Terceiro filme dirigido pelo ator Carlos Alberto Riccelli, é estrelado mais uma vez por sua mulher Bruna Lombardi – que repete a função de roteirista, como nos anteriores, “Stress, Orgasms and Salvation” (2005) e “O Signo da Cidade” (2007).
Trata-se de uma comédia em busca de um equilíbrio difícil, entre o humor e o escracho. Finalmente, sucumbe ao último.
Com um visual de colorido forte que remete ao começo da carreira do diretor Pedro Almodóvar, esta coprodução entre Brasil e Espanha tem atores espanhóis no elenco – como María Pujalde, que na pele de Aura, maquiadora e conselheira da protagonista, obteve o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival de Paulínia, em que “Onde Está a Felicidade?” venceu também o prêmio de melhor filme para o júri popular.
Interpretando Teodora, uma chef de cozinha que comanda um programa televisivo, Bruna Lombardi procura reinventar-se, entrando num território que lhe é estranho, a comédia. É de se louvar sua atitude, nesta procura de renovação, e sua coragem de se expor, já que a comédia é, por si, um gênero de muitos riscos.
Mas o exagero e a grossura terminam por contaminar a produção, com toques de machismo cafajeste que seriam de criticar no roteiro de qualquer homem, que se dirá de uma mulher.
Em linhas gerais, esta é a trama – Teodora entra em crise com o marido, Nando (Bruno Garcia), um comentarista de futebol, porque descobre que ele tem um relacionamento erótico virtual. Aconselhada pela maquiadora, decide viajar para fazer a peregrinação de Santiago de Compostela, na Espanha, ainda mais depois que seu programa de TV foi cancelado.
Acompanhada pelo ex-diretor do programa, seu amigo Zeca (Marcello Airoldi, da série “Divã”), e da espanhola Milena (Marta Larralde), Teodora chega à trilha. Menos aparelhada para o despojamento da missão, impossível.
Teodora dispõe-se a caminhar longas distâncias de salto alto, carregando uma mala enorme, cheia de roupas e objetos inúteis para a jornada, que logo é interrompida por diversos incidentes.
Numa parada num hotel, Zeca vive uma cena constrangedora num banheiro, num mal-entendido de natureza sexual com outro homem. Depois disso, ele e Milena vão se interessar cada vez mais um pelo outro, apimentando o percurso, em princípio, de natureza espiritual.
Enquanto isso, o figurino e o cabelão de Bruna vão desmontando, na mesma medida em que ela hesita sobre seus sentimentos em relação ao marido – que, por sua vez, vai ter que se livrar do assédio de uma fã menor de idade, Clarinha (Hanna Rosenbaum), que será a causa de outro mal entendido com a mulher.
Tudo bem lidar com a malícia e fazer pouco do politicamente correto, até porque, em comédia, não há nada sagrado. O problema é o tom. Aqui, resulta grosseiro, pesado. Em vários momentos, quase tosco.
É gritante, também, o artificialismo de certas sequências, como a final, que imagina uma homenagem a um velho casal no cenário improvável do Parque Nacional da Serra da Capivara (PI) – um santuário de pinturas rupestres de acesso compreensivelmente restrito. Ficou forçado, como tudo o mais.
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