Alienação

 

Brasileiro não sabe votar!
Quem não ouviu essa frase pelo menos uma vez na vida? Quem nunca proferiu essa frase?
Em sala de aula, uso a frase, e a maioria dos alunos concorda com ela. Então eu questiono: você se inclui nesse grupo de “brasileiros” ou se exclui dele?
Na teoria do conhecimento, a generalização, capacidade de falar com certeza sobre temas que absolutamente desconhece é tida como uma das falhas clássicas de raciocínio.
Entre nós, o clientelismo eleitoral tem raízes culturais históricas, e é uma realidade que a observação empírica confirma: as eleições brasileiras são caracterizadas por intensa negociação de bens materiais, favores administrativos e promessa de cargos. Visto o assunto essencialmente desse ângulo, as pessoas que vendem seu voto, que se tornam alienadas, pertencem às camadas mais carentes da população. Essa é uma visão preconceituosa, pois nos grupos de elite encontramos empresas que terão maiores benefícios se “um” dos candidatos vencer, ou mesmo em setores de classe média, que imaginam maior possibilidade de emprego no serviço público.
Então o que significa saber votar?

Conhecimento e Participação

A pessoa alienada perde a compreensão do mundo em que vive e torna-se alheia a segmentos importantes da realidade em que se acha inserida. Alienar é transferir para outro o que é seu.
Se a Revolução Industrial promoveu a separação entre produtor e produto, determinando a alienação ante o trabalho, também fez nascer, durante o século XIX, um grupo intermediário numeroso, que chamamos de classe média, que veio acompanhado pelo aumento do individualismo, por maior interesse pela vida privada e, portanto, pela diminuição do envolvimento pessoal com as questões públicas e políticas. Isso acontece porque é em casa que a pessoa se sente como “ser humano”, é esse o espaço onde sua presença e suas decisões são importantes, ao contrário da situação vivida no trabalho, em que é apenas uma peça de uma engrenagem sobre a qual não tem controle ou poder de decisão. A alienação passa a ser percebida na vida social do indivíduo, com a formação da “sociedade de consumo”, expressão que carrega uma conotação negativa, pois esse consumo não depende mais da decisão consciente de cada indivíduo, baseada em suas necessidades e seus gostos, mas torna-se fruto de necessidades artificialmente estimuladas – fica claro que o papel dos meios de comunicação nisso é fundamental. Então a culpa é dos meios de comunicação?
Não é necessário encontrar um culpado, mas entender de que maneira ocorre o processo de alienação, querer buscar suas raízes e compreendê-lo significa deixar de ser alienado. Os meios de comunicação podem contribuir para esse processo de conscientização ou são apenas elementos alienadores?
Outra característica do consumismo é o fortalecimento do individualismo, que se manifesta, por exemplo, quando o valor de alguém lhe é dado pelos bens que possui, desprezando outros valores, como a ética ou seu comprometimento social. Percebemos essa situação com o aumento da discriminação às pessoas mais pobres, principalmente nos grandes centros urbanos, onde é comum ouvir reclamações “do carro velho que atrapalha” ou insinuações de que “o indivíduo malvestido pode ser um assaltante”. Ao mesmo tempo, líderes sociais são ridicularizados por que perdem seu tempo. Quando o tempo é ganho? De que forma o tempo é mais bem aproveitado? Ao dormir durante a tarde, o tempo é aproveitado? Ou é melhor ficar estudando? Talvez seja melhor utilizar o tempo para ganhar algum dinheiro? Poderíamos propor outras questões, mas a resposta é a mesma! O melhor é…
Que resposta caberia a todas essas perguntas?

Texto publicado no jornal HISTÓRIA EM MANCHETE

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