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Desde agosto, 75 adolescentes de cinco escolas públicas cariocas aprendem música com o maestro Leandro Braga (de Ney Matogrosso e Miúcha, entre outros). A cada 15 dias, os outros alun os têm oficinas com feras do nosso show biz, como o sambista Wilson Moreira, o saxofonista Carlos Malta, o percussionista Robertinho Silva, a jongueira Luciane Menezes e o violonista Rodrigo Lessa. Em apenas um mês e meio, já se notam os resultados, no desempenho dos garotos na escola e a melhora das relações com professores e inspetores.

Esta é a conclusão da diretora da Escola Municipal Gonçalves Dias, Marly Mendes Ribeiro, selecionada pela Secretaria de Educação para receber o projeto TIM nas Escolas, que está em seu terceiro ano, em São Paulo, e atende, a 10 mil crianças em cinco cidades (além de Rio e São Paulo, Porto Alegre, Recife e Belém). “Eles estão mais calmos e isso reflete no desempenho em sala de aula”, comenta Marly, que tem sob seu comando 1.180 alunos em três turnos.

A escola Gonçalves Dias é tida como a mais antiga do País, pois foi inaugurada em 1870 por dom Pedro II. Fica em São Cristóvão, antigo bairro imperial, hoje decadente, pobre e árido, como o Caju (na zona portuária) e as favelas da Mangueira e Parque Alegria, de onde vêm seus alunos. As outras escolas ficam na Tijuca, Bangu, Realengo e Magalhães Bastos, áreas com problemas semelhantes.

“Escolhemos essas regiões porque o projeto é artístico e social “, diz a coordenadora pedagógica, Rita Kerder. “A previsão é que dure quatro anos. No primeiro, a música chega à escola, no segundo a escola faz música, no terceiro leva a música para a comunidade e no quarto torna-se auto-suficiente e os 15 alunos selecionados viram monitores do projeto. Os instrumentos são doados às escolas que podem ou não repassá-los aos alunos.”

O maestro Leandro Braga tem experiência didática. Dá aulas aulas particulares e coordena, há cinco anos, o projeto Tocando o Bonde – Usina de Gente, que forma músicos profissionais. “Gosto de ensinar esses meninos porque eles são interessados, muito musicais e querem aprender todos os gêneros”, elogia. “Partimos do universo deles, que é o funk, o pagode e outros gêneros que tocam no rádio, e chegamos à música que queremos fazer. Como é uma área com duas grandes escolas de samba, estamos criando um grupo de percussão. E temos também aulas de rap e funk, que é o que eles gostam também.”

A seleção começou no primeiro semestre. Leandro testou quase 200 alunos da Gonçalves Dias e escolheu os 15 que serão os Embaixadores da Paz. Eles têm aulas de percussão, flauta doce e vibrafone e preparam o primeiro concerto para a festa de fim de ano da escola. Na terça-feira, tocaram Asa Branca com a monitora Rafaela Lopes, aluna de harpa da Escola da Música da Universidade Federal do Rio de janeiro (UFRJ), e ensaiaram um tema de Leandro Braga. “No fim do ano, devem tocar Saudades da Guanabara”, planeja o maestro, que adverte: ainda não consultou Moacyr Luz, Paulo César Pinheiro e Aldir Blanc, autores do samba.

Os meninos chegam ao ensaio com a música estudada e incentivados pelos pais. O caçula da turma Gabriel Oliveira da Silva, vem do Parque Alegria e quer ser baterista profissional. “Gosto de tamborim e de ficar com os colegas”, afirma. Seus gêneros preferidos são rock e pagode (Zeca Pagodinho é seu ídolo) e ele vinha de um outro projeto musical. Ana Jéssica também tem experiência. Alta e desenvolvida para seus 13 anos, já saiu na bateria da Paraíso do Tuiuti, pois mora no morro que dá nome à escola de samba. “Vim porque me falaram que era legal, mas é melhor do que eu pensava”, diz. “Meus pais gostam porque com as aulas fico mais em casa e menos na rua.”

Raí Gomes Mesquita, de 12 anos, é quase menino prodígio. Já está na 7ª série e foi selecionado entre centenas de alunos para estudar no Colégio São Bento, instituição religiosa que forma as elites cariocas. Chegou sabendo tocar flauta, dedica-se ao ensino formal e ao de música, mas não sabe se quer ser profissional. “É cedo para decidir”, responde , compenetrado. “Melhor estudar primeiro.”

Marly, a diretora da escola, diz que as aulas têm melhorado até as relações das crianças com a família. “Muitas trabalham e os pais ou padrastos relutaram em deixá-los entrar para o projeto”, conta. “Agora, têm orgulho de ver os meninos fazendo música e até começaram a participar da vida escolar deles.”

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