O Brasil passava por profundas modificações sociais, políticas e econômicas no início do século. Entretanto, no terreno artístico não caminhava com a mesma velocidade. Ainda eram admirados os pintores ligados ao século passado e o parnasianismo de Olavo Bilac e Coelho Neto, indiferentes às rupturas que a Europa e os Estados Unidos por essa época imprimiam à arte. Por outro lado, havia um grande número de jovens artistas em contato com as mudanças que a arte estrangeira sofria e paralelamente, influenciados pelo nacionalismo, já presente na nossa arte desde o final do século anterior (com os temas mais associados ao Romantismo). A primeira mostra de arte não acadêmica realizada no Brasil foi feita por um estrangeiro, Lasar Segall, em 1913, nas cidades de São Paulo e Campinas. Entretanto, apesar do pioneirismo de Segall, suas exposições não causaram grande repercussão, provavelmente por ter sido muito prematura para a arte brasileira. A exposição de Anita Malfatti parece ter sido o estopim para a reunião desses artistas ansiosos por mudanças. Posteriormente, o encontro de alguns dos principais futuros líderes Modernistas com a arte de Brecheret, recém voltado da Europa, também teve grande importância no surgimento da chama Modernista. Em 1922, possivelmente através de uma sugestão de Di Cavalcanti, a Semana de Arte Moderna seria realizada, marco do Modernismo brasileiro. Reunindo diversas atividades como leituras de poemas, espetáculos de dança e exposição de artes plásticas o evento iria sacudir São Paulo dos anos 20. Buscava que a arte brasileira estivesse tão atualizada quanto a internacional, nada devendo àquela em qualidade e, ao mesmo tempo, conservasse as características nacionais. Mesmo não tendo a repercussão que posteriormente foi atribuída a ela, o evento foi bastante significativo por reunir artistas talentosos ansiosos por renovações. Logo após sua realização, importantes artistas que dela participaram partiam para a Europa, enquanto outros nomes fundamentais dessa fase de nosso modernismo chegavam do continente. É o caso de Lasar Segall, que vinha fixar-se no Brasil, trazendo grandes contribuições e de Tarsila do Amaral, uma das pioneiras em concretizar os ideais da Semana de Arte Moderna, aliando a brasilidade a elementos das vanguardas européias. A partir de 1924, começam a surgir as divisões do Movimento Modernista, principalmente a partir do pau- brasil (Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, entre alguns membros) e do verde- amarelo (Menotti del Picchia e Plínio Salgado, como alguns dos representantes). A valorização do caráter nacional era importante para as duas correntes, entretanto o pau-brasil não abria mão da atualização da arte brasileira, tomando como parâmetro as produções internacionais, enquanto o verde-amarelo era mais apegado às tradições e cauteloso em relação aos movimentos vanguardistas estrangeiros. Divergências políticas, ideológicas e sociais profundas acabariam por afastar cada vez mais essas duas correntes do modernismo brasileiro. A Antropofagia, inspirada no quadro Abaporu de Tarsila do Amaral e liderada por Oswald de Andrade e Raul Bopp – com seus objetivos de rompimento com a arte e a história anteriores ao movimento e seu objetivo de “devorar” as culturas estrangeiras, assimilando delas o que fosse considerado importante pelo grupo brasileiro – e o Grupo da Anta – reafirmando a cultura brasileira, afastando-se das influências estrangeiras e posteriormente desdobrando-se no Integralismo – acabariam por polarizar ainda mais a discussão modernista brasileira. À década de 30 coube sedimentar e oficializar as conquistas modernistas. Movimentos artísticos europeus, principalmente o Expressionismo e o Cubismo inspiravam então artistas como Cândido Portinari, Guignard e Bruno Giorgi. Dois outros importantes nomes dessa fase modernista como Ismael Nery e Cícero Dias (Cícero principalmente em suas primeiras obras) eram mais pautados pelo Surrealismo. O poder público passa a apoiar o Modernismo e se São Paulo tinha sido o principal foco difusor dos primeiros tempos do Modernismo, agora caberia ao Rio de Janeiro esse papel. A passagem de Le Corbusier e Frank Lloyd Wright pelo Brasil (1929 e 1931) chama a atenção dos artistas para as possibilidades da integração das artes, renovando a arquitetura brasileira, nela incluindo a nova pintura, escultura, paisagismo e decoração. A temática social passaria ser grande fonte de inspiração para a geração Modernista dessa década e a técnica, que tinha assumido uma posição secundária durante os anos 20, volta a ser valorizada. Surgiam importantes focos como o Núcleo Bernardelli (1931 – 1940) no Rio de Janeiro, preocupado em democratizar o ensino de artes plásticas e apontando para um Modernismo moderado. Em São Paulo surgiria a Sociedade Pró- Arte Moderna (SPAM), em 1932, reunindo artistas e promovendo uma série de atividades divulgando seus trabalhos. Ainda em São Paulo surgiria o Clube dos Artistas Modernos (CAM), dissidência da SPAM, bastante ativo e irreverente, próximo ao espírito das primeiras épocas modernistas. Em 1934 dissolve-se a SPAM e o CAM e após um período relativamente morno de três anos surgem dois diferentes grupos: O Salão de Maio e a Família Artística Paulista. A Família Artística Paulista, que vinha de reuniões no atelier do Santa Helena, marca uma grande diferenciação no Modernismo brasileiro: ao invés dos intelectuais que lideravam suas primeiras manifestações, esse grupo reunia artistas de origem proletária, que costumavam exercer profissões artesanais e com forte tradição italiana (devido à imigração intensa em São Paulo no período), cultivando temas mais intimistas e cotidianos. Enquanto o Salão de Maio buscava ainda a sincronia com movimentos artísticos estrangeiros contemporâneos e desprezava a valorização técnica da Família Artística Paulista, este último procurava repensar o modernismo desde 1922, separando os legados benéficos daquilo considerado radical. Encerra suas atividades em 1940. O Modernismo até então, salvo alguns esforços de artistas isolados, permanecia restrito ao eixo Rio-São Paulo. Em 1944, uma exposição modernista em Minas Gerais, patrocinada pela prefeitura da capital do estado na gestão de Juscelino Kubitschek, marcaria o início do Modernismo nesse estado. Minas então passaria a ser extremamente importante para o movimento no período, produzindo grandes artistas. 1944 também marca o início do Modernismo baiano, seguido pelo Paraná e Recife (este último em 1948). O Ceará já desde 1941 abrigava manifestações Modernistas. Entretanto, é importante lembrar que o Modernismo brasileiro surgiu com a intenção de ser um movimento de vanguarda, numa época em que na Europa estava havendo um refluxo e uma tendência contrária, a de volta à ordem. Enquanto a Europa procurava romper com o peso da arte passada e o abstracionismo era extremamente valorizado, no Brasil o Modernismo assumia mais a função de promover uma atualização da arte brasileira capaz de ajudar na consolidação da identidade nacional e não abria mão do figurativismo. As vanguardas européias tinham caráter universal , enquanto o Modernismo brasileiro buscava expressar as particularidades nacionais, assimilando para isso aquilo que lhe interessava nas propostas de arte Moderna que chegavam do velho continente. A partir principalmente de meados da década de 40 e o pós-guerra uma arte não-figurativa começa a ser praticada e valorizada por artistas brasileiros. Principalmente na década de 50 o abstracionismo surge como forte expressão modernista. Inspirados no neoplasticismo, construtivismo, na Bauhaus e no artista americano Max Bill começam as primeiras manifestações do Movimento Concreto em São Paulo e no Rio de Janeiro. O abstracionismo calculado matematicamente, o anti-romantismo, a integração das artes e o racionalismo eram valorizados pelos concretistas. Em São Paulo surge o grupo Ruptura, liderado por Waldemar Cordeiro, mais ortodoxos e contrário à subjetividade. No Rio de Janeiro, em torno de Ivan Serpa, surge o Grupo Frente, menos homogêneo que o paulista e mais baseado na liberdade de criação. A I Exposição Nacional de Arte Concreta intensifica as divergências entre os grupos das duas cidades. Surge então o neo-concretismo, originado principalmente a partir do grupo carioca, contrário à rigidez concretista dos paulistas e mais preocupado com a expressão. A experimentação passa a ser de extremo valor para os neo-concretos. Destacam-se os neo-concretos Lygia Clark e Hélio Oiticica como artistas de grande contribuição para a discussão do papel da arte e do artista, permanecendo como importantes figuras de vanguarda nacional, mesmo após a dissolução do movimento. Um abstracionismo mais lírico também marcou presença na década de 50, bem como a influência do expressionismo abstrato norte-americano. Manabu Mabe foi um dos artistas nipo-brasileiros mais receptivos à essas tendências. Os anos 60 marcam o fim do Modernismo Brasileiro, sendo extremamente diversificada a produção artística no país nas décadas seguintes.
Autoria: Inaldo Antônio Prati