A data de seu nascimento, 17 de outubro, foi oficialmente designada como o “Dia da Música Popular Brasileira”
Por Portal Brasil Cultura – 17 de outubro de 2023
Chiquinha Gonzaga, cujo nome de batismo era Francisca Edwiges Neves Gonzaga, foi uma figura icônica da música brasileira, nascida no Rio de Janeiro em 1847. Esta notável pianista, maestrina e compositora conquistou um lugar de destaque na história cultural do Brasil, não apenas por seu talento musical, mas também por seu comprometimento com a luta abolicionista e sua coragem em desafiar as normas patriarcais de sua época.
Os Primeiros Passos
Chiquinha Gonzaga, neta de uma escrava liberta, cresceu em uma sociedade que limitava o papel das mulheres à esfera doméstica. No entanto, seu amor pela música a impulsionou a desafiar as expectativas. Aprendeu a tocar piano por conta própria, desafiando as normas da época que reservavam a educação musical principalmente para os homens.
Aos 16 anos, Chiquinha foi casada contra sua vontade com Jacinto Ribeiro do Amaral, um empresário que a maltratava. Essa união durou apenas dois anos, e aos 18 anos, ela deixou Amaral para viver com o engenheiro João Batista de Carvalho. Sua vida amorosa, marcada por divórcios escandalosos e traições, a levou a se concentrar cada vez mais em sua carreira musical, após perder a guarda de seus filhos.
A Revolução na Música Brasileira
A partir de 1877, Chiquinha transformou a música em sua profissão, um feito notável e pioneiro para uma mulher naquela época. Sua primeira composição de sucesso, “Atraente”, não lhe trouxe o reconhecimento esperado, mas persistiu em seu caminho musical.
Sua colaboração com o pianista português Artur Napoleão dos Santos aprimorou suas habilidades no piano e a levou a sua primeira experiência como regente no teatro, em 1885, quando apresentou a opereta “A Corte na Roça”. Nessa época, a palavra “maestrina” ainda não era reconhecida na imprensa local, destacando o quão pioneira Chiquinha Gonzaga era em sua carreira.
Uma Defensora da Abolição
Chiquinha Gonzaga era também uma abolicionista convicta. Ela chegou a vender partituras para arrecadar fundos em apoio à “Confederação Libertadora”. Um de seus músicos, José Flauta, era um ex-escravo cuja liberdade foi comprada por Chiquinha. Sua postura desafiadora perante as questões sociais e seu compromisso com a causa abolicionista a tornaram uma figura única em sua época.
O Sucesso Inigualável
O ponto alto de sua carreira musical veio no início do século XX com a composição da famosa marcha carnavalesca “Ó Abre Alas” em 1899. Essa canção se tornou um hino do Carnaval e continua sendo parte do repertório festivo do Brasil até hoje.
Vida Pessoal e Legado
A vida pessoal de Chiquinha Gonzaga também foi repleta de escândalos, incluindo um romance com João Batista Fernandes Lage, que tinha 16 anos quando se envolveu com a artista. Ele adotou o sobrenome Gonzaga e desempenhou um papel importante na organização da “Sociedade Brasileira de Autores Teatrais”, que protegeu os direitos autorais da artista.
Chiquinha Gonzaga faleceu aos 87 anos, em 28 de fevereiro de 1935, no Rio de Janeiro, sendo sepultada no cemitério do Catumbi.
Homenagens e Legado Duradouro
O legado de Chiquinha Gonzaga para a música brasileira é inegável. A data de seu nascimento, 17 de outubro, foi oficialmente designada como o “Dia da Música Popular Brasileira” a partir de 2012. Sua vida e obra também foram retratadas em uma minissérie televisiva em 1999 e no filme “Brasília 18%” (2006).
O nome de Chiquinha Gonzaga é reverenciado em todo o Brasil, com avenidas, ruas, praças e escolas que levam o seu nome.
Uma Vasta Obra Musical
Chiquinha Gonzaga deixou para trás uma rica e diversificada obra musical, que inclui peças para piano, piano solo e canto, abrangendo diversos ritmos, como tangos brasileiros, canções, polcas, valsas, habaneras, fados, baladas, modinhas, choros, mazurcas, dobrados, duetos, serenatas e peças sacras. Seu acervo musical continua a ser protegido pelo Instituto Moreira Salles, que também trabalha na organização de trabalhos inéditos.
O Impacto Duradouro de “Ó Abre Alas”
A marcha carnavalesca “Ó Abre Alas”, lançada por Chiquinha Gonzaga em 1889, marcou um momento revolucionário na música brasileira, uma vez que antes disso, os cordões de Carnaval não tinham uma música própria. A canção continua a ser uma parte essencial do repertório carnavalesco do Brasil, mantendo sua popularidade até os dias de hoje.
A modinha “Lua Branca”, uma das composições mais conhecidas de Chiquinha Gonzaga, também fez história, e a artista teve que lutar pelos direitos autorais da música. Suas contribuições à música brasileira e à cultura são inegáveis, deixando um legado duradouro que continua a inspirar gerações de músicos e amantes da cultura brasileira.
Faça um comentário