livro é, portanto, também, uma deliciosa viagem pela produção literária de gerações a fio de portugueses, estrangeiros e, especialmente, de brasileiros – desde as primeiras gerações de descendentes dos primeiros colonizadores lusitanos que se aventuraram por aqui. Uma viagem que abrange praticamente todos os matizes e variantes ideológicos que nortearam aqueles (as) que escreveram sobre o Brasil. É um livro sobre livros e sobre as variadas interpretações sobre o que foi o Brasil, sobre o que era o nosso país e suas perspectivas futuras quando analisado pelas “penas” dos diversos escritores, historiadores, pensadores, com particular acento no estudo sobre como o pensamento marxista brasileiro buscou compor uma visão sobre o nosso desenvolvimento, contradições, lutas, limites e potencialidades.
Mas o grande mérito do livro não são as referências bibliográficas, uma “biografia da biografia” mas a efetiva compreensão sobre a enorme complexidade envolvida na construção do Brasil como nação. Sendo inicialmente uma colônia clássica do tipo “por exploração”, destinada a ser um anexo da economia portuguesa, fornecedora de produtos agrícolas e ouro para Portugal – processo que nos aproxima de modo profundo às demais nações da América Latina, resultantes do mesmo processo histórico – o Brasil superou Portugal a partir de um determinado momento em pujança econômica. E a partir daí vivenciou-se nestas terras tropicais lutas renhidas, complexas, envolvendo as classes sociais fundamentais – senhores de engenho e escravos e burguesia e proletariado – mas também a profunda dicotomia crescente entre colônia e metrópole, país independente e imperialismo, tudo isso emaranhado às lutas entre facções, segmentos, frações das classes dominantes entre si pelo controle do Estado, colonial e, posteriormente, nacional. Um livro, enfim, para ser lido, relido, estudado.
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