Quem consegue resistir ao som de uma sanfona, uma zabumba e um triângulo? Nesta época do ano os instrumentos tradicionais do forró desembarcam nas festas juninas de norte a sul do Brasil. Mas a cultura que envolve esse ritmo contagiante ainda é pouco difundida.
Por Iberê Lopes
O surgimento do nome “forró”, por exemplo, tem algumas versões curiosas. Uma delas é a do folclorista Luiz Câmara Cascudo, para quem a palavra seria a abreviação de forrobodó. O termo é utilizado como sinônimo de arrasta-pé, confusão ou farra.
Quando surgiram as primeiras manifestações do estilo, próprio do universo rural, as pistas onde o povo se divertia eram em locais de barro batido. Para não levantar poeira no “bate chinelo” era preciso molhar o terreiro antes. Um forrobodó.
Outra possível origem da palavra forró, de acordo com Evanildo Bechara, filólogo de Pernambuco, é uma variação do antigo galego-português forbodó. Esta, por sua vez, é oriunda do francês faux-bourdon, que significa “desentoação”.
Todos os elementos que compõem essa forte expressão musical brasileira trouxeram o debate para a Câmara dos Deputados. Artistas, estudiosos e parlamentares promovem, na próxima quarta-feira (13), 16h, um diálogo sobre o registro do forró como patrimônio imaterial da cultura nacional.
A audiência pública sobre a inscrição do forró no livro de Patrimônio Cultural do Brasil, que será realizada pela Comissão de Cultura da Câmara, foi solicitada pela deputada pernambucana Luciana Santos (PCdoB), titular da Comissão e presidente da Frente Parlamentar em Defesa da Cultura, e do deputado baiano Daniel Almeida (PCdoB).
De acordo com a presidente da Frente em Defesa da Cultura, Luciana Santos, incluir essas matrizes — a exemplo do que aconteceu com o Samba — no livro de registro de bens imateriais do povo brasileiro é um ganho inestimável para o país. “Essa audiência, bem como uma série de movimentos que estamos dando início a partir dela, se somam aos esforços de ouvir o povo brasileiro a respeito do assunto”, explica Luciana.
Para falar aos parlamentares sobre o tema foram convidados os representantes do Fórum Nacional do Forró Tereza Accioly e Rozania Ribeiro, coordenadoras do coletivo em Pernambuco e Bahia, respectivamente; além do músico e reitor da Universidade Estadual da Paraíba, Antônio Rangel Junior. A reunião espera contar, ainda, com a presença da presidente do IPHAN, Kátia Bógea, e com a presidente da Associação Cultural Balaio Nordeste (ACBN) e coordenadora nacional do Fórum, Joana Alves.
O Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (Iphan), atestou a pertinência do reconhecimento nacional, mas ponderou a necessidade de uma maior articulação da comunidade forrozeira em torno da Instrução Técnica de Registro.
“O nosso povo já adotou o forró como patrimônio cultural da nação”, diz Rangel Júnior, que é reitor da Universidade Estadual de Pernambuco (UEPB). Para ele, que também é cantor e compositor, o que era apenas de uma região transformou-se em patrimônio nacional, de origem nordestina.
“A iniciativa de reconhecimento do forró como patrimônio imaterial da cultura brasileira criará melhores condições para que as políticas públicas, de modo geral, possam inserí-lo na cadeia produtiva da economia criativa e, claro, assegurar a preservação de suas matrizes históricas e sua estética universal de matriz regional nordestina”, completa Rangel Júnior.
O processo depende de pesquisas, análises sociais e antropológicas. O reconhecimento está sendo analisado pelo Iphan, que é vinculado ao Ministério da Cultura. Para incentivar a iniciativa a Associação Cultural Balaio Nordeste, com forrozeiros atuantes no Estado da Paraíba, passaram a organizar o “Fórum Forró de Raiz”. O grupo reúne artistas engajados na manutenção das tradições musicais do nordeste.
Ainda para a autora do requerimento de realização da audiência, deputada Luciana Santos (PE), a maior riqueza de nosso país, também presente na exuberância da natureza e nas dimensões continentais do território nacional, se concentra sobretudo “na cultura do povo que, em meio à adversidade e à pobreza a que está submetido, consegue manter viva essa bela tradição cultural nordestina – o forró”, afirma a parlamentar.
Com sotaque forte do interior do Nordeste, a música relata muitas vezes as paixões do sertanejo pela terra, as agruras da vida na seca, o amor e a difícil lida no campo. Expoente da tradição, Luiz Gonzaga é o mais conhecido forrozeiro do país. Ele foi responsável pela difusão da cultura, apresentando em suas letras as histórias e lendas presentes no folclore da região.
De artistas consagrados a nomes mais locais, todos de alguma forma tentam manter vivo o estilo original em suas composições. Seguindo a trilha de ícones do gênero como Dominguinhos, nascido na cidade de Garanhuns, agreste pernambucano. O músico teve como padrinho o próprio Gonzaga.
Inúmeros estudiosos encontraram semelhanças do forró com o toré indígena, ritmos holandeses e também portugueses. Até uma possível variação das polcas europeias é trazida como referência. E os instrumentos utilizados, bem como as roupas típicas tem seus fatos, lendas e versões.
Grupos como Falamansa e Trio Rastapé foram responsáveis pela retomada da música nos anos 90s. E daí por diante, a nova geração fundiu a zabumba, o triângulo e a sanfona com maxixe, sertanejo universitário, brega e até mesmo música eletrônica. Fato é que o ritmo e a cultura contagiam o povo brasileiro há muito e merece se tornar patrimônio cultural.
Serviço:
Audiência Pública Forró como Patrimônio Cultural do Brasil
Quando: Quarta-feira, 13/06/2018 às 16h
Onde: Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados
Fonte: PCdoB na Câmara
Faça um comentário