Para professor da USP, extinção da rádio MEC AM é “crime contra história brasileira”

Emissora pioneira no Brasil será desligada como medida do governo Bolsonaro

“Mais um crime que se comete não só com os ouvintes da rádio mas também contra a história brasileira”, assim define o professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP) e conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) Laurindo Leal Filho sobre o encerramento da rádio MEC AM pelo governo Jair Bolsonaro (PSC). O sinal será desligado no dia 31, segundo informou a coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, na última sexta-feira (5).

 

“Quando uso a palavra crime não é nenhum exagero. Estamos vendo um processo de desmanche que vem ocorrendo há algum tempo e afeta todo sistema de comunicação pública no Brasil que estava se tornando robusto. Não pode haver uma sociedade que tenha rádio e televisão financiadas apenas pela propaganda. Tudo bem que exista essa forma, mas é fundamental o financiamento público porque não existe a contaminação dos interesses comerciais”, disse Leal em entrevista.

 

Pioneira no Brasil, a emissora está no ar desde que foi fundada em 1923 pelo antropólogo Edgard Roquette-Pinto com o nome de Rádio Sociedade no Rio de Janeiro e foi doada em 1936 ao governo federal. “A origem da rádio vem dos meios acadêmicos e científicos,  havia um compromisso da sua natureza mais elementar com a transmissão da cultura. Basta ver os nomes de artistas, escritores, que passaram pela rádio MEC falando para o Brasil”, completa o professor da USP. A sigla MEC quer dizer “Música, Educação e Cultura”.

 

Desmonte

 

Para Leal, a medida é mais uma demonstração que o governo criminaliza o conhecimento, a cultura e a história do Brasil. O acervo da emissora conta com cerca de 50 mil registros e produções. E ainda um patrimônio de gravações de depoimentos que vão de Getúlio Vargas a Monteiro Lobato, passando por crônicas de Cecília Meireles e Manuel Bandeira, segundo descrição no site.

 

“Infelizmente a medida vai na linha do que está acontecendo no país, a criminalização do conhecimento.Um governo que não tem nenhuma preocupação com a questão cultural e as raízes do Brasil. A tendência é que cada vez mais essas emissoras públicas sejam totalmente destruídas ou passem a servir  a interesses político-partidários como é o caso da TV Brasil que deixou de ser uma emissora pública que abria seus microfones e câmeras para as mais variadas correntes de pensamento existentes na sociedade para se tornar um órgão de divulgação das ações do governo. O que contraria toda a ideia de uma comunicação pública”, ressaltou Leal.

 

Um movimento de funcionários da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) contra a destruição da emissora de rádio mais antiga do Brasil lançou uma nota denunciando a medida. “As emissoras AM da EBC não podem acabar! O vazio informativo no interior será ainda maior, diminuindo informações e entretenimento para milhões. É papel da EBC atingir locais que as emissoras privadas não se interessam. Não à extinção da rádio mais antiga do Brasil! #ficaMecAM”, diz o texto.

 

Edição: Jaqueline Deister | Redação: Clívia Mesquita | Entrevista: Denise Viola

 

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