A Feijoada do Boca Negra: Samba no Prato e na Alma

 

Um banquete de música e tradição que reacende a chama do samba curitibano.

 

No último domingo, a casa do Bernardo se transformou em um verdadeiro quilombo do samba curitibano. Era dia da feijoada do Bloco Boca Negra, capitaneada pelo carismático presidente Léo Fé. Fui um dos privilegiados convidados para essa celebração de encontros, sabores e acordes, onde a tradição e a esperança pulsaram como os tambores de uma bateria.

Logo na entrada, o aroma inconfundível da feijoada, preparada por Mestre Elias, anunciava um espetáculo à parte. Cozinheiro, violonista e cavaquinista, Elias temperou o feijão com afeto, entregando mais que um prato: uma história viva de resistência e celebração que transcende o tempo. Cada colherada parecia ecoar a força de um povo que, mesmo na adversidade, transforma luta em festa.

O quintal era só música e sorrisos. Com o feijão no prato e o samba na alma, a roda comandada por Manu da Viola se formou. Elias e Ricardo Pazello advogado, professor e pesquisador dividiram harmonias com o pandeiro da socióloga Mema, enquanto Rafael Batata, carnavalesco e médico, marcava o ritmo com maestria. Geovani segurava a batida, e Bruno Milek, Fernando Canhota, Fran, advogada, Ariane, que é Cantora (soprano) no Madrigal da UFPR e professora de canto,  Welington Negrão, Mestre de Capoeira Angola, Jair cantor, Dani e Zé somavam notas à melodia que enchia o ar. Bernardo, sempre entre um acorde e outro, garantia que ninguém desafinasse na alegria.

As crianças – Luiza, Joana, Clara e Eva – corriam entre risos, acompanhadas de perto por Caramelo e Zé Matinhos, os fiéis cachorros da casa. Era a pura essência da brasilidade: o samba entrelaçando gerações e celebrando a vida em comunidade.

O ponto alto veio com parceiro Léo Fé puxando “Não vou subir” samba meu e de Homero Réboli  trazendo partido-alto de terreiro, daqueles que fazem qualquer coração balançar. Até as panelas de Elias, agora vazias, pareciam querer sambar. Foi nessa vibração que se deu o pontapé para a recriação da Escola de Samba Colorado, um marco da cultura carnavalesca de Curitiba.

O Bloco Boca Negra provou que Curitiba samba – e samba bonito. No quintal do Bernardo, o samba e a feijoada mostraram que, unidos, são a receita infalível para alimentar o corpo, a alma e a esperança. Saí com o coração aquecido e a certeza de que o samba paranaense está vivo, vibrante e pronto para um futuro ainda mais promissor. Soube que foi até altas horas.

 

Que venham mais feijoadas, rodas de samba e a Colorado renascida para retemperar nossa alma!

 

Cláudio Ribeiro

Jornalista – Compositor

 

 

 

 

 

 

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