A UNE E A CULTURA

 

 

Daremos início esta semana a uma série de matérias, entrevistas e reportagens sobre o trabalho cultural da União Nacional dos Estudantes durante os últimos anos, tendo como objetivo analisar seu andamento e prestar contas aos estudantes e à sociedade brasileira dada a dimensão que o mesmo obteve durante o último período.

Nosso trabalho é resultado de uma trajetória que assistiu a encontros e desencontros da universidade e do movimento estudantil com a produção cultural brasileira.

A história da UNE começou em 1937. Em todo este tempo, a entidade participou e impulsionou os principais acontecimentos políticos da história do país. Foi precursora também de importantes movimentos culturais, sendo o Centro Popular de Cultura (CPC) o mais famoso deles que, nos anos 60 (o projeto foi encerrado com o Golpe Militar de 1964), animou a cena cultural brasileira com novas e ousadas experiências. O CPC não foi a primeira tentativa da entidade na área cultural, mas foi a experiência mais vitoriosa e que se tornou um marco da cultura brasileira, unindo artistas, intelectuais e a UNE.

Novos tempos
De lá para cá, as questões políticas que envolveram as entidades estudantis – a repressão, a clandestinidade e a reorganização – determinaram um período de volubilidade das atividades culturais ligadas ao movimento estudantil.

A situação começa a tomar novos rumos no final da década de 1990. Mas a história do CUCA só começa em 1999, em Salvador, com a 1ª Bienal de Cultura e Arte da UNE – evento que marcou a retomada dos projetos de cultura ligados ao movimento estudantil brasileiro.

1ª e 2ª Bienal
A primeira Bienal da UNE foi organizada inteiramente pelos próprios diretores da entidade e por ativistas do movimento estudantil local. A 1ª Bienal abriu novamente as portas da entidade para a discussão mais sistemática de temas culturais e possibilitou a aproximação de estudantes das áreas de artes para a realização da 2ª Bienal.

Durante a organização da 2ª Bienal da UNE, que aconteceu em janeiro de 2001, no Rio de Janeiro, teve início a discussão sobre uma forma de dar continuidade à produção cultural e artística nas universidades. Nesta edição, foram realizados debates, oficinas e mostras universitárias que envolveram mais de 8 mil pessoas. A novidade foi à participação de um grande número de personalidades da vida cultural brasileira, espaço para programação não-oficial (Lado B) e visita às comunidades dos morros do Rio de Janeiro (Lado C). Mas o fato que marcou esta Bienal foi o amadurecimento do trabalho cultural da UNE, que se expressou no lançamento dos Centros Universitários de Cultura e Arte. O CUCA-UNE seria o elo de continuidade do trabalho entre as bienais, acumulando debates sobre a área de cultura, realizando eventos e intervenções. Após a Bienal, um primeiro núcleo do Cuca foi constituído.

Até chegar à 3ª Bienal, várias ações e intervenções foram realizadas pelo CUCA. Foi fundado em São Paulo o primeiro núcleo do Cuca, que por sua vez fez surgir os Seminários do CUCA como fóruns importantes para o projeto. Além disso, o núcleo criou o jornal Encucado e promoveu a primeira aproximação com grupos artísticos. Etapas preparatórias foram realizadas em diversos estados, valendo destacar a 2ª Bienal da UEE-SP e a etapa mineira, realizada pela UNE e UEE-MG (União Estadual dos Estudantes), em conjunto com o Festival Coração de Estudante de Musica Universitária.

3ª Bienal
Em fevereiro de 2003, ocorreu a 3ª Bienal de Cultura e Arte da UNE, em Pernambuco, com a participação de aproximadamente 10 mil estudantes de todo o país. Pela primeira vez a Bienal passou a concentrar seus debates em torno de um tema específico, que naquele ano foi “Um encontro com a cultura popular”. A 3ª Bienal reafirmou-se como um projeto de referência para a expressão artística e cultural da juventude brasileira. Em Olinda e Recife, durante sete dias, ocorreram diversos debates, mostras, oficinas e shows com participações ilustres como a do ministro da Cultura Gilberto Gil e do escritor Ariano Suassuna.

A 3ª Bienal definiu, ainda, as linhas gerais de atuação da política cultural da UNE, voltando os esforços dos CUCAs para o fortalecimento da cultura popular e da identidade cultural brasileira.

4ª Bienal
Entre os dias 25 de fevereiro a 02 de março, São Paulo foi palco de um grande encontro com nossa América. A Bienal promoveu na sua 4ª edição sob o tema Soy Loco por Ti, a celebração e a união de artistas e estudantes de toda América Latina.

Além de fazer circular os bens culturais produzidos nas universidades, o principal propósito da Bienal foi promover uma ampla reflexão sobre as possibilidades de integração da América Latina, a partir do diálogo entre a cultura de seus povos.

Pontos de Cultura
Em 2004, o MinC selecionou, por meio de editais públicos, 262 projetos apresentados por entidades da sociedade civil. A UNE obteve aprovação de oito pontos dos CUCAs: Recife, Campina Grande, Salvador, Vitória, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Os cinco primeiros foram inaugurados e passaram a receber o apoio do projeto “Pontos de Cultura”, programa do Ministério da Cultura que tem objetivo de criar uma rede de projetos e políticas culturais levadas adiante pela sociedade civil.

O Ministério da Cultura viabiliza, durante dois anos, os recursos, o acompanhamento, o treinamento dos monitores, a articulação institucional e criação da rede – aspecto vital do programa. A UNE, por sua vez, entra com os locais (os CUCAs), a gestão e o compromisso de responsabilidade. Os recursos recebidos inicialmente estão sendo investidos em oficinas, equipamentos de palco (sonorização, iluminação etc), divulgação/comunicação e na estrutura física de cada CUCA. A expectativa é que, ao fim dos dois anos, cada Ponto de Cultura/CUCA conquiste a sua própria sustentabilidade.

Além da verba, os Cucas ganham kits de cultura digital, com equipamentos de informática multimídia conectados à Internet. O objetivo é articular uma rede virtual, fazendo a integração dos Pontos e viabilizando a troca de experiência. Outras informações sobre o projeto no site: www.cultura.gov.br

Caravana Cultural
Para dar corpo à iniciativa do Circuito, a UNE percorreu 15 cidades brasileiras, entre os meses de outubro e novembro de 2004, com a Caravana Universitária de Cultura e Arte. A Caravana cumpriu o objetivo de potencializar o projeto, preparando a articulação e criação de novos Cucas/Pontos de Cultura em todo o país. Confira os detalhes da viagem no endereço www.une.org.br/cuca

CUCA / Pontos de Cultura
Desde o dia 16 de junho a UNE lançou, em parceria com o MinC, cinco Pontos de Cultura que integram o projeto do Circuito Universitário de Cultura e Arte, o CUCA. Os lançamentos aconteceram nas cidades de Recife/PE, Campina Grande/PB, Salvador/BA, Vitória/ES, Porto Alegre/RS. Para os atos públicos de inauguração, a UNE organizou uma programação que incluiu debates, sessões de vídeo, mostras, exposições, shows e apresentações teatrais.

O lançamento dos primeiros CUCAs/Pontos de Cultura marca um momento emblemático na retomada do trabalho cultural da entidade, revivendo um pouco do que foi o Centro de Cultura Popular (CPC) da UNE na década de 60. Demos um passo decisivo de um processo que vem sendo construído há alguns anos e que agora ganha novamente destaque com a materialização do Circuito Universitário de Cultura e Arte.

por Tiago Alves, diretor de cultura da UNE

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