Placas de identificação de bronze furtadas, partes quebradas ou roubadas, sujeira e cheiro de urina. Esse é o cenário comum a vários monumentos da cidade de São Paulo -dos 400 existentes, 63 estão em má situação e são prioridade do DPH (Departamento do Patrimônio Histórico) nas parcerias do projeto Adote uma Obra Artística. Na praça Júlio Prestes, na região central, o monumento ao engenheiro Alfredo Maia teve os detalhes em bronze, que representavam ramos de café, furtados, a placa de identificação foi pichada -prejudicando a leitura- e há garrafas quebradas no chão. Quem se interessa em olhar a obra de perto, é afastado pelo forte cheiro de urina. No largo do Arouche e na praça da República (centro), bustos foram furtados -um deles é a cabeça do presidente americano John Kennedy. No Arouche, quatro placas de identificação foram levadas e, até agora, não houve reposição. Também há pichações em algumas bases. “Acho que é uma questão de educação, de falta de cultura. Quem degrada muitas vezes não é daqui e não valoriza”, disse o contador Rogério Selis, que trabalha perto do largo. A secretária Angélica Schiekler, passou ontem pela praça da República e percebeu a ausência dos bustos. “A única solução seria colocar guardas 24 horas por dia.” Um outro problema prejudica dois pontos: abelhas atrapalham a limpeza e o acesso ao monumento Amizade Sírio-Libanesa (centro), e ao painel Paulo Eiró (Santo Amaro, zona sul). Nesse painel, há outro problema grave: o mosaico está se descolando. Segundo a arquiteta Rafaela Calil Bernardes, chefe do laboratório de restauro do DPH, antes de fazer um serviço de manutenção será preciso restaurar a obra. A Fonte Monumental, na praça Júlio Prestes (região central), não funciona mais em razão de problemas hidráulicos e elétricos. “A idéia é que, a partir de uma parceria, ela volte a trabalhar. O local receberia uma atenção muito maior com ela funcionando.” De acordo com Bernardes, o DPH estuda colocar placas de identificação feitas com material sem interesse econômico no lugar daquelas furtadas. Uma das opções é usar granito. Outra intenção do departamento é retirar as grades de quatro monumentos -entre eles, a homenagem a Duque de Caxias, na praça Princesa Isabel- e do jardim Verdi, ambos no centro. Muitas grades foram colocadas, com a intenção de proteger as obras, no período do governo de Jânio Quadros, entre 1984 e 1988. “A experiência mostrou que conseguimos preservar melhor a obra quando ela fica aberta à população. Quanto maior a relação entre a comunidade e o monumento, menor é a depredação.” Hoje, apenas três monumentos estão adotados por empresas ou associações: o monumento a Carlos Gomes, na praça Ramos, o Obelisco, no Ibirapuera, e O Semeador, na Lapa. No total, desde que o projeto foi lançado efetivamente, 20 obras foram adotadas, recuperadas e conservadas. Diálogo com a sociedade A falta de identificação com uma obra ou monumento é um dos principais motivos para que ocorra a depredação, como pichações e roubos, segundo especialistas ouvidos pela Folha. “Quando as pessoas entendem que a arte é delas, cuidam. Mas é preciso ter uma identificação entre a obra e a população. Muitos personagens, mesmo com placas de identificação, não são significativos”, afirmou o professor de arte pública João J. Spinelli, 56, que dá aulas na USP (Universidade de São Paulo) e na Unesp (Universidade Estadual Paulista). Para Spinelli, o entendimento sobre arte aumentaria se as obras fossem levadas para a periferia. “A arte está apenas na região nobre e não faz parte do universo de milhões de pessoas”, disse. De acordo com Spinelli, as obras ficam muitas vezes abandonadas, sem iluminação e limpeza adequada na cidade. A opinião é a mesma da artista visual Lilian Amaral, diretora do projeto Museu Aberto. “Um ambiente deteriorado convida à deterioração.” Ela aprova a retirada das grades das obras públicas. “Pior do que a depredação é a indiferença. Com a grade, elas deixam de criar um diálogo com a população e são esquecidas.