Pedro Américo de Figueiredo e Mello: nasceu em Areia, Paraíba, em abril de 1843 e faleceu em Florença, Itália, em 1905. Estudou na Academia Imperial de Belas-Artes e no Colégio de Pedro II, sendo protegido por D. Pedro II; em 1859, foi matriculado na Academia de Belas-Artes e na Faculdade de Ciências da Sorbonne, na França. De 1862 a 1864, já era professor da Academia de Belas-Artes do Rio de Janeiro, onde estudara; em 1869, retornou à Europa e doutorou-se em ciências pela Universidade de Bruxelas. Em 1871, de volta ao Brasil, novamente tornou-se professor da Academia Imperial de Belas-Artes. Nessa época pintou a Batalha do Campo Grande no qual retratou, com cores nacionalistas, o triunfo brasileiro na Guerra do Paraguai; em 1877, essa guerra voltou a ser tema de sua pintura no quadro Batalha de Monte Bello. Em 1878, partiu novamente para a Europa; foi em Florença, Itália que Pedro Américo pintou o quadro Independência ou Morte. Esse quadro, pintado entre 1886 e 1888, foi idealizado para ocupar um lugar de destaque no salão de honra do Monumento do Ipiranga, São Paulo, onde está até hoje.
Pedro Américo In: VAINFAS: Ronaldo (org.). Dicionário do Brasil Imperial (1822-1889). Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. p. 570-571
A invenção do grito
(…) Muito embora fosse um dos mais renomados artistas brasileiros (Pedro Américo), seu envolvimento com a celebração da Independência não se deu propriamente por meio de um convite. Foi o pintor que se ofereceu para fazer o painel, encorajado por políticos atuantes na Corte. O contrato foi firmado no início de 1886 e certamente demandou ajustes de ambas as partes, até porque a postura política do artista estava mais afinada com os liberais e republicanos do que com os monarquistas.
O folheto intitulado ‘O brado do Ypiranga ou a proclamação da Independência do Brasil, algumas palavras acerca do fato histórico e do quadro que o comemora’, (escrito pelo artista) impresso originalmente em Florença, em 1888, descreve os caminhos percorridos na confecção da obra e evidencia entrelaçamentos entre arte e política.
(…) Na parte inicial, Pedro Américo descreve o episódio do Sete de Setembro (…), a versão recriada (por ele) é singular em razão da pesquisa minuciosa que realizou sobre o tema (…). Consultou historiadores, retratos, objetos e descendentes de protagonistas. A isso reuniu observações pessoais elaboradas durante a visita ao ‘sítio do Ipiranga’, que conheceu, em 1886, quando as obras do monumento já haviam começado.
A segunda parte do folheto é toda dedicada à descrição dos elementos que possibilitaram ‘revestir das aparências materiais do real todas as particularidades de um acontecimento que passou-se há mais de meio século’. Ponderava que um quadro histórico se alicerçava na ‘verdade’, embora o pintor não devesse dela se tornar escravo. Assim, entre outros aspectos, alterou a topografia, para realçar o riacho do Ipiranga e a colina; escolheu raças eqüinas que dessem maior elegância ao príncipe e à comitiva; definiu características de trajes e chapéu; e promoveu a incorporação anacrônica da guarda de honra do imperador, regimento criado, como o próprio nome sugere, tempos depois do Sete de Setembro. Reconhecia intenções morais na pintura, bem como seu caráter exemplar, do ponto de vista das lições e experiências que à história cabia difundir, ao qual se aliava o objetivo mais evidente de uma obra de arte: expor à contemplação uma cena irremediavelmente perdida mas da qual não se questionava a existência. (…)
O painel consolidou a memória do Sete de Setembro ao referendar a celebração do Império e da monarquia constitucional que o Monumento do Ipiranga expressava. (…) A partir de então, o Sete
de Setembro transformou-se em marco inquestionável da história do Brasil. Simultaneamente, e pela primeira vez, Pedro Américo idealizou em detalhes o lugar em que ocorreu a proclamação, delineando o solo paulista como foco originário da nação, o que auxiliou a sedimentar interpretação de fins do século XIX, segundo a qual os destinos do país estavam entrelaçados aos destinos de São Paulo.
OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles. A invenção do grito. In: Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional. Ano 1, nº 5, novembro 2005