A programação milionária privilegia grandes nomes nacionais, mas ignora talentos locais, reforçando o apagamento cultural e econômico dos artistas do estado.
O Governo do Paraná anunciou com pompa e circunstância a programação do Verão Maior Paraná 2024/2025, com shows gratuitos de nomes consagrados da música brasileira em arenas de Matinhos e Pontal do Paraná. Serão 33 apresentações de peso entre janeiro e fevereiro, prometendo atrair multidões às praias do estado. Entretanto, a classe artística paranaense tem outro motivo para falar sobre o evento: mais uma vez, os artistas locais foram ignorados em um investimento público que privilegia atrações de fora.
A festa de lançamento incluiu o maior show de drones já realizado no Paraná, sobre o Palácio Iguaçu, como prelúdio para nomes como Titãs, Jota Quest, Sorriso Maroto, Péricles, Michel Teló, e um desfile de estrelas do sertanejo. Mas enquanto o governo exibe números impressionantes de público e turismo, os trabalhadores da arte local contabilizam o mesmo abandono de sempre: a exclusão de oportunidades e a invisibilidade cultural.
Milhões para fora, migalhas para dentro
Os números do Verão Maior são robustos: mais de 1 milhão de turistas esperados, sete finais de semana de música, e shows que lotam verdadeiros “Maracanãs” na praia. Contudo, o custo desse espetáculo é alto, e boa parte dele flui diretamente para artistas de fora do estado, com cachês vultosos pagos com dinheiro público. Enquanto isso, bandas, grupos de samba, duplas sertanejas e outros artistas paranaenses continuam relegados às margens, sobrevivendo de bicos em bares e eventos menores.
“A gente não quer tirar espaço de ninguém, mas questionamos por que o governo não divide melhor essa verba. Se é um evento financiado com dinheiro público, por que os artistas locais são os últimos a serem lembrados?”, desabafa um músico curitibano que prefere não se identificar.
Oportunidade de ouro jogada fora
O verão no litoral paranaense não é apenas um momento de lazer e turismo, mas uma vitrine poderosa para divulgar a cultura local. São milhares de turistas que poderiam conhecer a diversidade artística do estado — do fandango caiçara ao samba, do rock alternativo às novas gerações do sertanejo. Contudo, a oportunidade de ouro de fortalecer a economia criativa paranaense é ignorada, enquanto os holofotes se voltam para nomes já consagrados, que muitas vezes nem se lembram em qual cidade do litoral estão tocando.
Artistas pedem espaço e respeito
A crítica dos artistas não é nova. Há anos, a classe pede maior participação em eventos promovidos pelo governo estadual. Mesmo em ações menores, como a abertura de shows ou apresentações em horários alternativos, os talentos locais poderiam ter visibilidade e apoio financeiro.
Mas a resposta do governo é sempre a mesma: silêncio. Nem mesmo iniciativas para abrir editais ou criar circuitos culturais regionais são discutidas. Enquanto isso, o litoral do Paraná assiste a um desfile de artistas que já têm espaço consolidado em grandes festivais e circuitos nacionais, enquanto a arte local segue sufocada.
Uma política para quem?
A concentração de atrações nacionais em detrimento dos talentos locais levanta uma questão maior: para quem o governo está governando? A falta de equilíbrio na programação reforça uma lógica de centralização cultural e de apagamento das identidades regionais.
Com uma programação tão ambiciosa, o Verão Maior poderia ser um divisor de águas para artistas paranaenses, gerando renda e fortalecendo o turismo cultural do estado. Mas, mais uma vez, os artistas do Paraná ficam com nada além das migalhas.
O verão será maior, sim, mas o espaço para os paranaenses, mais uma vez, será menor.
Faça um comentário