No tabuleiro da baiana teve….



Nos anos 70, os futurólogos afirmavam que, agora, estaríamos nos alimentando de pílulas provedoras de todos os nutrientes necessários. As previsões não se concretizaram por pouco. Vivemos hoje um período de “lanchonetização”: tédio e rapidez alimentar com receituário pasteurizado, em que a funcionalidade vale mais que o prazer.

No tabuleiro da baiana tem… Teve. Hoje, garrafinhas de leite-de-coco, latas de molho de tomate, carne concentrada e outros produtos são usados na versão enlatada de vatapás, abarás e acarajés.

A baiana usa, a gaúcha usa, a mineira usa, você também usa. A padronização se impõe com a promessa (cumprida) de economizar tempo e trabalho. A globalização das indústrias alimentícias é um fenômeno real, impiedoso e irreversível.

Um bom exemplo disso é a batata: 20% da produção nacional é destinada à elaboração de batatas prontas e pré-prontas, congeladas, com um calibre padronizado em 7 centímetros.

Mas quem cria esse mercado? Muito mais os supermercadistas do que o consumidor. “Chefs” concebem receitas que levam esses novos alimentos, até que o produto caia no gosto popular.

A ditadura dos supermercados atinge também o agricultor, exigindo que seus produtos tenham maior capacidade de conservação e aparência atraente, sem que a preocupação com o sabor seja relevante. Resultado? Pêras com forma de pêra, de cor linda e aspecto apetitoso, que podem ser estocadas por seis meses, mas aguadas e sem gosto.

Mas no frigir dos ovos é que se conhece a manteiga e esse processo de renovação alimentar foi positivo em muitos aspectos.

Hoje, temos maior produção por hectare, aves que engordam em menos tempo e aumento da variedade de vegetais e carnes in natura que antes não eram nem conhecidos no Brasil.

Outra boa notícia é que começam a ser desenvolvidas zonas de produção regionalizadas para vários alimentos, onde clima, solo e vocação criarão produtos superlativos daquela área.

Outra possibilidade animadora é que a legislação responsável pelas indústrias de produtos de origem animal seja abrandada, facilitando a criação de pequenas fábricas artesanais. Sem ufanismo, é possível ver com otimismo o futuro da alimentação. Não podemos nos esquecer que somos um país de influência africana, européia e asiática. E é graças à multiplicidade que conseguimos uma gastronomia própria, que começa a se impor e está nos conduzindo à uma nova maneira de comer.(HAMILTON MELLÃO JR.)

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