Nísia Floresta – Literatura

Nísia Floresta

 

 

Uma pequena biografia

 

     Em seu livro Patronos e Acadêmicos – referente às personalidades da Academia Norte-Riograndense de Letras -, Veríssimo de Melo começa o capítulo sobre Nísia da seguinte maneira: “Nísia Floresta Brasileira Augusta foi a mais notável mulher que a História do Rio Grande do Norte registra”.

 

     De fato, a história e a obra de Nísia são de uma importância rara. “Infelizmente, a falta de divulgação da obra de Nísia tem sido responsável pelo enorme desconhecimento de sua vida singular e de seus livros considerados de grande valor”, diz Veríssimo.

 

     A educadora, escritora e poetisa nascida em 12 de outubro de 1810, em Papari, Rio Grande do Norte, filha do português Dionísio Gonçalves Pinto com uma brasileira, Antônia Clara Freire, foi batizada como Dionísia Gonçalves Pinto, mas ficou conhecida pelo pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta. Nísia é o final de seu nome de batismo. Floresta, o nome do sítio onde nasceu. Brasileira é o símbolo de seu ufanismo, uma necessidade de afirmativa para quem viveu quase três décadas na Europa. Augusta é uma recordação de seu segundo marido, Manuel Augusto de Faria Rocha, com quem se casou em 1828, pai de sua filha Lívia Augusta.

 

     Neste mesmo ano, o pai de Nísia havia sido assassinado no Recife, para onde a família havia se mudado. Em 1831, ela dá seus primeiros passos nas letras, publicando em um jornal pernambucano uma série de artigos sobre a condição feminina. Do Recife, já viúva, com a pequena Lívia e sua mãe, Nísia vai para o Rio Grande do Sul onde se instala e dirige um colégio para meninas. A Guerra dos Farrapos interrompe seus planos e Nísia resolve fixar-se no Rio de Janeiro, onde funda e dirige os colégios Brasil e Augusto, notáveis pelo alto nível de ensino.

 

     Em 1849, por recomendação médica leva sua filha, gravemente acidentada, para a Europa. Foi em Paris que morou por mais tempo. Em 1853, publicou Opúsculo Humanitário, uma coleção de artigos sobre emancipação feminina, que foi merecedor de uma apreciação favorável de Auguste Comte, pai do positivismo.

 

     Esteve no Brasil entre 1872 e 1875, em plena campanha abolicionista liderada por Joaquim Nabuco, mas quase nada se sabe sobre sua vida nesse período. Retorna para a Europa em 1875 e, três anos depois, publica seu último trabalho Fragments d’un ouvrage inédit: Notes biographiques.

 

     Nísia faleceu em Rouen, na França, aos 75 anos, a 24 de abril de 1885, de pneumonia. Foi enterrada no cemitério de Bonsecours. Em agosto de 1954, quase 70 anos depois, seus despojos foram transladados pra o Rio Grande do Norte e levados para sua cidade natal, Papari, que já se chamava Nísia Floresta. Primeiramente foram depositados na igreja matriz, depois foram levados para um túmulo no sítio Floresta, onde ela nasceu.

 

     Sua mais completa biografia – Nísia Floresta – Vida e Obra – foi escrita por Constância Lima Duarte, em 1995. Um livro de 365 páginas, editado pela Editora Universitária (da Universidade Federal do Rio Grande do Norte) que, em 1991, havia sido apresentado como Tese de Douturamento em Literatura Brasileira da autora, na USP/SP.

 

 

 

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A poetisa

Aqui sob esta abóbada

 

A escritora e educadora

Opúsculo Humanitário – Capítulo XXV

 

Bibliografia

Livros editados em vida e obras póstumas

 

 

 

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Aqui sob esta abóbada

Aqui sob o zimbório, onde um santo viveu,

Eu scismo sobre o nada… E a lama entristeceu…

E vem-me ao coração, assim, desilludido,

Santa recordação do meu filho querido…

A lembrança dos meus é orvalho enluarado

Suavizando o calor do meu peito abrazado.

Da vida no espinhal, de minha mãe a imagem

É perfume de flor, é verde de ramagem…

Branca e doce visão aos pés do altar pendida,

Intercedendo aos céos pela filha dorida,

Que chora de amargor, ante o vício e o peccado,

Enquanto escuta da alma um som nunca estudado…

Brando e divino som, que ao coração me vem

Como resteas do sol, como um sopro do Bem…

Seria a tua prece, ó mãe, o teu cicio

Que em mim repercutindo, eu sinto que allivio?

Deus fazendo vibrar seraphica oração,

Harmonia do céo, dentro do coração?

Ó mãe, esposo e pae, ó trindade primeira,

Que eu recordo, entre o crepe e a flor da laranjeira,

Como estrellas brilhando em rosários de luz,

Um clarão derramai aos pés da minha Cruz!…

 

 

 

 

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Opúsculo Humanitário

Capítulo XXV

     As escolas de ensino primário tinham antes o aspecto de casas penitenciárias do que de casas de educação. O método da palmatória e da vara era geralmente adotado como o melhor incentivo para o desenvolvimento da inteligência!

 

     Não era raro ver-se nessas escolas o bárbaro uso de estender o menino, que não havia bem cumprido os seus deveres escolares, em um banco, e aplicarem-lhe o vergonhoso castigo do açoite!!

 

     Se as meninas, que em muitos desses repugnantes estabelecimentos eram admitidas de comum com o outro sexo, ficavam isentas dessa sorte de barbaria, não deixavam entretanto de presenciá-la por vezes, e de receber uma impressão desfavorável, que muito concorria para enervar-lhes a delicadeza e modéstia, que de outra sorte dirigidas tanto realce dão às qualidades naturais da mulher.

 

     A palmatória era o castigo menos afrontoso reservado às meninas por mulheres, em grande parte, grosseiras, que faziam uso de palavras indecorosas, lançando-as ao rosto das discípulas, onde ousavam imprimir alguma vez a mão, sem nenhum respeito para com a decência, nem o menor acatamento ao importante magistério, que sem compreender exerciam.

 

     O sistema inquisitorial das torturas infligidas às inocentes vítimas do Santo Ofício, que sob outra forma e com diverso fim transpusera o Atlântico, presidia ao ensino da mocidade brasileira, ministrado por severos jesuítas ou por mestres charlatães, cujo mérito consistia em saber soletrar alguns clássicos portugueses, e assassinar pacificamente Salústio, Tito Lívio, Virgílio e Horácio!

 

     Esta inaudita e brutal severidade era sancionada por grande número de pais, cuja educação tinha sido assim feita, e cujo rigor doméstico não era menos cruel.

 

     Com algumas modificações continuou infelizmente este regimem muito tempo depois. Pais e filhos estavam ainda por educar, como se vê desta observação do Conde dos Arcos a um mestre da escola da Bahia, que se lamentava do pouco resultado de seus grandes esforços para bem dirigir a educação de seus discípulos: “Será preciso primeiramente educar os pais, para que se possa conseguir a boa educação dos filhos”.

 

     Não deixaremos entretanto passar esta observação, posto que justa, sem que acrescentemos outra; e vem a ser, que não era a um filho do país, a quem o Brasil deve todos os seus erros e prejuízos, que cabia censurar uma falta dele procedente, e tão geralmente nele cometida.

 

     Demais o célebre introdutor das primeiras comissões militares no Brasil, digno sectário da doutrina de Hobbes, que pretende – ser o despotismo ordenado pela religião, não devia censurar a falta de uma educação esclarecida sem a qual mais facilmente os homens se submetem ao absolutismo de seus governantes.

 

 

 

 

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Bibliografia

Por ordem de publicação (referente à primeira edição de cada livro)

 

Direitos das mulheres e injustiça dos homens, por Mistriss Godwin. Tradução livre do francês por Nísia Floresta Brasileira Augusta. Recife. Typographia Fidedigma, 56 p., 1832.

Conselhos à minha filha, por Nísia Floresta Brasileira Augusta. Rio de Janeiro. Typographia de J. E. S. Cabral, 32 p., 1842.

Fany ou o Modelo das donzelas, por Nísia Floresta Brasileira Augusta. Em 8 de abril de 1847. Rio de Janeiro: Colégio Augusto.

Daciz ou a Jovem completa. Historieta oferecida a suas educandas. Rio de Janeiro. Typographia de F. de Paula Brito, 15 p., 1847.

Discurso que às suas educandas dirigiu Nísia Floresta, em 18 de dezembro de 1847. Rio de Janeiro. Tpographia Imparcial de F. de Paula Brito, 6p., 1847.

A lágrima de um Caeté, por Tellesila. Rio de Janeiro. Typographia de L. A. F. Menezes, 39 p., 1849.

Dedicação de uma amiga, (Romance Histórico). Por B. A. 2 volumes. Niterói: Typographia Fluminense de Lopes & Cia, 158 e 160 p., 1850.

Opúsculo Humanitário. Por B. A. Rio de Janeiro. Typographia de M. A. da Silva Lima, 178 p., 1853.

Páginas de uma vida obscura; Um passeio ao aqueduto da Carioca; O pranto filial. Rio de Janeiro. Typographia de N. Lobo Vianna, 1854.

Intineraire d’un voyage en Allemagne. Par Mme. Floresta A. Brasileira. Paris: Firmin Diderot Frères et Cie, 216 p., 1857.

Consigli a mia figlia. Firenze: Stamperia Sulle Logge del Grano, 56 p., 1858.

Scintille d’un’Anima Brasiliana. Di Floresta Augusta Brasileira. Firenze: Tipografia Barbera, Bianchi & C, 85 p., 1859.

Conseils a ma fille. Par Brasileira Augusta. traduit de l’Italien par B. D. B.. Florence: Impr. du Monnier, 51 p., 1859.

Le lagrime d’un Caeté. Tradotto da Ettore Marcucci. Firenze: Le Monnier, 1860.

Trois ans en Italie, Suivis d’un voyage en Grèce. Par Une Brésiliènne. Paris: Libraire E. Dentu, 292 p., 1864.

Woman. By F. Brasileira Augusta. Translated from the Italian, by Livia A. de Faria. London: Printed by G. Parker, Little St. Andrew Street, Upper. St. Martin’s Lane, 1865.

Paris. Paris: 1867.

Le Brésil. Par Mme. Brasileira Augusta. Paris: Libraire André Sagnier, 49 p., 1871.

Fragments d’un ouvrage inédit: Notes biographiques. Paris: A. Chérié, Editeur, 111 p., 1878.

Edições Póstumas

 

Auguste Comte et Mme. Nisia Brasileira (Correspondance). Paris: Libraire Albert Blanchard, 1929.

Fanny ou o Modelo das donzelas. In Osório, Fernando. Mulheres Farroupilhas. Porto Alegre: Editora Globo, 1935.

A lágrima de um Caeté. In Revista das Academias de Letras. Apresentação de Modesto de Abreu. Rio de Janeiro: Janeiro de 1938.

Itinerário de uma viagem à Alemanha. Nísia Floresta. Tradução de Francisco ds Chagas Pereira. Natal: Editora Universitária, 1982.

Opúsculo Humanitário. Nísia Floresta. Introdução e Notas de Peggy Sharpe-Valadares. São Paulo. Cortez Editora, 1989.

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