Festa Celebra “boa fase” do Cinema Nacional

O cinema brasileiro vestiu black-tie e esqueceu o complexo de coitadinho. O cenário dessa reviravolta dramática foi a Marina da Glória, no Rio, onde ocorreu festa de gala para a entrega do Grande Prêmio TAM, na noite de terça 24/05, que terminou com a consagração de “Cazuza”, de Sandra Werneck e Walter Carvalho.

Quando diretores e atores que fazem cinema no Brasil se reúnem, seus discursos costumam ser variações sobre o tema da dificuldade que é realizar a sétima arte no país.

Reclama-se das desilusões na famigerada “captação de recursos” para produzir, da dura disputa por um lugar nas (insuficientes) salas de cinema e pela atenção do espectador, condicionada à produção estrangeira.

Nada semelhante a essas queixas foi ouvido nos agradecimentos dos eleitos como melhores da temporada de 2004. Ao contrário. Celebrou-se o “bom momento” do cinema, como se referiram à atual fase da produção nacional os cineastas Paulo Sacramento (melhor longa documentário, para “O Prisioneiro da Grade de Ferro”) e Otto Guerra (melhor curta de animação, com “Nave Mãe”).

Grande homenageada da noite, a atriz Dercy Gonçalves traduziu a sensação dominante: “Isso aqui é um Oscar, não é?”. Numa inversão de papéis, a habitualmente desbocada Dercy dirigiu sua pergunta-elogio aos únicos personagens escrachados da noite.

Os integrantes do grupo humorístico Z.É., que foram os mestres-de-cerimônia, ridicularizaram de saída as pretensões hollywoodianas do prêmio. Cantaram versos sobre o “smoking alugado tão chinfrim” e afirmaram que “dona Glória” precisava beber para “viajar” e se sentir no Oscar.

Como no molde da festa de Hollywood, promovida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, a escolha dos ganhadores do Grande Prêmio TAM é feita entre colegas. Votam os pouco mais de 200 membros da Academia Brasileira de Cinema, que promove o prêmio.

A equipe de “Cazuza – O Tempo Não Pára” foi a que mais vezes subiu ao palco: sete. Além de melhor filme, o longa foi premiado nas categorias montagem (Sergio Mekler), roteiro adaptado (Fernando Bonassi e Victor Navas), ator (Daniel Oliveira), direção de fotografia (Walter Carvalho), trilha sonora (Guto Graça Mello) e som (Zezé d’Alice, Valdir Xavier, Rodrigo Noronha).

A consagração de “Cazuza” reconhece um filme que superou as próprias expectativas na bilheteria. O longa estreou em junho do ano passado, ambicionando atingir 1 milhão de espectadores. Terminou sua carreira nos cinemas na marca dos 3 milhões.

Ao conseguir o troféu principal, “Cazuza” suplantou produções cujo prestígio de crítica não se traduziu em público numeroso. É o caso de “Redentor”, de Cláudio Torres, premiado como melhor diretor, e de “Narradores de Javé”, de Eliane Caffé (melhor roteiro, de Café e Luiz Alberto Abreu, e ator coadjuvante, Gero Camilo).

Difícil saber se os profissionais de cinema que consagraram “Cazuza” votaram no filme porque perderam o medo de coincidir com a opinião do público ou como um aplauso ao seu talento para a comunicação popular. Qualquer das alternativas parece ser um sinal de disposição para sair do gueto.

A mais ambiciosa e comentada produção de 2004, “Olga”, de Jayme Monjardim, recebeu apenas os chamados prêmios técnicos –direção de arte (Tiza de Oliveira), figurino (Paulo Lois) e maquiagem (Marlene Moura).

A atuação em “O Outro Lado da Rua”, de Marcos Bernstein, deu os prêmios de atriz para as damas Fernanda Montenegro e Laura Cardoso (como coadjuvante).

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