Em uma vida dedicada à arte, o pianista encantou plateias ao redor do mundo, levando Chopin, Nazareth e o Brasil a todos os cantos, incluindo a nossa Curitiba.
Tive o privilégio de conhecer e apresentar o talento extraordinário de Arthur Moreira Lima, um dos maiores intérpretes de piano que o Brasil já produziu. Em uma de suas passagens pelo Paraná, ele mencionou, com seu característico humor, o desejo de visitar a cidade de Chopinzinho, brincando com sua fama como “intérprete de Chopin”.
Arthur Moreira Lima faleceu no dia 30 de outubro de 2024, em Florianópolis, aos 84 anos, após enfrentar uma dura batalha contra o câncer de intestino, diagnosticado um ano antes. Sua partida deixa um vazio irreparável no cenário musical brasileiro e mundial, mas sua história e legado permanecerão vivos, iluminando futuras gerações. Conhecido como o “Pelé do piano”, Moreira Lima tornou-se uma lenda por sua habilidade de interpretar obras complexas de compositores como Chopin e Liszt, gravando ao longo de sua carreira mais de 60 álbuns e consolidando-se como uma referência no repertório clássico brasileiro.
O talento de Moreira Lima, porém, ia além dos grandes compositores europeus; ele foi também um apaixonado pela música brasileira, interpretando nomes como Ernesto Nazareth e Pixinguinha, e dando vida ao choro e ao samba nos palcos clássicos. Com sua genialidade, introduziu o Brasil no repertório mundial de música erudita, ampliando os horizontes da música popular e inserindo-a em contextos onde nunca havia sido ouvida.
Uma lembrança especial para mim é sua apresentação memorável na Boca Maldita, em Curitiba. Lá estava ele, no meio da rua, em um caminhão-teatro especialmente adaptado, tocando para o público no projeto “Um Piano pela Estrada.” Não me recordo o ano exato, mas foi uma experiência única, em que Moreira Lima levou a música clássica para o coração da cidade, alcançando pessoas que talvez nunca tivessem tido a oportunidade de assistir a um concerto. Ali, sua arte encontrava a liberdade das ruas e conquistava o coração de todos, democratizando o acesso à música erudita e mostrando que o piano era para todos.
Em sua trajetória, Arthur Moreira Lima percorreu o mundo e tocou nas mais prestigiosas salas de Berlim, Viena, Londres, Tóquio e Moscou. Em cada apresentação, levava consigo um pedaço do Brasil, encantando plateias com a riqueza de nossa cultura e provando que a arte transcende fronteiras e idiomas.
Hoje, despedimo-nos de um mestre, mas seu som permanece ecoando, como um legado eterno.
Cláudio Ribeiro
Jornalista – Compositor
Faça um comentário