Digitalização de Acervos

NelsonRodriguesPreciosidades do acervo da Funarte agora disponíveis na internet Se o diálogo de Nelson Rodrigues se desencontrou em algum momento nos palcos, hoje, com grande parte do acervo fotográfico das peças do autor já digitalizada pelo Estúdio Foto Carlos, qualquer pessoa pode ver e rever grandes momentos, por meio da rede mundial de computadores.

E este acervo já digitalizado vai longe: ele ainda inclui Augusto Boal, Walter Pinto, o Projeto Pixinguinha, entre outras fotos da Coleção Foto Carlos. O universo digital, idealizado no ano de 2000 pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), instituição vinculada ao Ministério da Cultura, possibilitou que em 2009 fosse lançado um projeto inovador, o Portal das Artes, viabilizado pelo projeto Brasil Memória das Artes, patrocinado pela Petrobras, Itaú Cultural e CSN.

O acervo do Centro de Documentação da Funarte preserva, por meio de fotos, vídeos e textos, momentos marcantes e históricos da trajetória das mais diversas expressões artísticas brasileiras, como teatro, dança, música, artes visuais, fotografia. Grande parte já está digitalizada e disponível na internet. “Inicialmente, o projeto enfrentou algumas dificuldades, já que as mídias digitais estão em constante atualização. Hoje, além do Portal, estamos no YouTube e no Twitter, e nossa intenção é trabalhar cada vez mais com outras mídias”, esclarece a coordenadora do Portal, a jornalista Ana Claudia Souza.  Segundo ela, o projeto representa a manutenção da memória cultural brasileira, que, ao articular-se com o presente, busca melhorar a comunicação da Funarte com o seu público, possibilitando o acesso de todos à arte.

O esforço em aproximar o acervo do público inclui destacar algumas peças importantes e propor uma abordagem específica. Ao comemorar 30 anos de morte do celebrado dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues, a equipe do projeto trouxe textos, como uma pequena biografia do autor, fotos, além de vídeos produzidos pela própria Funarte. Entre as fotos, cenas de “Vestido de Noiva” (1965), um marco do moderno teatro brasileiro, uma carta-homenagem de Nelson Rodrigues para a atriz Thelma Reston, que estreou na peça “A Falecida”, em 1980, além de uma rara participação do dramaturgo, jornalista e ator na tragédia carioca por ele escrita, “Perdoa-me por traíres” (1957), ao lado Léa Garcia.

projeto pixinguinhaA coordenadora do Portal explica que “o projeto tenta olhar o acervo, criar conteúdos e reconhecer seu valor histórico”. A arte de Pixinguinha também está lá, com músicas que marcaram a história do flautista,  saxofonista, compositor e mestre do choro. Composições preciosas da Música Popular Brasileira (MPB) apresentadas no Projeto Pixinguinha em shows de cantores como Djavan, Ivan Lins, Nara Leão, Marina Lima e muitos outros, também tiveram seus áudios registrados e estão no portal. No acervo do Projeto Pixinguinha, documentos e fotos importantes veiculadas em diversos jornais do país, que marcaram a luta democrática e o intercâmbio das diversas manifestações culturais nas várias regiões brasileiras.

“O que fazemos é uma abordagem editorial do acervo, na medida em que selecionamos momentos marcantes da vida dos artistas e recriamos o conteúdo por meio de uma abordagem contextualizada com o presente”, enfatiza Ana Claudia. O acervo Foto Carlos é um dos mais importantes documentos do portal, já que representa a memória teatral do país dos anos 40 aos 70. Entre as peças registradas pelo fotógrafo Carlos Moskovics há, por exemplo, imagens do acervo pessoal de Maria Pompeu. A atriz, que completou 55 anos de carreira em 2010, também preserva uma memória riquíssima do teatro brasileiro. “Ela nos revelou que pretende doar todo seu acervo pessoal para a Funarte. Acredito que esta também é uma forma de preservar a memória cultural do país”, diz a coordenadora do portal.

No acervo digital há também a Série Depoimentos, com registros sonoros de Walter Pinto, que fala de sua trajetória como produtor e autor do teatro brasileiro. De contador profissional tornou-se administrador da Companhia Walter Pinto e revelou artistas como Dercy Gonçalves e Carmem Miranda.

No mesmo acervo existem, ainda, entrevistas com Tônia Carrero e Paulo Autran, que revelam suas histórias no teatro e na televisão e contam cenas importantes que marcaram a vida dos artistas. No acervo há revelações de Tônia sobre sua inimizade e disputa com Cacilda Becker, colega de profissão e ícone do teatro brasileiro.

Digitalização

O trabalho de digitalização iniciou-se sob a coordenação do Centro de Programas Integrados (CEPIN) da Funarte a partir de 2000. A coleção Foto Carlos foi uma das primeiras a ser digitalizada. O projeto ocorreu em duas fases. Na primeira, foram digitalizadas cerca de 20 mil fotos feitas por Carlos Moskovics. Em 2010, foi concluída a digitalização do acervo, que totaliza a impressionante marca de 40 mil registros do fotógrafo.

Já a digitalização do acervo sonoro começou por meio do Projeto Brasil Memória das Artes, com recursos da Petrobrás, em 2004. Várias temporadas do Projeto Pixinguinha, que marcou a música popular brasileira nos anos 70 e 80, serviram para a construção do acervo digital da Funarte. “Infelizmente, nem todo o acervo pode ser digitalizado, por questões administrativas e de gestão, ou devido às limitações da falta de autorização”, explica Ana Claudia. No entanto, a coordenadora revela que no início do projeto o acervo possuía apenas 36 áudios digitalizados e hoje já são 900, o que representa o entendimento dos intérpretes sobre a importância desse registro histórico. Segundo ela, em breve deverão entrar no ar mais documentos e registros do Acervo Walter Pinto.

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