Brasileirismos, archaismos e corruptelas coligidos por Cornélio Pires e empregados na “Musa Caipira”, “Scenas e paisagens de minha terra”, “Quem conta um conto…”, e em muitas de suas obras literárias.Foi mantida a ortografia da época por respeito ao trabalho do autor.
A
Aááb! – Exclamação correspondente a “Ave Maria”, “Aáááh!…Maria Credo”.
Abancamos – Sentamo-nos em bancos.
Abancar – Correr fugindo ou em perseguição de alguém.
Abrir-o-pala – Fugir correndo.
Acauan – Ave que se alimenta de reptis. Seu canto prenuncia a chuva.
Acabritada – Amulatada – Mestiça de branco e preto.
Aceiro – Terreno capinado ao redor da roçada a ser queimada.
Afincar o pé – Caminhar com energia. Correr.
Afiniz – Doce – Alfenim.
Agarrar ou Garrar – Principiar. Segurar. Tomar um caminho -“Garrei a estrada”.
Agregado – Indivíduo que vive parasitariamente em terra alheia.
Agua-de-assucar – Agua com assucar.
Aguado – Diz-se do cavallo que adoece vendo os outros comer ou beber tendo elle fome e sede.
Aguia – Finorio. Intelligente. Astuto.
Aiva – Desorientado. Fóra de si. Misterioso. Esquesito. Sensação indefinivel.
Alentado – Robusto. Forte.
Alimá – Animal cavallar ou muar.
Aluncio – Annuncio.
Amarrano – Cão negaceando a presa. Preando a perdiz.
A’me! – Exclamativo: “homem”!
Amiudá – Diz-se quando os gallos vão diminuindo o canto ao amanhecer.
Amó-que – A modos que… Parece-me…
Amóde – Por causa de…
Andasso – Epidemico.
Antónho Conseiêro – Pantomima extrahida da grande tragedia bahiana em que o governo chacinou sem razão os sertanejos chefiados pelo caipira Antonio Conselheiro.
Anún – Pássaro preto insectivoro, que acompanha os animaes no campo. Há tambem o “anún branco”.
Anún – ficar de – Nú.
Apalermado – Boquiaberto. Abobarrado.
Aparêio – Isqueiro, pedra de fogo de fuzil. Apparelho de fogo.
Após-as-aguas – Depois das chuvas. Aguas, tem o sentido de “chuvas”.
Aporrinhar – Cacetear. Amolar. “Ser páo”. Vem de porrete.
Ara. . . se – O’ra. . . se. . . Vale a pena
Araponga ou Guaraponga – Ave cujo canto imita o retinir do martello na bigorna, entre sons similhantes aos produzidos por lima, ao se afiarem as grandes serras “traçadeiras”. Chamam-lhe porisso o “Ferreiro” ou “Serrador”: “Gúiraponga”, do tupy-guarany.
Araribá – Arvore grande.
Arejar – Estupôr no cavallo que apanha golpe de ar estando suádo.
Arimbá – Vasilha de barro.
Arisca – Mulher facil. Esposa infiel.
Arriba! – Acima! “Arriba o samba”! Sús!
Arrebentado – Fallido. Empobrecido.
Arrendado – (animal) – Descadeirado. Animal de montaria que, forçado pela redia e espora, deixa o trote natural, para marcha, transformando-se assim um “trotão” em “marchador”. A definição dada noutros volumes está errada). -Nota do Autor.
Arrotar – Fazer-se valente. Provocar com arrôtos e escarros. Gabolice.
Arrudado – Zangado. Impulsivo. Bravo
Arma-penada – Duende. Assombramento. Espirito que paira sem destino.
Arma do padre Aranha – Celebre assombração que perseguia os tropeiros.
Arvado – Parte em que se encaba a foice.
As-coisa-feito – Feitiçaria. Magia negra. Bruxaria.
Atiçar – Açular. Instigar. Compellir.
Atripeçar – Sentar-se em tripeça.
Atrodia – (istrodia – strudia – trodia – estrodia) – Noutro dia. Ha poucos dias.
Avacalhar-se – Desdizer-se. Retratar-se. Abandonar seus companheiros em politica, sem-vergonhamente, a pretesto de tranzigencia.
Aviamento – Apetrecho para a caçada. Polvora, chumbo e espuletas.
Azeite de carro – Oleo grosso de mamona.
Azeitinho – Oleo de ricino, purgativo.
Azoretado – Irritadiço. Nervoso. Zangado.
Azucrinado – A mesma coisa que “Azoretado”.
B
Bacaiáu – (Bacalhau). Instrumento de tortura usado noutros tempos contra escravos. Era um mixto de relho e chicote, com quatro tiras de couro no extremo, em logar da tala.
Bacazio – Tiro forte, com grande estampido.
Baderna – Bebedeira acompanhada de desordem.
Bagre – Peixe de couro.
Baguá – Bagoal. Cavallo inteiro. Grande. Volumoso.
Bandeirantes – Desbravadores dos sertões brasileiros eram, geralmente, paulista de tempera jamais igualada, pois sem estradas e bussolas, percorreram todo o Brasil á cata de ouro e pedras preciosas. Levaram os hespanhóes até o Rio da Prata e chegaram a collocar marcos de posse em pleno centro do Perú. Os bandeirantes demarcaram as fronteiras da Patria, dilataram a Nação, e fizeram o Brasil.
Muitos delles só se dedicavam á escravisação dos indios.
Bangué – Padiola em desuzo, podendo transportar uma familia. Tinha quatro cabeçalhos para um animal em cada ponta, sendo carregada suspensa sobre dois animaes.
Banzé – Desordem. Conflicto. “Rôlo”.
Banzativo – Preocupado. Pensativo. Triste.
Bacapary – Deliciosa fructa sylvestre, trepadeira, menor que a jaboticaba.
Barba-de-bode – Capim (graminea) de terra exgotada. Marca de terra ruim.
Bardeado – Transportado.
Barróca – Despenhadeiro. Valle. Grota. Sulco profundo na terra.
Batuira – Ave ribeirinha, pernalta, a que tambem chamam “monjolinho” ou “monjoleiro”.
Bate-pé – Dansa cabocla. O mesmo que “sapateado”, “cateretê ou “catira”.
Batê-bocca – Discussão. Altercação.
Batuque – Dansa de pretos. Formam roda de sessenta e mais pessoas, que cantam em côro os ultimos versos do “cantador” e ao som dos tambús, – tubos de madeira com uma pelle numa das extremidades e que produz sons altos com diversas graduações, – requebram e saltam homens e mulheres, dando violentas umbigadas uns contra os outros. Usa-se tambem nessas dansas, o quingengue – semelhante ao tambú, tendo inteiriça a metade do volume. O compasso é marcado também com palmas. – Hoje raramente dansa-se o batuque. Confundem-no com o jongo e este com o samba. . . Batuque é dansa de negros e o samba é dansa de caboclos…
Bão-de-sá – Bem temperada (comida).
Bebudo – beudo – Alcoolisado. Embriagado.
Beicinho – Movimento de pouco caso com os labios. Distensão do labio inferior, prenunciando chôro e desaponto.
Bentinho – Medalha com imagem benzida pelo padre romano.
Berne – Verme que se introduz na pelle das aves e no couro dos animaes.
Bitatá – Fogo fatuo. Do tupy guarany: “Mboytatá” – mboy:cobra, – tatá: fogo. Diabo. Espirito dos não baptisados.
Birro – nome onomatopaico de um passaro que procura para habitação casas e igrejas velhas.
Boava – Portuguez, no sentido pejorativo. Do tupy guarany “Amboabaê” – pessoa estranha.
Bobagem – Tolice.
Bocage Palavriado insultuoso e depravado.
Bocó – Vasilha feita de couro ou crosta do tatú: sem tampo o bocó está sempre aberto, d’ahi chamarem “bocó” ao “bocca-aberta”, palerma ou bobo, ou “bobó”.
Bocó – Pateta.
Bodoque – Arma rustica de pau em arco, com cordas e malha para arremesso de pedras ou pelote de barro.
Bolantim – Circo de cavallinhos. Artista equestre ou gymnasta.
Bolo – Pancada com a mão, palmatoria ou regua, na palma da mão.
Botá-a-cuié-torta – Intrometter-se onde não é chamado.
Bóto – (a faca) – Metto a faca.
Botá – Pôr. Collocar.
Braba – Bravia – (Sertania) – Inculta, desconhecida.
Branca – Aguardente de canna.
Bragado – Cavallo manchado de branco e zaino.
Brascuiá – Vasculhar.Remexer no fundo do bolso.
Broca – Ferida profunda que só ataca as mãos, não os pés, do cavallo ou burro.
Bruaca – Grandes bolsas de couro crú, para transporte em lombo de animal – Duas bruacas formam o cargueiro.
Bruaca – (pejorativo) – Mulher velha, imprestavel.
Bufar – Dizer-se valente.
Bugio – Macaco barbado. Engenhoca para canna; produz sons na moagem iguaes ao roncar do bugio.
Bugre – Selvicola – Indio do Brasil.
Buquinha – Beijo.
Buré – Sopa do caldo de milho verde.
Burcão – Bulcão – “Cummulus” prenunciadores de chuvas.
Burbuia – Bolhas de ar que sóbem á tona d’água; bolhas de puz. Do tupy-guarany “bubúi”: sobre-nadar.
Buta – (comer) – Ser logrado, enganado. Butia, é um vegetal medicinal, muito amargo; o estrangeiro, metido a sabichão, ao ver-lhe o fructo, colhe, elogia-lhe a doçura e. . . mete-lhe os dentes. . . Comeu Buta. . . a fructa é amarga.
Buxa – Logro, velhacamente preparado num negocio ou barganha.
C
Cabeça secco – Soldado da policia.
Caboclo – Caipira cor de cuia ou cobre, descendente dos bugres.
Cabra – (bom, valente, sarado, etc.) – Individuo.
Cabra – Mulato, ou mulata.
Cabrita – Mulata nova.
Cabreúva – Madeira de lei tambem chamada Oleo ou balsamo.
Cabórge – Força mysteriosa. Valentia sobrenatural. Força occulta proctetora do valente.
Caça – Animaes selvagens.
Caça foice – Vagabundo. Homem inutil.
Cadorna – Pequena perdiz – codorna.
Caguira – Azar. Caiporismo. Medo.
Cahidas – (mulheres). Apaixonadas.
Caieira – Monte de lenha que, logo depois de aceza, toma o nome de fogueira.
Caiçara – Caboclo ruim, incorreto. Não uzam os caipiras do planalto a expressão caiçara, como denominação de caipira da beira-mar. No tupy guarany, “caaiçá” quer dizer “cerca de ramos a que se recolhem os peixes pescados”. “Caí” tambem quer dizer o gesto do macaco tapando o rosto. . . Gesto commum ás crianças, caipiras. . . Caiçára tambem quer dizer trincheira, paliçada, arraial.
Caipira – Por mais que rebusque o “etymo” de “caipira”, nada tenho deduzido com firmeza. Caipira seria o aldeão; neste caso encontramos no tupy guarany “Capiabiguára”. Caipirismo é acanhamento, gesto de occultar o rosto; neste caso, temos a raiz “caí” que quer dizer: “Gesto do macaco occultando o rosto”. “Capipiara”, quer dizer o que é do mato. “Capia”, de dentro do mato: faz lembrar o “capiáu mineiro. “Caapi”, – “trabalhar na terra, lavrar a terra” – “Caapiára”, lavrador. E o “caipira” é sempre lavrador. Creio ser este ultimo caso mais acceitavel, pois, “caipira” quer dizer “roceiro”, isto é, lavrador.
Sinonimos de “caipira” conheço apenas os seguintes-“Capiáu”, em Minas; “quejeiro”, em Goyaz; “matuto”, Estado do Rio e parte de Minas; “mandy”, sul de S. Paulo; guasca ou gaúcho no Rio Grande do Sul; “tabaréo”, Districto Federal e alguns outros pontos do paiz; “caiçara”, no litoral de S. Paulo e em todo o paiz, “sertanejo”.
Caipóra ou capóra – Infeliz – Do tupy-guarany: “Caapó” -mateiro. Pessôa do mato. Duende sertanejo, protector das caças, anda montado num grande porco selvagem.
Calhambóla – V. canhimbóra.
Caimbra – (doença). Camaras.
Cambuquira – Grelos, brotos de aboboreira.
Campear – Procurar.
Cambetear – Andar tropegamente. Empurrado, correr sem querer batendo uma perna na outra, quasi cahindo.
Cambaio – Perna torta. Que puxa por uma perna no andar.
Cambito – Pernil de porco. Peça para apertar correias e arreios.
Camera – Camara Municipal.
Canelleira – Arvore imponentemente alta.
Canhimbóra ou Canhambóra – Escravo fugido, tornado selvagem nas matas. Do tupy-guarany – “cañybó”: o que foge muito.
Canfrô – Alcanfora.
Candimba – Lebre.
Comatio – Corda de viola.
Capêta – Diabo – Satanaz.
Capoeira – Mata de foice, ou mata nova nascida depois de derrubada a mata virgem. Do tupy-guarany: “Caa – mata- “poera” – que foi.
Capoeirão – Capoeira grossa quasi como mata-virgem: “capoeira de machado”.
Capim – Graminea – Do tupy guarany “Caapim”.
Carpir – Cortar cerce o pequeno mato. Tupy-guarany, “Caapi”.
Carapina – Tupy-guarany Carpinteiro.
Carona – Peça de couro collocada sob o arreio e sobre os baixeiros. Gozar sem pagar um divertimento.
Carpa – Capinação.
Capanga – Indivíduo assalariado para guarda de alguem, e que obedece quando o pagante manda agredir ou matar. Em Minas, Goyaz e Norte, tambem têm o nome de “jagunço”.
Capanga – Pequeno sacco que se traz a tiracollo.
Cardume – (de peixe) – grande quantidade.
Cardósa – Feminino de Cardoso, como Ribeira o é de Ribeiro.
Carreiro – Trilho feito e seguido pelas caças.
Carreira – Rima obrigatoria nas danças caipiras. Ha a carreira do “Sagrado” (toda a rima em ado), ha a de S. João, do Itararé, do Marruá etc.
Carancho Ave de rapina. O maior dos gaviões.
Carreação – Diarrhéa. Desinteria. “Destempero”.
Carreador – Caminho improvisado na lavoura para se tirar em carros o producto da lavoura.
Catingueiro – Variedade de capim. Pequeno veado.
Caugdo ou Cáudo – Cágado.
Cavorteiro – Velhaco.
Caraminguás – Miudezas. Dinheiro miúdo achado no fundo da algibeira ou da mala. Tupy guarany: “Carameguá” -caixa ou cesto para miudezas.
Catira ou Cateretê – Dansa de caboclos formando duas linhas de seis ou mais pessoas, dois a dois, frente a frente, com violas. Cantam em dueto os cantadores seus amores ou os factos principaes do bairro e redondezas, respondendo o côro, sapateando nos intervaílos sob compassos marcados a palmas. O som dos pés no chão e as palmas formam variada musica.
Casaca de ferro – Empregados encasacados de circos de cavallinhos. Serventes encasacados.
Cassununga – Pequena e bravíssima vespa.
Catirina – Prostituta.
Cavado – (amigo, dinheiro). Arranjado. Conquistado.
Cerne – Amago da madeira. Pau que dentro d’agua não apodrece. Estar no cerne (homem) resistir o tempo; não envelhecer.
Cêrto de bocca – Cavallo adestrado e docil ás redeas.
Cerrado ou cerradão – Mata rachitica e escassa em terras que absolutamente nada produzem; nem capim de bôa qualidade.
Cerigote – Arreio semelhante ao lombilho.
Ceriema – Ave pernalta dos campos.
Cerelepe – Espécie de esquilo. Canxinguelê, do Norte.
Chavié ou xavi – Desinchabido – Desapontado.
Chan-chan – Ave trepadora que com seu canto avisa a approximação de alguem, avisando o caipira. É nome onomatopaico. “Cão-cão”, do Norte e “Can-can”, dos bugres.
Chabó – Andorinha grande de cabeça chata. Taperá-guassú.
Chapadão – Crapada – Rechã – Planalto. Araxá.
Charrôa – Remate de uma obra de couro trançado.
Chimbica – Jogo de cartas tambem chamado manilha.
Chimburé – Peixe de escamas, d’agua doce.
Chico-lerê – Passaro patéta. . . Paulo-pires; jucurêrê.
Chichica – Escremento. Sujidade.
Chiqueirador – Grosso relho com cabo de madeira em forma de chicote.
Chimbéva (homem). Nariz chato, do tupy guarany: “Ti”: nariz; “péva”: chato.
Chilenas – Esporas grandes.
Chilipe – Carcere.
Chilique – Desmaio.
Choren – Cão sarnento. Gafo.
Chuva – Bebado – Alcoolico.
Chuãã – Cesto ponteagudo para transporte de fructas. É tupy guarany.
Chucro – Bebado – Cavallo não domado ou amansado.
Chupim – Passaro preto menor que o vira-bosta. Come os óvos do tico-tico e põe os seus no lugar, criando o tico-tico os filhos do chupim, apesar da enorme differença. O tico- tico é rajado e o chupim é preto.
Chupim – Marido de professora quando sustentado por ella.
Chumbeado – Bebado.
Cobre – Dinheiro mesmo em papel moeda.
Cócre – Pancada com os “nós dos dedos” na cabeça, tendo a mão fechada.
Cócre de – Cocoras. Sentado sobre os proprios calcanhares
Cogote – Toutiço, cangote.
Coivara – Galhos e ramos que resistiram o fogo das queimadas, ficando apenas com as cascas queimadas ou chamuscadas. Geralmente os autores têm confundido “coivara” com “encoivarar”, que quer dizer reunir as “coivaras” para queimar, afim de “destrancar” a roça.
Colondria – de ladrão – Quadrilha de ladrões.
Como que – Extremamente.
Comeu-chão – Venceu grande distancia, em marcha.
Consoante – De accordo. Conforme.
Convencido – Soberbo. Emproado. Vaidoso.
Coró – Verme. Bicho de pau pôdre.
Coróte – Ancorote. Vaso de madeira em fórma de pequeno barril portatil a tiracolo.
Corymbatá Peixe de escama, papa-terra.
Corpo. – Cadaver.
Corruira – Passarinho caseiro insectivoro. Carriça – Cambaxirra, do Norte. Ha a “corruira d’agua” que faz seus ninhos labyrinthicos de milhares de pausinhos, impenetrável para as cobras e mais inimigos.
Criozena – Petroleo, Kerozene.
Cren-dós-padre – Creio em Deus, Pae.
Crioulinhos (Em desuzo) – Pretinhos, filhos de escravos.
Cria – (estar com) – Filho novo de animal cavallar, caprino, ovino ou bovino.
Curupira – (No tupy guarany não ha r forte). Duende selvagem. do Norte, pouco conhecida é a sua lenda em S. Paulo.
Cuzarruim ou Coiza-ruim – Satanaz – Diabo.
Curió – Passaro canoro dos pantanaes.
Cuja – A metade de um porungo ou cabaça.
Cuitélo – Beija-flor. Colibry.
Cuipeva – Colhér.
Cuipé – Pá de madeira para o forno.
Cuéra – Decidido. Valente. Bom. No tupy-guarany quer dizer convalescente.
Cuiára – Habil no jogo. Velhaco. Espertalhão. Rato silvestre.
Cumieira – Parte mais elevada da casa.
Currução – Molestia nervosa. Deita-se a victima, sem dores, e não ha o que a faça deixar o leito. Come se lhe dão comida, sinão, pouco se incomoda.Há moléstia semelhante que na França chamam “corru”.
Cumerações – Calculos.
Curtindo – Suportando, triste, uma paixão ou ciume.
Curiango – Ave nocturna.
Cururú – Dansa em que tomam parte os poetas sertanejos, formando roda e cantando cada um por sua vez, atirando os seus desafios mutuos. Os instrumentos usados são: a “puyta”, (Instrumento africano trazido pelos escravos), rouquenha, em forma de um pequeno barril tendo o fundo de couro de cabra com uma varinha ao centro; a trepidação produzida com um panno molhado empalmado pelo executante, produz o som, um verdadeiro ronco; o “réqueréque” que é um gommo de bambú, de meio metro, dentado, em que o tocador passa compassadamente uma palheta do mesmo vegetal, secco; o “pandeiro”, os “adufes”, e a celebre “viola”. Os “cururueiros” cantam sem amostras de cansaço, desde o anoitecer até o amanhecer.
É uma dansa mixta do africano e do bugre.
D
Dante – Antigamente. N’outros tempos.
Dar-volta – Exterminar. Acabar. Matar.
Debruços – Em decubito dorsal.
Decumê – Comida aos porcos. Comida.
Decuada – Extracto da cinza para aproveitamento da potassa.
De-já-hoje-já-hoje – Ainda pouco. Agora pouco. A poucos momentos.
De-mão – Auxilio gratuito no serviço.
Desgranhado – Desgraçado. “Maldito”!
Desguaritado – Extraviado. Desorientado. Sem guarida.
Despique – Acinte. Disputa. Represalia. Desafio (de viola) -Vingança.
Desbronque – Grande desgraça. Mortandade em tiroteio. Depindurar – Pendurar.
Depindura – Na imminencia de uma queda ou de empobrecimento.
Déstão – Dez tostões.
Destrocido – Agil. Desembaraçado. Direito.
Descanhotar – Desnocar – Destroncar. Desengonçar. Desarticular.
Diá… – A crendice faz com que o caipira não pronuncie ou nunca complete a palavra diabo. Ou diz: “Diá – Dianho
Tinhoso – Capeta – Malino – Bicho – Pé de pato – Bóde preto – Tentação – Cuizarruim – Satanais – Cifé”, etc.
Diagonal – Tecido de algodão, preto, em linhas diagonaes.
Dór – Dó.
Dourado – Peixe de escamas, d’agua doce – É o Piraju dos indios – “pira” peixe – “jú” (ba) amarello.
Douradilho – Cavallo meio dourado.
Duas e meia bôa – Sempre que o caipira se refira a distancia, dirá legua quando em numero inteiro; havendo o quebrado de meia legua, não pronuncia elle a palavra legua; dirá: 2 1/2, “5 1/2 puxada” – “3 1/2 bôa”, etc.
Dunga – Corresponde ao “Dégas!” Quer dizer, com emphase, “cá eu!” “Quem venceu? O Dégas! Sou mesmo um “Dunga!”.
E
Eá! – Exclamação uzada pelas mulheres, quando muito admiram. Montoya registra no seu livro: “Lingua Guarany” essa exclamação só uzada pelas mulheres.
Eito (de tempo) – Extensão. Pedaço. Parte da lavoura entregue ao capinador.
É mão – Occasiáo (de se ir embora). “É mão de trabaiá”.
Embira – Resistente fibra da madeira chamada jangada.
Embira – (Estar na) Preso. Atado. Coberto de dividas.
Encamboiado – Ligado dois a dois. Encomboiados.
Encrenca – Embrulho. Desordem. Atrapalhada. Pendencia.
Ençampar – Enganar. “Çampa”, quer dizer mentira.
Encambitar (atraz delle) – Correr em perseguição de alguem.
Enfiar a agua no espeto – Vadiar.
Engrovinhada – Paralitica. Engrossamento de articulações. Mirrada.
Entojado – Cheio de si. Vaidoso. Emproado.
E… puca – Exclamação de gabolice.
Erpe – Expressão de gabóla – Venci! ê cabra erpe na lucta!”
Escórva – Exercicio. Experiencia de forças dos gallos de briga.
Escorvar – (A espingarda). Fazer explodir a escórva para enxugar o “ouvido” da arma. Exercitar-se para experimentar as forças.
Escopa – Jogo de cartas introduzido pelo italiano, no sul do Brasil.
Escorar – (um homem). Enfrentar o inimigo, fazendo-o parar.
Escóra – Pé direito. Apoio para que uma parede ou objecto não caia.
Esculpido – Muito parecido.
Espera – O mesmo que “ésse”. Logar onde se espera a caça. Pau em que se engancha o cabéçalbo de carro.
Espigão – Planalto.
Espigado – Rapaz de corpo direito. Desenvolto.
Esparrela – Armadilha para passaros composta de lacinhos de cedenho sobre uma tabua.
Esquentado – Impulsivo.
Esquesito – Fóra do natural. Não commum.
Esquisitice – Sensação extranha. Excentricidade.
Ésse – Travessa no boccal do punhal ou faca, com a fornia da letra S.
Essa ua – Expressão muito uzada: “Este um” – “aquelle um”, em lugar de este ou aquelle.
Estaqueô – Parou bruscamente.
Estanhados (olhos) – Fixos.
Estirão – Trecho de rio, em recta.
Estaca – Pau fincado na parede á guiza de cabide. Pau fincado na lavoura para marco de lugar em que tem de ser plantado o café ou a vinha.
Estiada – Paragem momentanea da chuva no tempo das aguas, prosseguindo logo a chuva.
Estranja – Estrangeiro.
Estaqueá – Parar bruscamente. Cahir morto.
Estrupicio – Grande quantidade. Asnice.
Esturdio – Esquisito. Fóra do commum.
Esturdinario – Extraordinario.
E-vê – Parece-me. Parecido. Similhante.
Envidado – Enganado. “Não sou eu; o sr. se envidou”.
F
Facho – Vegetaes seccos facilmente inflammaveis, nas queimadas.
Famia – Filho ou filha.
Far-má – Não faz mal. Deixam de pronunciar o não.
Fazenda – Grande propriedade agricola.
Fazendeiro – O dono da “fazenda”.
Festa do Divino – a festa em honra do Espirito Santo, que se reveste de grande brilho, na cidade de Tietê. Os caboclos têm como obrigação cumprir a promessa de seus antepassados, que desciam em numero de sessenta ou mais, nos grandes batelões, pelo rio Tietê, e subiam esmolando entre o povo ribeirinho, durante vinte e mais dias. As casas, na passagem das canôas, são enfeitadas com palmas e arbustos, sendo offerecidas lautas mesas aos canoeiros e ao povo do bairro, que afflue nessas occasiões. Onde pousa o Divino e toda a comitiva, organisam-se interessantissimas diversões, reunindo-se no sitio mais de mil pessôas.