A Copa do Mundo começa hoje, mas a Copa da Cultura já começou há tempos e vem lotando todas as atrações programadas. Para comemorar a abertura oficial dos jogos, será inaugurada hoje a exposição PeléStation, na Potsdamer Platz. A maior exposição já feita sobre o Rei do Futebol vai ocupar toda a área da estação de trem construída no coração de Berlim, exatamente onde ficava o muro.
Amanhã, começa a mostra Tropicália – Uma Revolução na Cultura Brasileira, que vai levar à Casa das Culturas do Mundo o que de melhor o movimento musical produziu não só em música mas em artes plásticas e visuais e recebe obras de artistas como Hélio Oiticica e Lygia Clark. A exposição, que esteve em cartaz em Londres, no Barbican Center, iniciou as comemorações dos 40 anos da Tropicália, data que se completa só em 2007. Também amanhã, um show com o Instituto e Nação Zumbi agita a Casa das Culturas do Mundo.
Na segunda, o parque Tiergarten, em Munique, vai ser palco de um show gratuito para cerca de 12 mil pessoas reunindo Gilberto Gil, Margareth Menezes, AfroReggae e Sandra de Sá. “Vai ser um grande espetáculo. E será um show só de artistas negros. Não planejamos assim, mas fico feliz que a música negra seja tão bem representada neste espetáculo”, comenta Sérgio Sá Leitão, coordenador do programa no MinC.
Leitão também adianta que do orçamento previsto de R$ 30 milhões (cuja metade seria bancada pelo Brasil e metade pela Alemanha) pode ser superado. “A Alemanha já teve ter superado esta quantia. Depois, no fim das atividades, o que só deve ocorrer no início de 2007, vamos precisar rever esta conta”, comenta Sá Leitão, que explica que dos R$ 15 milhões bancados pelo Brasil, R$ 11,5 milhões são investidos pelo Ministério da Cultura. “O retorno disso é muito maior. Isso porque nossa principal intenção com a Copa da Cultura não é só divulgar a cultura do Brasil no exterior, mas incentivar contratos de artistas brasileiros em outros países, literalmente gerar emprego e receita com o que de melhor produzimos em cinema, música, artes plásticas e outras áreas”, conta ele, que já adianta que, nos mesmos moldes do Projeto Setorial de Exportação que já existe nas áreas de música, TV independente e cinema, será criado o Projeto Setorial de Exportação de Artes Visuais. “Isso já vai se tornar realidade em agosto. Ainda estamos na periferia do circuito de artes plásticas e visuais, mas há muita demanda e só falta estratégia e articulação para mudar isso.”
O formato da Copa da Cultura já rende convites para eventos futuros. “Além de artistas brasileiros, como o BNegão, que foi convidado para se apresentar na Popkomm (uma das maiores feiras da indústria fonográfica da Europa, que ocorre na Alemanha), nós recebemos propostas da Espanha e do Japão para realizar nesses países as próximas Copas da Cultura”, comenta Sá Leitão.
Enquanto os eventos futuros não chegam, os fãs de futebol e cultura brasileira ainda podem aproveitar a programação diária na Casa das Culturas do Mundo. No dia 15, será aberta a Mostra de Cinema, com a exibição de 2 Filhos de Francisco, de Breno Silveira. “Destaco também a estréia de Cinema, Aspirinas e Urubus na Alemanha, no dia 18. O personagem principal do filme do Marcelo Gomes, que estará em Berlim e vai participar de um bate-papo depois da exibição, é um alemão que foge da Segunda Guerra para o Brasil. Tem tudo a ver com o evento.”
Paralelamente, A Imagem do Som, exposição de artes plásticas que já homenageou diversos músicos e estilos musicais brasileiros, chega à Alemanha em 15 de junho. Com curadoria de Felipe Taborda, 30 artistas, entre eles o designer Gringo Cardia, a carnavalesca Rosa Magalhães, o músico Arnaldo Antunes, o grafiteiro e ilustrador Speto e o artista plástico Alex Flemming, produziram uma obras, como vídeos, fotos, telas e instalações, inspiradas em músicas sobre o futebol. O responsável pela pesquisa musical é o jornalista Antonio Carlos Miguel, que selecionou canções como Tempo de Don-Don de Nei Lopes, o clássico A Taça do Mundo É Nossa de Wagner Maugeri, Maugeri Sobrinho, Vitor Dagô e Lauro Muller, Ponta de Lança Africano (Umbabaraúma) de Jorge Benjor e É Uma Partida de Futebol de Samuel Rosa e Nando Reis, gravada pelo Skank.
Além disso, A Falecida, de Nelson Rodrigues, fez tanto sucesso durante as quatro leituras dramáticas realizadas durante a Semana Nelson Rodrigues, no Teatro Volksbühne, que a peça vai ser montada na Alemanha. “É exatamente isso que gostaríamos que acontecesse. Estamos indo no caminho certo”, comenta o coordenador, que reconhece que a organização do evento demonstrou melhoras significativas em relação ao Ano do Brasil na França. “Tivemos percalços. É natural. Evoluímos muito desde o ano passado.”
Por fim, destaque vai para a exposição na Haus der Kunst, em Munique, onde o Brasil ocupará um andar inteiro com obras de vários artistas. “O mais interessante é que haverá uma instalação de um grupo de garotos de uma favela do Rio, a Pereirão. Eles produzem maquetes com plástico, potes, materiais que eram lixo. Demorou, mas os curadores da Haus der Kunst enxergaram que eles fazem arte. E os colocam no mesmo nível de grandes artistas como Brennand, por exemplo”, completa Sá Leitão.