Tarsila do Amaral (1886 – 1973) é uma das principais pintoras da arte brasileira moderna. Sua enorme importância parte principalmente de sua habilidade em concretizar os ideais modernistas unindo, à brasilidade de suas obras, influências daquilo que estava sendo produzido de mais atual na Europa em sua época. Nasceu em Capivari, interior de São Paulo e somente começou a se interessar pelas artes plásticas em 1916, perto dos trinta anos. Estudou com escultores e pintores que estavam no país e acabou mudando-se para a Europa em 1920, cursando a Academia Julians e o ateliê do retratista de moda Émile Renard, que parece ter orientado Tarsila em direção às vanguardas. Entretanto, as pinturas de Tarsila, expostas no Salão dos Artistas Franceses em 1922, ainda não revelavam a profunda importância que caberia à artista para a construção do Modernismo brasileiro. A volta de Tarsila do Amaral ainda em 1922 parece ter sido mais significativa para orientá-la em direção às vanguardas do que os anos passados em Paris. Liga-se então ao Grupo Klaxon (Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Sérgio Buarque de Holanda, etc). Posteriormente, Tarsila, Anita Malfatti, Mário e Oswald de Andrade e Menotti del Picchia formariam o Grupo dos Cinco. A partir dessas experiências, decide retornar a Paris em 1923 com o firme propósito de dedicar-se seriamente à pintura modernista. Nesse mesmo ano já na tela “A Negra” podem ser notados os primeiros indícios do trabalho que a pintora iria posteriormente desenvolver. Em Paris, Tarsila absorve principalmente o Cubismo, estudando com artistas como Fernand Léger e Albert Gleizes, (após uma primeira fase com o bom professor André Lhote, que libertou-a do Impressionismo que marcava algumas de suas obras, como “Paquita, a Espanhola”, de 1923). Picasso, De Chirico, Breton e Stravinsky eram alguns dos artistas que entraram em contato na cidade francesa. De volta ao Brasil, uma viagem realizada em 1924 às cidades históricas mineiras (cabe acentuar a importância dessas cidades e do barroco para nossos modernistas) atua como catalisadora da fase da obra da artista conhecida como “pau- brasil”. Nela reúne ingredientes brasileiros, como tipos e costumes “caipiras”, paisagens e aspectos da cidade grande tratados através de construções cubistas. São exemplos dessa fase “A Gare”, de 1925, “São Paulo”, de 1924, “O Vendedor de Frutas”, de 1925 e “Religião Brasileira”, de 1927. Em 1926 Tarsila do Amaral se casaria com Oswald de Andrade. Dois anos depois começaria sua fase mais importante: a antropofágica. Tarsila chegou a dizer que realizou “Abaporu”, o marco inicial dessa fase, pensando em impressionar Oswald de Andrade. O espanto do artista com a enorme e deformada figura em tons terrosos do quadro, tendo atrás de si um cacto e o sol, inspirou-lhe na criação do Movimento Antropofagia, juntamente com Raul Bopp. Nessa mesma linha de Abaporu, seguem-se, pintados entre 1928 e 1929, “Urutu”, “Antropofagia”, “Sol Poente” e “Cartão Postal”. Em 1931 a artista vai para Europa e expõe no Museu de Arte Moderna Ocidental de Moscou. Essa viagem exerceu grande influência sobre Tarsila que, ao retornar, começa sua fase social, inspirada nas pinturas socialistas com essa temática. “Operários”, com seus vários rostos tendo ao fundo uma fábrica é um ótimo exemplo desse período. Em 1932 torna-se uma das fundadoras da Sociedade Pró-Arte Moderna SPAM. A partir daí retornaria a temas anteriores, como os da fase pau-brasil, a antropofagia (“Primavera”, de 1946), repetindo-se. Um maior lirismo foi acrescido à essas fases. Acredita-se que do pós-guerra até sua morte, em 1973, seus trabalhos não apresentaram tanta criatividade como os do começo de carreira, entretanto, Tarsila do Amaral pode ser considerada uma das principais pintoras brasileiras.
Autoria: Paulo Roberto de Souza