A Fundição Progresso, na Lapa, no Rio de Janeiro, foi palco para um evento que contou com mais de 2 mil artistas, chamado “Teatro pela democracia”. Atores e atrizes de várias gerações disseram que são contra a iniciativa de alguns partidos políticos de tentar derrubar o governo da presidente Dilma Rousseff. Também repudiaram as violações da lei e da Constituição cometidas pelo juiz Sérgio Moro.
Francisco Ramos
Mais de 2 mil artistas participaram do ato em defesa da democraciaMais de 2 mil artistas participaram do ato em defesa da democracia Os artistas manifestaram sua opinião em defesa da democracia e contra o que eles classificaram como “golpe ao governo eleito por 54 milhões de brasileiros”, usando as palavras do ator Gregório Duvivier.
Participaram do evento diretores de teatro e cinema, produtores culturais e atores de televisão, teatro e cinema. Entre eles, Renata Sorrah (a Nora, da novela A Regra do Jogo), Chico Diaz (Belmiro, de Velho Chico), Luisa Arraes (Laís, de Babilônia), Tereza Seiblitz (Dara, de Explode Coração), Armando Babaioff (Erico, de Sangue Bom), Igor Angelkorte (Clóvis, de Babilônia) e muitos outros.
O manifesto publicado no evento se posiciona em defesa da legalidade democrática, pelo Estado democrático de direito, contra o golpe jurídico-midiático e contra o impeachment.
Leia o manifesto na íntegra:
Teatro pela democracia
Pela legalidade democrática.
Pelo estado democrático de direito.
Contra o golpe jurídico-midiático.
Contra o impeachment.
Este ato surge da necessidade de grupos ligados ao trabalho em teatro de resistir ao golpe em curso e defender a democracia.
Ato aberto e apartidário para o qual conclamamos artistas de outras áreas, profissionais de outros campos e todos aqueles que, como nós, não permitirão que a ameaça ganhe mais terreno.
Vimos repudiar enfaticamente os acontecimentos que atentam contra o estado de direito e a legalidade democrática.
Vimos nos posicionar pela defesa dos direitos civis e das garantias individuais.
Vimos reconhecer a importância das recentes conquistas do povo brasileiro, entre elas a diminuição significativa da secular desigualdade social; a saída do Brasil do mapa da fome; o aumento do acesso das classes populares à educação fundamental, técnica e universitária; o desenvolvimento de políticas pela igualdade e diversidade racial, religiosa e de gênero.
Vimos exigir a continuidade do governo eleito e o avanço das políticas de distribuição de renda e demais pautas tão fundamentais quanto urgentes para uma maior justiça social e ainda carentes de atenção, entre elas a demarcação e defesa de terras indígenas, maior regulação do agronegócio, a defesa do Estado laico, a real reforma política, a democratização dos meios de comunicação, a descriminalização dos movimentos sociais, a aprovação da PEC 150-421 que garante o mínimo de 2% do orçamento federal para a Cultura.
Nós, artistas, que desempenhamos papel histórico fundamental na resistência à ditadura militar, não faltaremos com nossa contribuição em um momento como o que se apresenta. Não se trata de partidarismo. O fazer político não pressupõe filiações institucionais. Tomaremos partido!
Experimentados em dramaturgia que somos, nos afronta a farsa mal armada, o subtexto medíocre, a direção mal intencionada.
Um golpe está sendo montado, podemos ver, mesmo que os refletores apontem para o outro lado e as armas sejam outras.
Não permitiremos que caia o pano da jovem democracia brasileira. Nosso fazer não diz respeito à arte somente, mas a todos aqueles que vivem e têm voz. A todos os que acreditam na importância de ter suas palavras ouvidas e livres, ou virão a delas se servir.
Um palco incendiado põe em risco todos os atores e narrativas. Não admitiremos a reencenação de um triste e – julgávamos – superado período histórico.
No teatro, os que realmente veem e ouvem não permanecem calados por muito tempo. Vemos suas vozes se erguendo em cada vez mais alto e bom som.
Não vai ter golpe. Nunca mais.
Ao final do evento, alguns artistas deram declarações ao Brasil de Fato:
Atriz Elisa Lucinda. “Temos que virar a mesa. Usar os nossos palcos, nossas palavras e ajudar a educar o Brasil. Muitos brasileiros estão equivocados. Não têm nem projeto, querem impeachment, mas não sabem o que vai acontecer depois. Temos que falar e tocar cada um, as pessoas com quem convivemos e educar a população. Não podemos perder tudo o que a gente conquistou.”
Atriz Luiza Arraes. “O ator é um comunicador. Em um momento importante como esse que o país vive, é importante a gente se unir e não permitir que essa mídia massiva controle de maneira assombrosa a opinião pública da população brasileira. Nosso papel é esse. Temos que fazer as pessoas lembrarem nossa história para que a gente possa avançar, não retroceder.”
Ator Gregório Duvivier. “Em São Paulo, outro dia, uma senhora, advogada, me abordou na rua e disse: ‘Como você ainda consegue defendê-los [o PT]?’ Por acaso eu tinha tempo livre e fiquei duas horas conversando com ela. E uma das coisas que ela disse foi: ‘O que o PT fez por esse país?’. Perguntei: ‘você acha pouco tirar 40 milhões da pobreza?’. E ela: ‘sim, mas a que custo?’. Não é uma questão de custo. Tem que ser muito insensível para não se comover com a diminuição da pobreza e a erradicação da fome”.
Ator Igor Angelkorte. “O papel do ator é o de qualquer cidadão. Temos que estar informados, absolutamente envolvidos com a política, que está em momento de crise. A gente precisa se unir, saber dialogar com as diferenças. Essa reunião hoje é fundamental, porque ela é apartidária e dá espaço para muitas vozes, de diferentes opiniões. O momento que estamos passando é terrível, mas acredito que depois dessa tempestade vamos ter um país mais civilizado”.
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