Já ouviu falar da banda de jazz gaúcha Delicatessen? Pois é, o disco deles têm sido bastante procurado na Europa. E o selo goiano Monstro Discos, sabe do que se trata? Além de serem populares entre os fãs brasileiros de rock indie, eles emplacaram vários artistas no Japão.
Por trás de singelas proezas como essas está a Tratore, principal distribuidora independente do país, que tem espalhado CDs e DVDs de pequenos “labels” no Brasil e no exterior.
Em cena desde 2002, a empresa foi criada pelo multiinstrumentista Maurício Bussab, 42, da banda Bojo, e por Silvio Pellacani, 32. Na estréia, a Tratore tinha um catálogo com 20 produtos. Hoje, tem 667. Entre eles, há 121 selos e 99 artistas sem gravadora. No momento, seus discos chegam a 590 lojas brasileiras e são vendidos em 120 sites no mundo todo.
Esses números são modestos se comparados aos de um grande atacadista, como A Universal Fonográfica -não confundir com a “major”-, cujo braço de distribuição de independentes, a Unimar, contabiliza 35 mil produtos por mês. Mas, se atualmente é possível encontrar o CD da banda paulistana Jumbo Elektro nas lojas Fnac ou no site Submarino, isso ocorre graças à Tratore -e também a sua principal concorrente, a Distribuidora Independente (leia texto à esq.).
Diretrizes
A idéia de criar a Tratore, diz Pellacani, surgiu com a expansão dos indies. “O mercado independente estava crescendo, mas os selos não tinham força de venda. Então, resolvemos adaptar o modelo de empresas americanas e inglesas.”
Para ganhar espaço num mercado dominado por “majors”, eles se apoiaram em algumas diretrizes, como a de não se restringir a um único estilo musical, não depender de um “grande hit” e nunca ser uma gravadora. “Para não competir com o selo, que é um parceiro”, fala.
Eles também estudaram o modelo adotado pelas grandes gravadoras para, segundo Pellacani, fazer exatamente o contrário. “Trabalhamos com as lojas especializadas de discos, que foram esmagadas pelos atacadistas. Não estamos interessados em supermercados. Nosso público não está lá.”
Para conquistar esses clientes, além de literalmente bater de porta em porta, eles inventaram diversas facilidades. “Mandamos os produtos por Sedex sem cobrar frete e não é preciso fazer um pedido mínimo. O cara compra o que ele quer”, afirma Pellacani.
Depois de ganhar a simpatia dos lojistas, eles passaram a cortejar “especializadas” como a Fnac, onde, além de ações de marketing nas gôndolas, estão à venda CDs compilados pela Tratore com faixas de artistas distribuídos por eles.
O alvo seguinte foram as exportações, que representam 10% do faturamento. Tudo isso foi feito com investimento próprio -cujo valor eles não revelam – e uma expectativa de ter lucro somente a partir de 2004. O que deu certo: naquele ano, a Tratore cresceu 39% e, de 2005 para 2006, 31%.
Fim do CD
Com a crise da indústria fonográfica e a morte anunciada do CD não seria mais sensato apostar em uma distribuidora on-line? Para a Tratore, ainda não. Eles até mantém um site com todo o catálogo (www.tratore.com.br), onde é possível ouvir músicas, mas não baixar ou comprar. “Não acredito no fim do CD. Acho que ele será o que o vinil é hoje”, aposta o empresário.
Mas, como o seguro morreu de velho, eles se garantem também como “agregadores”, fazendo, por exemplo, licenciamentos no exterior de artistas como Elza Soares e Sepultura. Para a dupla, sobram idéias…